Palestrantes e expositores de renome atraem mais de 3 mil pessoas à maior feira do setor na América Latina.

Por Andrea Greca Krueger.

A alta qualidade dos expositores, palestrantes e congressistas foi o fator determinante para o sucesso registrado no GEOBrasil Summit 2006, realizado em São Paulo entre 18 e 20 de julho, afirmam os organizadores.

“Recepcionamos um público de alto nível nas palestras e certamente estavam presentes na feira 80% das marcas representativas do setor” comemora José Danghesi, diretor da Alcantara Machado Feiras de Negócios. “Essas empresas atualmente movimentam, juntas, cerca de R$ 800 milhões no país, segundo a GITA Brasil”, afirma.

Mais de 3 mil pessoas, entre técnicos, pesquisadores e estudantes, passaram pelo evento de geotecnologias mais importante da América Latina à caça das últimas novidades do mercado, mostradas em dezenas de workshops, palestras e na feira, que reuniu mais de 50 expositores representando uma centena de marcas.

Este ano o simpósio foi estruturado na forma de um conglomerado de eventos paralelos: o GEOBrasil – 7° Congresso e Feira de Geoinformação, o ExpoGNSS – 3° Congresso e Feira Internacional de Posicionamento e Navegação por Satélite, o GEO Óleo e Gás – 3° Seminário e Exposição Internacional de Geotecnologias para Petróleo e Gás e o GEOCidades – 1° Seminário Internacional de Geoinformação para Gestão de Cidades.

Sintonia

“O sucesso do congresso pode ser creditado à sintonia da comissão técnica formada por especialistas do setor que escolheram os temas e os palestrantes que mais interessavam ao mercado. Os assuntos mais procurados pelos congressistas foram os debates e painéis de gestão de cidades, software livre, infra-estrutura de dados espaciais e GNSS, formado pelos sistemas de navegação por satélite GPS, Glonass e Galileo”, comenta Emerson Granemann, coordenador do congresso.

Para Eduardo de Rezende Francisco, presidente da GITA Brasil, o evento contou com o melhor congresso de geotecnologias dos últimos tempos. “A disposição da feira, próxima aos auditórios do congresso, trouxe mais proximidade entre palestrantes e debatedores, que puderam estender suas discussões para o ambiente da feira. O público, cada vez mais experiente e orientado à solução de seus requisitos de negócio, foi brindado com uma seleção bem atraente de palestras, com direito ao tão aguardado debate entre os representantes do Google Earth e do Windows Live Local (antigo Microsoft’s Virtual Earth)”.

“Pingos nos is”

Os painéis mais concorridos foram os que serviram para colocar os “pingos nos is” de algumas questões polêmicas que sacudiram o mercado da geotecnologia no último ano. A presença maciça do público nos debates Google x Microsoft e Galileo x GPS demonstrou que há lacunas a serem preenchidas antes que o Brasil adote definitivamente a cartografia digital e os sistemas GNSS.

O aguardado confronto entre Google e Microsoft superlotou o auditório 1 do Centro de Convenções Imigrantes, e o público pôde, enfim, desmistificar os dois aplicativos responsáveis pela revolução da cartografia digital que assolou a internet em 2005.

O austríaco Franz Leberl, diretor da Microsoft-Vexcel, e Michael Jones, americano, chefe de tecnologia do Google Earth, Maps and Local, falaram, entre outras questões, sobre a evolução, a utilidade e as dificuldades para manter os programas de mapas virtuais.

Leberl disse que a principal meta do Windows Live Local é possibilitar a navegação em 3D, em realidade virtual. O Virtual Earth foi colocado no ar em 95 – “muito tempo em termos de computador”, avalia – mas continua fiel ao objetivo inicial: ajudar o usuário a encontrar pontos de interesse e direções para chegar a eles da maneira mais rápida. Leberl resume isso como “ideologia das Páginas Amarelas”, cuja principal meta seria algo como “geograficar” o popular guia de endereços que, segundo ele, movimenta 5 bilhões de dólares por ano nos EUA. Quando perguntado sobre a diferença entre o Windows Live Local e o programa da Google, ele vai direto ao ponto: “ a Google tende a comprar dados, enquanto a Microsoft procura criá-los”.

Embora virtualmente concorrentes, ambos fazem coro quando o assunto é a procura por esses dados. “A busca é desesperada e não há o suficiente”, atesta o austríaco. Michael Jones complementa afirmando que mesmo com a maioria das informações atualizadas de três a seis semanas e vindas de diversas fontes, há dados de apenas 1/3 do mundo.

Outra mesa-redonda que teve grande repercussão foi a acareação entre Jean Chenebault, do Galileo Joint Undertaking (GJU), e Jason Kim, representante do GPS (veja box). O painel tratou basicamente de discutir a tão comentada interoperabilidade entre os sistemas – interoperabilidade, aliás, foi um dos temas mais discutidos neste GEOBrasil Summit.

O americano Kim contou que o acordo entre os Estados Unidos e a Europa prevê que GPS e Galileo compartilhem as bandas L1. “Estamos finalizando o trabalho para fazer com que a banda L5 também seja cem por cento compatível com ambos”, disse. Segundo Chenebault, isso vai melhorar a performance dos três sistemas (inclua-se aí o russo Glonass) em disponibilidade, acurácia e continuidade.

Feira e networking

Para os expositores, a feira foi o espaço ideal para ver e ser visto. Muitos atribuem à visitação qualificada a expectativa de negócios futuros, principalmente a partir do aumento e do fortalecimento da rede de contatos.

João Carlos Vassalo, da Threetek, percebe um crescimento do volume de visitantes a cada edição. “Além do aumento de público, quero ressaltar que o evento tem acompanhado o mercado e, da última edição para esta, acredito que os investimentos dos expositores na venda de serviços, projetos e soluções superaram a mera exposição de mapas. O GEOBrasil Summit apresenta hoje um mercado fidedigno às geotecnologias mais debatidas”, analisa.

A Digimapas, que dividiu um grande estande com a Digibase e a Sisgraph, acredita que a iniciativa foi salutar. “Essa disposição na exposição possibilitou a visitação de muitas pessoas de decisão do setor, em especial as oriundas das prefeituras”, afirma Olga Cunha, do departamento de marketing da empresa.

Paulo Cortez Cunha, da Digimapas, destacou, mais uma vez, o nível dos visitantes. “Tivemos um maior movimento em relação à última edição. Notamos, também, que as pessoas que compareceram ao nosso estande têm um alto grau de conhecimento no quesito geoinformação”.

A Imagem aproveitou a oportunidade para anunciar a inauguração de um escritório em Recife, divulgar a nova parceria com a Trimble, lançar produtos e promover palestras. “Apesar da geoinformação ser um assunto não tão difundido no Brasil, esta edição do GEOBrasil comprova que o mercado tem se expandido. Nossas palestras foram muito concorridas”, conta Péricles Luiz Junior, coordenador de comunicação e eventos da companhia de São José dos Campos.

A Orbisat também comemora os resultados, afirmando que a feira possibilitou o estabelecimento de novos contatos, além de ser uma excelente vitrine para divulgar a tecnologia InSAR (Radar Interferométrico de Abertura Sintética) desenvolvida por sua equipe técnica. Para a diretoria, “estar no GEOBRasil é posicionar a marca entre as maiores do setor”.

Políticas públicas de distribuição de dados geográficos

O tutorial de bancos de dados geográficos foi um dos mais disputados. Gilberto Ribeiro Queiroz e Karine Reis Ferreira, pesquisadores INPE, apresentaram detalhes sobre a representação computacional de dados geográficos, descrições sobre GIS, ontologia, interoperabilidade, infra-estrutura e modelagem de dados.

Os especialistas explicaram como funciona o Open Geospatial Consortium (OGC) e seus padrões, bem como os principais sistemas gerenciadores de bancos de dados, bibliotecas para desenvolvimento de aplicativos geográficos, softwares e tecnologias web, com ênfase em programas open source.

Durante a mesa-redonda “Políticas Públicas de Distribuição de Dados Geográficos”, os debatedores ressaltaram a importância da disponibilização gratuita de informações espaciais e que a interoperabilidade entre os sistemas seja obedecida. Uma das propostas para a organização do mapeamento foi a criação de um órgão regulador, como existe atualmente na Austrália. Seria uma espécie de “agência nacional de informação geográfica”, que poderia ser mantida com uma pequena porcentagem vinda do registro de imóveis, para financiamento do mapeamento nacional.

Como há um grande vazio cartográfico no Brasil, o primeiro desafio é obter os dados, com qualidade, para depois definir padrões mínimos. Os representantes do INPE afirmaram que a instituição pertence ao estado brasileiro e não ao governo, e que a política de distribuição de dados não muda com a mudança dos mandatários. O mapeamento do Brasil foi considerado viável, pois há pessoal e processos disponíveis, e ressaltada a função social das geotecnologias.

Outra idéia discutida foi a do habeas software: é preciso que haja tecnologia de acesso aberto a quem quer usar informação geográfica mas não pode comprar. Além do software livre, devem existir também dados e conteúdo livres. Um banco de dados mínimo foi proposto, com a malha censitária, cadastro de logradouros e imagem orbital para todo o território brasileiro. Essa ação poderia ser feita em conjunto com o IBGE para o censo de 2010.

Os especialistas do INPE analisaram também a questão dos mais de 300 milhões de dólares que financiam missões de observação da Terra. O custo desses dados não-utilizados é maior do que disponibilizá-los gratuitamente – idéia que eles resumem com a seguinte proporção: cada pixel guardado é um centavo perdido. Para a próxima câmara do satélite CBERS, de 2.5m de resolução espacial, o instituto quer que os atores do mercado se envolvam para manter a política de distribuição de dados.

Há uma proposta de consórcio internacional, com satélites de resolução espacial em torno de 5 metros, utilização de software livre, dados gratuitos e estações terrenas formando uma rede mundial para estabelecer um mercado de serviços que reverta em pagamento de impostos pelas empresas. A regra número zero do INPE diz que “dado geoespacial com função social não tem dono”.

Gestão de cidades

O sucesso do GEOCidades – 1° Seminário Internacional de Geoinformação para Gestão de Cidades mostrou que há um grande potencial a ser explorado no que diz respeito à aplicação das geotecnologias na administração pública. O evento contou com a participação de representantes de diversos municípios, principalmente de pequenas prefeituras, que buscavam se aprimorar, trocar informações ou apenas alternativas para projetos em andamento.

Emmanuel Carlos de Araújo Braz e Yuri Assis, ambos da Caixa Econômica Federal, mostraram os serviços que a entidade presta, não somente através de seus conhecidos financiamentos, mas também – e especialmente – capacitando técnicos municipais para dar continuidade a trabalhos em curso. O painel de soluções livres para gestão municipal foi particularmente interessante para as prefeituras que não têm verba suficiente.

A próxima edição do GEOBrasil Summit já está confirmada para 17, 18 e 19 de julho de 2007, no Centro de Convenções Imigrantes, em São Paulo. Acompanhe as novidades sobre o evento no portal MundoGEO e no site www.geobr.com.br

Colaboraram: Ágatha Branco, Eduardo Freitas Oliveira e Gefferson Eusébio

Perfil do público GEOBrasil Summit 2006