Imaginemos a seguinte situação: o presidente Lula recebe uma comissão de representantes da comunidade de geoinformação. A reunião começa com a pergunta sobre o motivo da audiência. Um dos membros da comissão diz que o governo precisa retomar os investimentos no mapeamento sistemático. Outro diz que é preciso criar formas de incentivo ao setor, reduzindo as tarifas de importação de equipamentos. Outro fala que o governo deve criar uma base urbana de dados geográficos única. Finalmente um último, mais exaltado, fala que o país desperdiça recursos com mapeamentos sobrepostos e que são incalculáveis os prejuízos com a falta de dados geográficos confiáveis.

Nesta altura, o já impaciente presidente faz duas perguntas: Este setor está devidamente organizado através de algum tipo de associação que o represente legitimamente? Há um estudo detalhado de soluções aos problemas apresentados? Como as respostas não foram objetivas, Lula pediu que se marcasse uma nova reunião quando o setor pudesse apresentar de forma mais organizada suas reivindicações e projetos.

Lula destacou que algumas informações básicas têm que ser conhecidas, como quantos profissionais e empresas atuam na área, quanto movimentam na economia, quanto o país perde não tendo cartografia atualizada, quanto custaria este investimento, quem seriam os beneficiados e qual o impacto nas importações que representa a área de equipamentos. Finalizou afirmando que, pelo que pôde perceber, a culpa pelas dificuldades que o mercado de geoinformação atravessa cabe primeiramente ao próprio setor, que não teve capacidade de se organizar e reivindicar as mudanças. Além disso, lembrou o presidente, falta um estudo explicando por que, como e o que deve ser feito não só pelo poder público mas por toda a sociedade, incluindo usuários, produtores e as demais instituições envolvidas.

A situação acima é fictícia, mas representa bem o que poderia ter acontecido, caso a audiência estivesse marcada para este início de ano. A cada evento da área, debates levantam os problemas do setor. O que falta é começar a apresentar propostas de solução e encaminhá-las de forma organizada para as entidades governamentais. Pode parecer óbvio, mas isto nunca foi feito de forma plena, envolvendo toda a sociedade e não só os interesses deste ou daquele grupo, que quando atua isoladamente acaba derrapando no escorregadio terreno do corporativismo.

Temos que nos organizar e formular propostas concretas. Já temos instituições que podem representar bem este papel. Em 2002 foi criada a GITA Brasil – Associação de Tecnologia e Informação Geoespacial (leia entrevista na página 46) e este ano a grande novidade é a SBG – Sociedade Brasileira de Geomática. São duas entidades com perfil de atuação não conflitante e que estão nascendo num momento novo e oportuno.

Proponho que as novas entidades, bem como instituições tradicionais como a SBC – Sociedade Brasileira de Cartografia e ANEA – Associação Nacional de Empresas de Aerolevantamentos, junto com Inpe, IBGE, CPRM, Incra, entre outras, se unam para debater (bem ao estilo do governo atual), pensar e agir para garantir o futuro deste mercado. A união de forças deve resultar em um projeto consistente e viável para ser levado não só ao presidente, mas apresentado à sociedade, afinal a maior beneficiária das transformações que as geotecnologias podem trazer.

Emerson Zanon Granemann é engenheiro cartógrafo e editor da infoGEO. emerson@mundogeo.com.br