A Internet, chamada às vezes de WWW (World Wide Web) ou rede mundial de computadores, pode também ser chamada de WWW (World Wide Wait) ou espera mundial. O aumento no tempo de respostas a consultas à Internet repercute em aplicações geográficas, já que estas dependem de altas taxas de transmissão, uma vez que arquivos gráficos, tanto no formato vetorial como no matricial, chegam a ter milhões de bytes.

O advento da Internet 2 é uma esperança para acabar com tempos de resposta que dificultam o uso de aplicações geográficas na Internet. A Internet 2 é um esforço conjunto de cerca de 120 universidades americanas para desenvolver tecnologias que impulsionarão o uso da Internet no futuro. Estes esforços, com o apoio da indústria e do governo, estão ajudando a desenvolver tecnologias como o IPV6, que deverá substituir o protocolo anterior, o IP. Com o crescimento espantoso da Internet, que dobra a cada ano, o número de endereços (nome para novas máquinas ligadas à rede) disponíveis estava acabando. O IPV6 vai permitir um número maior de endereços que o IP (um crescimento fantástico, na ordem de 296 ) . Além disto, vai permitir a implantação de novos serviços como áudio e vídeo ao vivo com mais eficiência – novo protocolo de comunicação, multicasting e garantia de qualidade de serviço. Em resumo, a Internet 2 significará serviço mais rápido e garantido. Obviamente, sua implantação exigirá investimentos financeiros e comprometimento de diversos setores que usam a Internet hoje. A Internet pode ser vista como uma máquina em que se coloca dinheiro de um lado e se obtém serviços de outro.

Os novos serviços da Internet 2 significam oportunidade para bibliotecas geográficas digitais multiplicarem sua utilidade. A alta velocidade de taxas de transmissão e canais com taxas garantidas de transmissão vão permitir que serviços como vídeo e áudio passem de pesquisa à realidade. Informações hoje disponíveis apenas em formato texto poderão ser visualizadas de maneira inteiramente diferente. Em vez de páginas mortas, o acesso a banco de dados e mapas será altamente interativo e visual. Videoconferências, palestras, consultas com especialistas, todo o tipo de comunicação on-line vai implicar interface diferente das atuais, em que o texto é o ponto central. Estas interfaces hoje pesquisadas estarão disponíveis quando a Internet 2 entrar em funcionamento. No final deste ano, quase todas as universidades participantes já deverão ter uma conexão estável com a Internet 2. Em algumas delas, multimídia e alguns outros novos serviços já funcionam.

Implicações da nova tecnologia são difíceis de prever. Na Internet 2, será possível transmitir continuamente informações como atualizações de bancos de dados, publicações, telemetria e dados de sensores para comunidades interessadas, em vez de manter estas informações centralizadas em um endereço ou site que deve ser buscado pelo usuário.

Para que aplicações geográficas possam ser bem aproveitadas na Internet 2, é preciso que as informações que trafeguem na rede sejam padronizadas. Para isto, estudos e desenvolvimento técnicos de grupos como o Open GIS são fundamentais. A idéia central desenvolvida pelo consórcio Open GIS gira em torno de um padrão denominado OGIS (Open Geodata Interoperability Specification), que pretende definir uma camada de neutralização de diferenças semânticas e conceituais entre diferentes classes de software que lidam com dados geográficos/espaciais.

O consórcio Open GIS foi criado a partir da idéia de que seria possível padronizar a interface entre cliente e servidor de dados geográficos. Assim, programas cliente especializados em produção cartográfica, análise de sistemas de transportes ou gerenciamento de infra-estrutura poderiam acessar exatamente as mesmas bases de dados, gerenciadas por diferentes tipos de programas servidores – relacionais, orientados a objetos ou topológicos. Desenvolvedores especializados em bancos de dados poderiam, então, investir no suporte a dados geográficos e desenvolvedores de aplicações deixariam de desperdiçar esforços na implementação de alternativas de gerenciamento de dados.

O desenvolvimento da Internet 2 e do padrão Open GIS poderia dar nova perspectiva para trabalhar com dados geográficos: haveria grandes servidores de dados geográficos, com possibilidade de entregarem dados de natureza diversa, mas com formato padrão e interfaces independentes que saberiam ler estes dados.

Um esquema desta configuração seria o seguinte:

Esta configuração permitiria o aparecimento de grandes vendedores de dados e serviços geográficos e independência por parte do usuário, tanto na escolha de bancos de dados geográficos, como de interfaces para acesso a estes dados. Isto transformaria os atuais programas geográficos em ferramentas efetivas de trabalho para pessoas que usam a geografia em seu dia a dia.

Frederico Fonseca é engenheiro mecânico, tecnólogo em Processamento de Dados e mestre em Administração Pública. Participa da equipe de geoprocessamento da Prodabel, responsável pela implantação do GIS da Prefeitura de Belo Horizonte. email: fred@pbh.gov.br