A geofísica forense, área que aplica métodos geofísicos para auxiliar em investigações criminais e ambientais é uma forma de a ciência atuar, na prática, ao lado de forças policiais e de defesa civil. As principais tecnologias disponíveis são o Radar de penetração no solo (ou em inglês Ground Penetrating Rdar-GPR ou georadar, magnetometria, métodos elétricos, eletromagnéticos indutivos e sísmica de alta resolução.
A função central da geofísica forense, campo em que o conhecimento científico se alia à perícia criminal, é encontrar corpos enterrados clandestinamente, identificar objetos ocultos sob a terra e auxiliar na reconstrução de crimes e tragédias. No Brasil, um dos nomes que mais se destacam na área é o professor Jorge Luís Porsani, do IAG-USP, especialista no uso do radar de penetração no solo, o Ground Penetrating Radar (GPR).
“A geofísica forense está voltada principalmente para encontrar corpos enterrados clandestinamente e desvendar crimes. A polícia científica tem usado a metodologia de alta resolução chamada de GPR, que é um método geofísico não destrutivo de alta frequência e alta resolução em profundidades rasas. Ele é muito usado para encontrar corpos enterrados em locais clandestinos, seja dentro de casa ou valas coletivas”,
explica Porsani.
Segundo ele, a tecnologia não serve só para estudos forenses, mas também para estudos geológicos, geotécnicos, ambientais, planejamento urbano e estudos arqueológicos tanto em sítios terrestres quanto em sítios submersos.
Quando o georadar ganhou fama mundial
Entre os casos mais conhecidos do uso do GPR está o episódio da chamada “Casa dos Horrores”, em Londres, em 1994. “Foi quando o GPR se tornou conhecido mundialmente para estudos forenses”, relembra o professor. “A polícia londrina resolveu investigar, entrou na casa e fez uma varredura com o radar. No quintal, encontraram uma anomalia, escavaram e acharam uma ossada. Depois, em outros cômodos, mais corpos foram encontrados. Uma das vítimas estava enterrada dentro de uma parede. Isso ganhou destaque mundial e mostrou que o método podia ser aplicado com sucesso para solucionar crimes”, reforça Porsani.
No Brasil, além de investigações policiais sigilosas, Porsani atuou em trabalhos como a busca por desaparecidos políticos da ditadura militar. Em Xambioá, no Tocantins, a equipe encontrou ossadas com marcas de execução.
“Foi feito um levantamento em um cemitério clandestino. Os pesquisadores encontraram uma anomalia, que foi escavada e apareceu a ossada com um crânio perfurado na nuca. Não dá para afirmar se foi crime da ditadura ou acerto de contas, mas o método permitiu localizar”,
complementa.
Brumadinho: o desafio da lama
O rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, em 2019, representou um desafio científico e ético.
“Pelas imagens de TV, sabia que a lama com alto teor de argila e água impediria o funcionamento do GPR. Mas não tínhamos o direito de recusar o chamado. Temos um compromisso com a sociedade. Assim, fomos”,
afirma o Prof. Porsani.

“Eu costumo dizer aos alunos: não se pode simplesmente responder ‘não’ a um pedido desses. Como servidor público, meu dever é servir à sociedade. Fui claro com o diretor do IAG na época, Prof Pedro Dias: nas condições normais, tudo indicava que o método GPR não funcionaria. Mas, para afirmar isso, nós teríamos que ir ao local e testar. Fizemos um experimento prático e vimos que, naquele material (minério de ferro misturado com argila e areia, parcialmente seco) o sinal penetrava até três metros”,
explica.
Durante cinco dias, a equipe mapeou anomalias, mas não encontrou corpos ou veículos soterrados. Ainda assim, o trabalho direcionou as buscas.
“Nosso objetivo era aliviar a dor das famílias, ajudando a encontrar objetos ou corpos. Não conseguimos esse sucesso, mas conseguimos indicar áreas onde não havia nada, poupando esforços e recursos. O GPR serviu para mostrar onde não valia a pena continuar escavando. Isso também é contribuição”,
ressalta.
Agulha no palheiro, desde que seja no palheiro certo
O professor faz questão de ressaltar que o método não garante resultados em todas as situações.
“A gente costuma dizer que a geofísica consegue encontrar até uma agulha em um palheiro, desde que você esteja no palheiro certo. Em locais extensos, como o Parque Nacional do Iguaçu, onde buscamos guerrilheiros mortos na ditadura, se não estivermos exatamente sobre o ponto de enterro, a chance de achar é mínima. Além disso, há a ambiguidade: uma mesma resposta do radar pode ser uma ossada, um tronco de árvore fossilizado, um arado ou uma lata de tinta. Só a escavação confirma”,
conta.
O futuro: Drones e IA
Jorge Luís Porsani conta também que a evolução tecnológica deve ampliar o potencial do GPR.
“O futuro é usar drones para carregar as antenas e mapear grandes áreas. Já existem drones que levantam até 100 quilos. Com eles, será possível cobrir terrenos rapidamente, inclusive inacessíveis a pé, exatamente como foi o caso da área de abrangência do rompimento da barragem em Brumadinho em 2019. A inteligência artificial vai ajudar na interpretação dos dados, mas não substitui o geofísico, o intérprete. É preciso conhecimento prévio de geologia e de métodos geofísicos. Não é só colocar na ‘máquina de moer carne’ e esperar a resposta”,
completa.
Aprendendo na prática
No IAG-USP há áreas de treinamento chamadas sítios controlados de geofísica rasa, onde são enterrados objetos de diferentes materiais e tamanhos para simular alvos reais.
“Temos dois sítios controlados e vamos construir o terceiro no início de 2026. Não podemos enterrar ossadas humanas para simular estudos forenses, mas simulamos a decomposição de um corpo com um porco, animal de massa corporal semelhante à de um humano. Foi monitorado por um ano, gerando uma tese de doutorado e artigos científicos. É assim que treinamos para lidar com situações reais”,
conclui.
Com informações e imagens do IAG-USP
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