Por Valther Xavier Aguiar

"Um processo de seleção combinando técnica e preço,
já previsto na legislação brasileira e estranhamente pouco
aproveitado por este setor, começa a ser utilizado com sucesso"

Valther Xavier Aguiar é Engenheiro Cartógrafo e Diretor Técnico da Esteio Engenharia e Aerolevantamentos S.A

O mercado brasileiro de geotecnologias, que nos seus poucos anos de existência já acumula inúmeros exemplos de fracasso e várias histórias de sucesso, mostra sinais claros de amadurecimento.

A globalização, as agressivas políticas comerciais dos fornecedores, a escassez de recursos e a infinidade de alternativas tecnológicas exigem do comprador processos mais seletivos para contratação de produtos e serviços de geotecnologias.

Hoje, um mesmo trabalho pode ser realizado por diferentes processos tecnológicos com custos, resultados e qualidade completamente diferentes. Estes aspectos vêm sendo cada vez mais discutidos e divulgados em congressos, seminários e publicações pelo mundo todo. Porém uma dúvida que parece estar começando a preocupar muito o mercado é: qual a melhor forma de contratar?

É normal que uma das falhas citadas como causa do insucesso de projetos seja o processo de seleção. Num processo de compra, seja ele privado ou público, ainda se dá importância exagerada ao menor preço apresentado. Custo é realmente um fator importante, mas não garante que o melhor serviço será contratado. Um processo de seleção combinando técnica e preço, já previsto na legislação brasileira e estranhamente pouco aproveitado por este setor, começa a ser utilizado com sucesso. Vale salientar que em diversos setores do mercado brasileiro já é praxe só se utilizar desta modalidade para a aquisição de produtos e serviços.

A modalidade de técnica e preço consiste em atribuir nota técnica e nota de preço ao produto ou serviço e combinar as duas de forma a obter uma nota final que seria classificatória. Usualmente a ponderação da nota técnica fica entre 70 e 90% e a nota de preço entre 10 e 30%. Isto agrega inúmeras vantagens na compra, pois inclui fatores como conhecimento do trabalho, experiência anterior, metodologia e organização dos trabalhos, prazos, equipamentos e recursos técnicos, métodos de gestão que assegurem a qualidade dos serviços, equipe técnica e até mesmo um exemplo do que será feito pode ser exigido. Tudo isto combinado com o preço é que vai definir o vencedor. Não é à toa que o Banco Mundial e BID exigem esta modalidade para todos os projetos financiados por eles.

A única desvantagem, se é que pode ser assim considerada, é que para o serviço público a legislação exige um período mínimo de 45 dias contados a partir da publicação oficial até a data para entrega das propostas. Nesta modalidade pode-se até definir qual será o preço máximo permitido, e assim fica descartada a possibilidade da contratação com preços abusivos.

O mercado já possui vários exemplos, que na sua grande maioria tiveram sucesso. Podem-se citar aqui alguns deles:
 em 1995, o Município de Goiânia num consórcio formado por Celg, Comdata, Saneago e Telegoiás, contratou os serviços de uma empresa que foi classificada tecnicamente em primeiro lugar. O seu preço porém era o quarto melhor. Após concluído o trabalho, por diversas vezes o processo de compra foi citado como uma das principais causas do seu sucesso;

 o IPPUC de Curitiba recentemente contratou os serviços do primeiro colocado na pontuação técnica, sem mesmo conhecer os preços dos demais concorrentes, pois o preço apresentado estava dentro do orçamento previsto;

 a Petrobrás, mesmo sendo estatal, possui para alguns casos processos de seleção meramente técnico, pois o preço acaba sendo negociado ou enquadrado no orçamento existente.

O mercado das geotecnologias vem sofrendo grandes alterações com o surgimento de processos tecnológicos alternativos, ditos de baixo custo, e com isto surge um espaço muito grande para a picaretagem. Dentro desta visão, um processo mais seletivo de contratação talvez seja a única forma de minimizar os riscos para quem compra ou contrata.

Tudo o que um fornecedor de produtos e serviços pode desejar do seu mercado é que os compradores sejam sérios, competentes e exigentes. Desta forma, uma empresa com as mesmas características e com alto nível tecnológico será sempre altamente competitiva. Assim, a melhor estratégia comercial que uma empresa pode desenvolver é atender seu cliente com o melhor produto, preço, qualidade e confiabilidade.