Sendo utilizador de programas com licenças comerciais, freeware e open source/livre, e não ganhando a vida com desenvolvimento de software nem comercial nem livre, estou perfeitamente à vontade para falar sobre este tema.

Todos os principais argumentos aqui esgrimidos para defender o software comercial são exatamente os mesmos que são usados pelos apologistas do desenvolvimento do software livre, ou seja:

• Produtos à medida do utilizador: isto é, nada de super-plataformas, dezenas de extensões e funcionalidades que fazem mil e uma coisas quando o utilizador final/cliente só pretende realizar duas ou três tarefas básicas e repetidas. Pergunta: não será melhor conceber um produto específico e adequado a essas necessidades, do que comprar logo uma mega-solução que não responda diretamente e especificamente às suas necessidades?

• Assistência técnica: com todo o material disponibilizado na internet, com todos os fóruns e listas de discussão existentes, tem-se resposta na hora, e com o fato da maior parte dos representantes de marcas serem cada vez mais vendedores e menos técnicos, como se pode argumentar nestes dias a existência ou não de assistência técnica como um argumento de peso para selecionar o tipo de software/licença a adquirir?

• Estado-da-arte em termos de desenvolvimento de software SIG: poder-se-á afirmar que o software proprietário já foi o único e neste momento ainda é o principal promotor do estado-da-arte no desenvolvimento de soluções SIG, mas discuta-se essa primazia científico-tecnológica com utilizadores de MapServer ou GRASS, como exemplos mais paradigmáticos, e todos os argumentos esgrimidos podem sair bem furados.

• Mérito: não há duvidas de que foi sobretudo devido à visão, investigação e trabalho de grandes empresas como ESRI, Intergraph e Autodesk que o setor do geoprocessamento chegou ao patamar onde se encontra neste momento. As ultra-milionárias Google e Microsoft também entraram nesse mercado para não perder o comboio, mas todas foram recompensadas economicamente por todo esse investimento; portanto não adianta argumentar com moralismos neste domínio.

• Confusão de conceitos: software livre não é necessariamente igual a software grátis. A cada dia que passa, são criadas mais empresas que se dedicam exclusivamente à criação de soluções adequadas e ajustadas a cada cliente, desenvolvidas a partir do software livre, e obviamente que cobram por isso. O problemas das grandes empresas com o software livre é precisamente esse, de ordem estratégica: qualquer bom programador em parceria com um bom técnico pode desenvolver produtos de alta qualidade e performance sem partir do zero, e competir diretamente, com custos bem menores do que os dos “geo-tubarões”, com soluções mais personalizadas. Como saberão melhor do que eu os colegas brasileiros, esse é um setor em grande expansão no Brasil, um fator de inovação tecnológica e arrojo econômico, fruto de um trabalho levado a cabo por uma comunidade de desenvolvedores que trabalham em comum, salvaguardando naturalmente os seus interesses individuais.

• Oportunidade: o software livre é, por isso, uma oportunidade, e veio definitivamente para ficar. Por isso tenho defendido com muita convicção a eficiente capacitação em termos de programação informática aliada à utilização de software livre nas escolas profissionais e universidades onde se produzem técnicos direta ou indiretamente ligados à produção e disponibilização de informação geográfica. Quando lançados no mercado de trabalho, terão autonomia, criatividade e capacidade crítica suficiente para se integrarem no mercado, a título individual ou em empresas, sem dependerem da existência da licença do software “X” na empresa ou instituição do potencial empregador.

Moral da história: deixem o mercado funcionar!

Mensagem às universidades e escolas profissionais/técnicas: invistam mais na autonomia, criatividade e capacidade crítica dos vossos alunos/formandos, e menos na disponibilidade ou não de licenças avançadas nos vossos laboratórios de geoprocessamento.

Artur Gil
Analista SIG da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA)
Moderador da lista de discussão sobre geoprocessamento LusoGIS
arturfreiregil@yahoo.com.br

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