Com criatividade é possível democratizar a Internet no Brasil, fazendo dela um instrumento de educação e desenvolvimento

Mas é claro que não ia ficar só nisto. É preciso também velocidade. Então vamos também comprar nossa conexão de alta velocidade pela TV a cabo ou pela linha de alta velocidade da companhia telefônica. Bem, esta é a nossa luta para ter acesso a Internet um pouco mais rápido e também, é claro, sem ter de pedir para nossos filhos e filhas permissão para usar o computador para conferir o e-mail ou o seu jornal preferido.

Mas é interessante que geralmente quem tem o acesso de alta velocidade em casa resolve comprar também a rede sem fio. Isto levou a uma nova idéia que está sendo chamada de acesso aberto à Internet. Principalmente em grandes cidades, onde residências particulares são altamente concentradas, como por exemplo, em grandes prédios no centro, o alto número destas conexões sem fio está levando ao aparecimento de uma rede virtual. Ou seja, você pode pegar uma carona na rede dos outros. Na verdade muitos são mesmo caroneiros ou penetras, mas outros estão simplesmente aproveitando a generosidade alheia. O fato é que a banda disponível para residências fica muitas vezes inutilizada e algumas pessoas não vêem problema nenhum em dividi-la com os vizinhos ou até com desconhecidos.

Gilberto Câmara mencionou outro dia em sua coluna a possibilidade da criação de um Geopster, um Napster para dados geográficos. O leitor deve estar se perguntando: "É verdade, o Gilberto falou isto, mas o que isto tem a ver com nosso assunto aqui?". Calma, eu explico. É que isto me lembra outra vez este lado meio anárquico, meio mutirão da Internet. As coisas que acontecem na Internet, principalmente as coisas inesperadas, mostram como a tecnologia tem seu lado positivo. Ela ajuda o ser humano a expressar suas idéias. Como é um ambiente, pelo menos na maioria das vezes, livre, novas idéias estão sempre surgindo. Coisas como o Napster que permitem que as pessoas se associem como numa cooperativa ou mensageiros instantâneos como o ICQ mostram que a tecnologia pode aproximar as pessoas e facilitar o intercâmbio de bens e de idéias.

Mas voltando ao nosso assunto que é como conseguir uma Internet mais rápida para que a gente possa ter acesso a dados geográficos mais facilmente. Como vimos, a solução técnica já está disponível, mas e a solução financeira? A verdade é que é caro comprar um Hub sem fio e mais uma placa de rede sem fio para cada micro da casa. A conexão de alta velocidade também não é barata. Tem a escola para pagar, o supermercado, o conserto do carro e assim vai. Então a Internet de alta velocidade vai ficando para depois. Para nós que trabalhamos com geoprocessamento o problema é mais complexo ainda. Além dos dados em formato gráfico temos ainda as imagens. Enquanto os formatos de armazenamento de vetores e imagens foram ficando mais eficientes, isto foi contrabalançado com o aumento da disponibilidade das informações.

Os serviços estão aumentando também na Internet. Hoje você pode encontrar vários sítios com imagens de graça. Mas conseguir uma conexão discada a partir de casa muitas vezes é difícil. A começar só para conseguir entrar em uma Internet nas horas em que os impulsos estão mais baratos é uma luta. Mas vamos supor que você conseguiu. Agora é torcer para ser atendido por um modem mais rápido de 56K em vez de cair em um modem de 28K. Agora é a vez de tentar entrar na página que contém as imagens que você quer. Carregar imagens de alta resolução é outro problema. Embora nós tenhamos hoje um bom número de sítios com imagens a disposição, tais como o vista@aérea, para a gente poder realmente usá-los ainda falta velocidade nas conexões de casa.

O interessante é que a Internet está caminhando em outra direção. Os novos serviços, ou melhor, os serviços do futuro, estão concentrados na área de entretenimento. Um dos planos desta indústria é fornecer diversão pela Internet. Filmes, músicas, jogos, TV e rádio, tudo isto virá pela Internet no futuro. Mas a tecnologia que está aí precisa mudar. Umas das coisas que está acontecendo é a tal da Internet 2. Uma iniciativa de 130 universidades americanas (em junho de 2001 pelo menos uma universidade em cada estado americano estava ligada à Internet 2) em conjunto com a indústria de computadores e o governo americano para desenvolver a tecnologia da Internet do futuro.
Aplicações em educação como ensino à distância são um dos focos principais. Para isto é necessária uma larga banda para transmissão dos dados, transmissão simultânea de um ponto para vários, e garantia de entrega. Se estes pontos forem alcançados a Internet do futuro vai trazer mais mudanças ainda em nossas vidas principalmente na área de entretenimento e educação. Veja na página da RNP (Rede Nacional de Ensino e Pesquisa) mais notícias sobre a Internet 2 e a participação brasileira nesta iniciativa (http://
www.rnp.br/rnp2/rnp2-internet2.html).

Acompanhando a Internet 2 vem também a mudança do protocolo de comunicação entre os computadores ligados à Internet. Um protocolo decomunicação é um código para que dois computadores se entendam. O protocolo atual foi projetado quando as linhas de comunicação não eram tão confiáveis como hoje, as velocidades eram muito mais baixas e a quantidade de dados trocada era muito menor. Tudo isto mudou e um protocolo mais eficiente foi projetado, o IPV6 ( Internet Protocol 6-Ipv6 ). Este protocolo vai ajudar a diminuir um pouco o gargalo, já que está adaptado às condições atuais.

Mas voltamos à pergunta do título: "É pra todo mundo?" Num país pobre como o nosso, como é que vai ser? Eu escolhi uma página da RNP (http://www.rnp.br/news
gen/9806/wireless-wan.shtml) para dar esta resposta. Só com criatividade é que vamos popularizar a Internet no Brasil e então vamos fazer dela um instrumento de democratização, educação, e desenvolvimento. No artigo "Redes Sem Fio: Uma Forma Eficiente de Conexão à Internet", Danton Nunes e Ethy Henriques Brito da Internexo contam a experiência da implementação de uma rede sem fio na Universidade de Taubaté (UNITAU). É um exemplo de que nós brasileiros estamos dominando a tecnologia e temos a criatividade necessária para implementá-la com adaptações às condições brasileiras.

Frederico Fonseca é doutor em Ciência da Informação Espacial pela Universidade do Maine e atualmente é professor na Escola da Ciência da Informação e Tecnologia da Penn State University nos Estados Unidos.fredfonseca@ist.psu.edu