O desmatamento na Amazônia já foi considerado uma situação fora de controle. Índices recentes, porém, indicam tendência de redução, devido principalmente aos mecanismos de controle implementados e as pesquisas científicas que viabilizaram um monitoramento eficaz das florestas.
São várias vertentes de soluções nascendo dentro das universidades e uma delas, a que auxilia a conter a extração ilegal de madeira no Brasil, foi destacada pela edição de 6 de janeiro de 2025 da revista Nature Sustainability, uma das mais importantes publicações científicas do mundo.
Um dos autores do artigo e coordenador do projeto é o professor Luis Gustavo Nonato, do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC/USP-São Carlos) e pesquisador do CEPID-CeMEAI.
Segundo ele, a base do estudo está na análise da rede de comércio madeireiro no Brasil.
“Ao implementar mecanismos de controle e regulamentações, o governo brasileiro conseguiu impactos positivos nas taxas de desmatamento. Ao mesmo tempo, produziu dados importantes sobre o comércio madeireiro, uma vez que todo produto resultante da extração de madeira, desde toras brutas até madeira processada, que devem ser registrados nos sistemas de controle a fim de serem transportados e comercializados, permitindo a modelagem e análise da rede madeireira ao longo do tempo”,
disse.
Nonato observa que o grande desafio foi a integração de dados oriundos dos três principais sistemas de controle operando no Brasil. “Este estudo integra dados desses sistemas para criar redes de comércio de madeira, que ajudam a identificar empresas ou grupos que operam fora dos padrões esperados. Também propomos um método para rastrear prováveis cadeias de suprimentos de empresas madeireiras, abordando preocupações governamentais de longa data sobre a rastreabilidade da madeira”, explicou o autor.
Entre os resultados, o estudo demonstra que certas componentes da rede de comércio de madeira operam sem conexões com florestas licenciadas, sugerindo que madeira não registrada é inserida nesses componentes, o que é ilegal.
“Mostramos ainda como a análise da cadeia de suprimentos pode aumentar consideravelmente a confiança de consumidores na legalidade dos produtos de madeira adquiridos”.
O trabalho publicado na Nature Sustainability foi desenvolvido em parceria com Victor Russo, Bernardo Costa, Felipe Moreno Vera, Guilherme Toledo, Osni Brito de Jesus, Robson Vieira, Marco Lentini e Jorge Poco.
“A abordagem proposta faz uso de dados já existentes nos sistemas de controle, evitando o emprego de tecnologias economicamente custosas e de difícil implementação. Sistemas de rastreamento mais eficientes tendem a reduzir fraudes. Além da redução do desmatamento ilegal em si e preservação da biodiversidade, a confiabilidade sobre a origem dos produtos adquiridos aumenta a competitividade da madeira amazônica no mercado global, atraindo investimentos sustentáveis que fortalecem o setor. Estamos contribuindo ainda com a melhoria nas condições de trabalho e beneficiando as comunidades locais, uma vez que a extração e o comércio ilegal fomentam conflitos sociais que impactam principalmente as populações mais vulneráveis”.
Outro fator importante a ser destacado, segundo o pesquisador, é o fato do modelo proposto ser adaptável a outros contexto, viabilizando soluções para problemas semelhantes que envolvam a modelagem e análise de redes comerciais e cadeias de suprimentos, abrindo caminho para projetos novos.
Com informações e imagens do CeMEAI/USP
Imagem de capa: Pixabay
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