O uso de drones para apoiar a prestação de serviços públicos nas cidades é uma tendência crescente, impulsionada pela integração de inteligência artificial (IA), sensores distribuídos e conectividade avançada. Esses sistemas permitem uma gestão urbana mais eficiente, resiliente e sustentável, facilitando, entre outras coisas, o monitoramento ambiental, a otimização do tráfego, a vigilância e a automação de tarefas como a coleta de lixo.
Estudos de caso destacados na literatura incluem o SmartCityPHL, na Filadélfia, que utiliza drones e sensores em postes de iluminação pública para coletar e processar dados ambientais e de mobilidade em tempo real; o SwarmCity, em Madri, que utiliza enxames coordenados de drones com tecnologia de IA para monitorar o tráfego, o congestionamento e a qualidade ambiental; e a iniciativa na cidade de Songdo, Coreia do Sul, que integra drones à infraestrutura inteligente para automatizar a gestão de resíduos.

A operação desses sistemas apresenta complexidades que devem ser cuidadosamente consideradas caso se decida adaptá-los a outras cidades. Para começar, o planejamento e a coordenação de rotas de UAVs exigem algoritmos sofisticados para garantir cobertura eficiente e segurança aérea. Além disso, gerenciar a vasta quantidade de dados gerados exige uma infraestrutura de processamento local robusta, utilizando Edge Computing ou hospedagem em nuvem, juntamente com análises de IA para extrair informações úteis em tempo real.
Finalmente, os desafios de interoperabilidade entre múltiplos sistemas devem ser enfrentados, assim como os desafios da operação contínua de drones autônomos em áreas populosas. Aceitar essas complexidades é um preço inevitável a pagar, dada a tecnologia avançada e a coordenação meticulosa que determinam a adoção e a eficácia de projetos complexos em áreas de alta densidade. Em particular, a implementação de inteligência artificial (IA) com drones em projetos atraentes desenvolvidos em grandes cidades enfrenta complexidades que podem ser diferenciadas em três etapas principais do processo de coleta de dados.
- Antes da operação, destacam-se os desafios do planejamento eficiente de rotas para garantir a cobertura ideal do ambiente urbano: SmartCityPHL e Songdo usam dados históricos e sensores fixos para atribuir trajetórias, enquanto o SwarmCity usa algoritmos inspirados no comportamento das aves para se adaptar e criar rotas dinâmicas capazes de responder a mudanças em tempo real.
- Durante o voo, a IA é responsável por monitorar a estabilidade e a segurança dos drones, evitar obstáculos e coordenar a cooperação entre as unidades de voo. Isso é especialmente complexo no caso do SwarmCity devido à comunicação limitada dentro dos enxames e à cobertura simultânea necessária. No SmartCityPHL, o processamento local (Edge Computing) permite análises imediatas para acelerar a resposta a eventos urbanos; em Songdo, a IA opera em um ecossistema integrado com sensores de IoT, facilitando tarefas específicas, como a coleta automatizada de lixo por meio de rotas otimizadas baseadas em big data e modelos preditivos.
- Após a conclusão das rotas e da coleta, a complexidade se transfere para os sistemas de gerenciamento e análise de dados em cada empreendimento. O projeto SwarmCity gerencia grandes volumes de dados simultâneos de múltiplos drones, utilizando aprendizado de máquina para detectar eventos urbanos críticos. A solução oferece uma interface avançada de realidade virtual para interação homem-máquina, aumentando a complexidade do software e a integração operacional. Dada a natureza do serviço, o SmartCityPHL concentra-se no processamento descentralizado para agilizar a análise e os alertas às autoridades, sintetizando dados heterogêneos que impactam a gestão ambiental e a mobilidade sustentável. Por fim, o projeto da cidade de Songdo se destaca por executar decisões automatizadas dentro do sistema urbano, ajustando dinamicamente as rotas de coleta e o controle de energia, exigindo forte integração e interoperabilidade dos múltiplos subsistemas conectados.

Essas tecnologias estão prontas para revolucionar a gestão de serviços urbanos por meio de automação, análise preditiva e conectividade em tempo real, impulsionadas pela inteligência artificial e pela integração de múltiplas fontes de dados. A incorporação de drones inteligentes promete otimizar significativamente a gestão urbana, melhorando a mobilidade, a segurança e a qualidade ambiental. A capacidade dessas inovações de monitorar o tráfego em tempo real e detectar incidentes permite intervenções mais ágeis e precisas, promovendo um fluxo tranquilo do tráfego rodoviário e reduzindo as emissões. Na área de segurança, elas expandem a cobertura de vigilância e aceleram as respostas, embora representem desafios significativos em termos de privacidade e controle.
Além disso, a coleta de dados ambientais, embora crucial para a tomada de decisões, requer análise rigorosa e gestão responsável para evitar interpretações errôneas ou uso indevido. Portanto, a implantação de drones inteligentes deve equilibrar a eficiência tecnológica com critérios éticos e regulatórios que protejam o bem-estar urbano.
Na América Latina, o impulso emergente para a adoção de drones com inteligência artificial no monitoramento ambiental, segurança e gestão urbana promete transformar a gestão das cidades. No entanto, esse processo enfrenta desafios significativos: marcos regulatórios insuficientes, restrições orçamentárias e a necessidade de fortalecer as capacidades institucionais. A colaboração entre universidades e governos locais é apresentada como o motor essencial para superar essas barreiras e avançar rumo a uma transformação tecnológica responsável e sustentável. Uma estratégia de alianças com atores comprometidos que concilie incentivos é essencial para que a região construa cidades inteligentes e resilientes, capazes de enfrentar os crescentes desafios sociais e ambientais com inovação disruptiva e um compromisso ético inabalável.

* Javier Carranza Torres – Economista, desenvolvedor de IA e especialista em conteúdo geoespacial. Possui vasta experiência em treinamento em dados geoespaciais, integração digital e inovação. Também organiza e faz curadoria de eventos de tecnologia
@geocensosguy
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