A geomática, assim como várias outras áreas da engenharia, vem passando por uma série de aperfeiçoamentos relativos à qualidade de seus profissionais, bem como à qualidade dos instrumentos utilizados por eles. O desenvolvimento técnico-científico fez surgir novos procedimentos e instrumentos de medição, que acabaram por aumentar a demanda de mercado por profissionais e empresas qualificadas nesse setor.

Esse aumento de demanda fez surgir novas empresas e exigiu que aquelas ainda usuárias de técnicas convencionais se adaptassem para atender um mercado crescente e cada vez mais exigente. O mercado passou a exigir qualidade. E não somente qualidade técnica, mas também qualidade relacionada aos meios e políticas que permitam garantir uma gestão efetiva de todos os processos envolvidos na execução de um serviço de geomática.

O panorama atual das empresas prestadoras de serviços de geomática mostra que, embora elas sempre busquem prestar um serviço com qualidade, são poucas as que realmente se dedicam e possuem uma sistemática de operação voltada para a Gestão da Qualidade. Em muitos casos, o que se vê são empresas com capacidade técnica, porém, sem uma organização interna coerente para garantir a qualidade esperada por seus clientes. O resultado acaba sendo, muitas vezes, o descrédito do setor, com atrasos constantes de prazos de entrega de serviços ou até mesmo o comprometimento da qualidade da medição.

Para suprir essa deficiência, é fundamental que o mercado e os prestadores de serviços de geomática se desvinculem da premissa de buscar somente a melhor acuidade dos resultados e considerem também a discussão dos requisitos e da organização das empresas para a garantia da Qualidade Total em seus serviços.

A qualidade é mundialmente reconhecida como uma componente essencial da competitividade, e a globalização fez dela um elemento diferencial para conquistar mercados e garantir a sobrevivência das empresas. Quem deseja dispor de oportunidades iguais deve ter qualidade em seus serviços, ou seja, deve padronizar seus processos produtivos e o bem final, independentemente da origem ou do setor de atuação. Isso implica em um novo gerenciamento organizacional das empresas e, principalmente, dos processos de preparação, medição e apresentação dos resultados do serviço prestado.

Mas o que é Qualidade?

Genericamente, o termo qualidade é definido como “propriedade, atributo ou condição das coisas ou das pessoas capaz de distingui-las das outras e de lhes determinar a natureza”. Embora apareça como um atributo intrínseco, a qualidade não é identificável e observável diretamente, ou seja, ela é resultante da interpretação de uma ou mais características das coisas ou pessoas, fato que atribui à palavra uma dimensão subjetiva. Ela deve, por isso, ser sempre empregada de forma composta explicitando sempre qual substantivo a que se refere, como por exemplo qualidade do produto, qualidade do processo, qualidade do sistema, qualidade da gestão, etc..

E o que é Gestão da Qualidade?

A Gestão da Qualidade deve ser entendida como a filosofia da gestão preventiva das ações tomadas por uma empresa. Ela determina como se gerencia os diversos setores de uma organização ou de um serviço, e baseia-se em um conjunto organizado de regras e ações composto de várias partes (subsistemas), que trabalham de forma harmoniosa para atender a um objetivo comum para o qual foi criado, denominado de Sistema de Gestão da Qualidade.

Um Sistema de Gestão da Qualidade pode então ser definido como um conjunto de recursos e regras mínimas, implementado de forma adequada, cujo objetivo é orientar cada parte da empresa a executar, de maneira correta e no tempo devido, a sua tarefa. Ele é composto por uma coletânea de documentos, organizados segundo uma determinada ordem de prioridade da organização, denominado sistema de documentação, e tem por objetivo padronizar os documentos para facilitar a implantação da Gestão da Qualidade.

Sistema de Documentação da Qualidade
Sistema de Documentação da Qualidade

O sistema de documentação, por sua vez, está subdividido em vários níveis, conforme indicado na figura. De acordo com a figura, o Manual da Qualidade é considerado o documento de primeiro nível, os procedimentos são considerados de segundo nível e as Instruções de Trabalho, Métodos de Análise e Registros da Qualidade são considerados documentos de terceiro nível. A preparação detalhada desse sistema de documentação é a chave para a implantação de um Sistema de Gestão da Qualidade vitorioso.

Implementação do Modelo de Gestão de Qualidade

A implantação de um Sistema da Qualidade representa uma forte mudança cultural que, em geral, provoca conflitos por envolver a estrutura técnica e a estrutura organizacional da empresa.

Dos diversos modelos de Sistemas da Qualidade existentes, o mais aceito e adotado em todo o mundo, devido à sua simplicidade e eficácia, é o proposto pelas normas da série ISO 9000, que no Brasil são denominadas NBR ISO 9000. Trata-se de um organismo normativo internacional de Gerência da Qualidade, com a característica peculiar de poder se adequar a qualquer tipo de organização. Ele diz, fundamentalmente, o que deve ser feito, e não como deve ser feito.

Com base nas Normas da série ISO 9000, os seguintes passos podem ser seguidos para a implementação de um Sistema de Gestão da Qualidade:
 – Escolha de um coordenador de implementação;
 – Avaliação da situação atual;
 – Elaboração de um cronograma de trabalho;
 – Planejamento estratégico;
 – Unificação conceitual nos vários níveis operacionais da empresa;
 – Definição e mapeamento dos processos utilizados na empresa;
 – Formação e implementação dos grupos de trabalho;
 – Elaboração de um Manual da Qualidade;
 – Elaboração e implementação dos documentos de instruções de trabalho contendo os procedimentos e as instruções;
 – Padronização dos processos;
 – Treinamento de pessoal;
 – Implementação de um processo de análise e melhoria;
 – Elaboração das diretrizes pra a manutenção do Sistema de Gestão da Qualidade implementado.

Padronização de Processos
Exemplo de Padronização do Processo

Em suma, os procedimentos consistem em mapear e padronizar os processos do dia-a-dia da empresa para, em seguida, descrever e padronizar os processos exigidos pela norma ISO 9000. As padronizações, neste caso, podem ser feitas a partir da escolha de uma atividade ou processo mapeado mediante fluxograma, em que se elabora um procedimento geral para descrever as interfaces (quem, quando, o quê, onde, por que e como) e, baseado no mesmo fluxograma, selecionam-se as atividades críticas que devem ser padronizadas por meio de instruções operacionais. A figura acima mostra um exemplo de fluxograma para a padronização de processos.

À medida que os processos forem sendo padronizados, devem ser implementados por meio de treinamento dos colaboradores (aplicados aos documentos correspondentes e aos processos em que estão envolvidos). Depois de implementados, devem ser programadas pequenas auditorias internas para avaliar o trabalho, corrigindo eventuais falhas e buscando melhorias.

As informações discutidas aqui englobam, logicamente, apenas os elementos primordiais da implantação de um sistema de Gestão da Qualidade. Os requerimentos totais são maiores e exigem inclusive a contratação de um técnico especializado para a sua compleição. Em suma, o texto tem como objetivo apenas alertar as empresas e os clientes da área de geomática para o tema em questão.

Prof. Dr. Irineu da Silva
Escola de Engenharia de São Carlos
Universidade de São Paulo
leicabr@attglobal.net