De acordo com o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC – Lei 9985/00), o objetivo básico das Unidades de Proteção Integral é preservar a natureza, sendo admitido apenas o uso indireto dos seus recursos naturais. A categoria Parque prioriza a preservação de ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e beleza cênica, possibilitando a realização de pesquisas científicas e visitação. Esta última atividade tem o objetivo de desenvolver a educação e a interpretação ambiental, a recreação em contato com a natureza e o turismo ecológico. A decisão de quais áreas num parque serão abertas à visitação, ou se terão uso para administração ou pesquisa, deve ser tomada no plano de manejo, instrumento de gestão obrigatório para as unidades de conservação (UCs).

O geoprocessamento é uma ferramenta essencial para a realização de planos de manejo, pois permite a integração das informações mapeadas e fornece um ambiente de análise espacial para toda a equipe de consultores temáticos envolvida nos trabalhos (especialistas em flora, fauna, socioeconomia, uso público, entre outros). Um dos principais produtos deste documento – obtido através do geoprocessamento – é o zoneamento da unidade de conservação.

A análise booleana foi uma ferramenta amplamente utilizada para tomar decisões com base em mapas. Através da sobreposição de diferentes mapas temáticos, representando fatores de restrição ou de favorecimento, podiam ser demarcadas áreas de maior ou menor impacto, ou ainda adequação para determinado uso. Com a ampla utilização de aplicativos para sistemas de informação geográficas na atualidade, outras técnicas de apoio à tomada de decisão foram implementadas em ambiente computacional. Tendo trabalhado diversos planos de manejo em unidades de conservação no Estado do Rio de Janeiro, os autores aplicaram uma metodologia de apoio à decisão baseada em geoprocessamento, e na avaliação multi-critério (AMC) com sucesso em três unidades: Parque Estadual do Desengano, Parque Estadual da Pedra Branca e Parque Estadual dos Três Picos.

A avaliação multi-critério pode ser executada com o uso de diversos aplicativos GIS, como o Idrisi (Clark University), o ArcView (Esri) e outros. O método utilizado incluiu o processo de hierarquização analítica (Analytical Hierarchy Process – AHP – SAATY, 1979) e a combinação linear ponderada. Enquanto a análise hierárquica é utilizada para comparação e ponderação de critérios, a combinação linear ponderada é a ferramenta através da qual os diferentes mapas temáticos, representando critérios e restrições, são combinados para gerar um mapa indicativo da adequação da superfície em estudo para determinado uso.

O primeiro passo para a aplicação da metodologia nas UCs é a conscientização da equipe de consultores temáticos – essencialmente multidisciplinar e às vezes não muito familiarizada com o uso de cartografia digital – para o fato de que seus estudos para diagnóstico da UC deverão abranger todo o espaço territorial desta.

O segundo passo é reunir os consultores e equipe administrativa da UC para definir os objetivos da avaliação multi-critério. Dois objetivos básicos, que nortearão o zoneamento, são as definições de áreas mais apropriadas para visitação e a definição de áreas mais importantes para preservação, que terão seu acesso permitido, em geral, somente para pesquisa científica.

Mapa das áreas mais indicadas (menos restritas) para visitação no Parque Estadual da Pedra Branca, Rio de Janeiro, RJ, resultante da avaliação multi-critério
-> Mapa das áreas mais indicadas (menos restritas) para visitação no Parque Estadual da Pedra Branca, Rio de Janeiro, RJ, resultante da avaliação multi-critério

Nos três parques em que a metodologia foi utilizada houve um grande enriquecimento nas discussões entre os consultores temáticos e a equipe do Instituto Estadual de Florestas (IEF/RJ). O método, que será descrito com maiores detalhes em um próximo artigo, tende a diminuir ou “controlar” a subjetividade na decisão do zoneamento, documentando e permitindo rever os critérios de decisão e os pesos dados a cada um por toda a equipe envolvida na elaboração do plano de manejo.

Com a contribuição de Eduardo Lardosa e Andréa Franco Oliveira, biólogos e mestres em geomática

Carlos Eduardo Goes Jamel
é biólogo e especialista em geoprocessamento
cjamel@novaterrageo.com.br
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