Por Eduardo Freitas Oliveira

Após a confirmação da Copa de 2014 no Brasil, o Portal MundoGEO inaugurou uma seção de notícias exclusivas sobre a infraestrutura para o evento, a ser realizado em 12 cidades brasileiras. Após uma intensa disputa, as escolhidas para sediar os jogos são Belo Horizonte (MG), Brasília (DF), Cuiabá (MT), Curitiba (PR), Fortaleza (CE), Manaus (AM), Natal (RN), Porto Alegre (RS), Recife (PE), Rio de Janeiro (RJ), Salvador (BA) e São Paulo (SP).

Todas essas cidades, além de outras que fazem parte das regiões metropolitanas, deverão passar por profundas transformações estruturais nos próximos cinco anos. Serão obras importantes de infraestrutura, que movimentarão bilhões de reais e terão impacto em todo o setor de geotecnologia. Além de construir e modernizar os estádios, o Brasil terá que realizar grandes obras nas áreas de hotelaria, estradas, aeroportos, energia, telecom, saneamento, entre outras.

O engenheiro agrimensor Evandro de Castro Gomide, da empresa CPE Tecnologia, afirma que “com o início das obras de engenharia visando a construção de toda a infraestrutura necessária à realização da Copa de 2014, teremos um grande impulso em todos os setores da construção civil e, consequentemente, na área de geomática”.

O governo federal é fiador de uma série de contratos assinados com a Fifa para investimentos em estádios e infraestrutura das 12 cidades que receberão os jogos, além de firmar uma série de compromissos, como facilitar a passagem pelas fronteiras e conceder isenção tributária para redes de comunicação. O governo promoveu uma série de reuniões com representantes das cidades-sede dos jogos, para identificar problemas nos estádios e no transporte urbano, em portos, aeroportos e na rede hoteleira. A próxima etapa será dedicada à promoção turística, com foco na imagem que o País quer transmitir com a Copa.

Segundo Rubens Riciere Manfra, gerente comercial da empresa Manfra, “com a confirmação do Brasil para sediar a Copa do Mundo de Futebol em 2014, veremos nos próximos anos, no país todo, e principalmente nas cidades-sede do mundial, um grande canteiro de obras. Isso vai aquecer, e muito, o nosso setor de geotecnologia. Com certeza vamos retomar o crescimento que estávamos tendo em 2008 e infelizmente foi interrompido pela crise mundial”.

Porém, se quiser realizar um Mundial com alto padrão de eficiência, o Brasil terá que correr contra o tempo. No final de setembro, o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, cobrou o governo brasileiro pela demora do início das obras visando à Copa 2014. Em entrevista, Valcke alertou que o Comitê Organizador do Mundial não deve esperar o fim da Copa da África para iniciar as obras, como parece estar fazendo. “Após a África do Sul, o Brasil terá apenas três anos para a Copa das Confederações e apenas quatro para o Mundial. O trabalho precisa ser acelerado”, afirmou.

O setor de transporte marítimo, terrestre e aéreo receberá grandes investimentos para a Copa. Uma análise sobre a eficiência operacional e competitividade dos portos nacionais foi divulgada, no final de agosto, pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), órgão ligado à Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República. De acordo com o estudo, o país precisaria realizar 265 obras e investir 43 bilhões de reais na construção, ampliação e recuperação das áreas portuárias. Além dessas, há também projetos de acessos terrestres, como ferrovias e estradas, dragagens e modernização dos equipamentos operacionais.

De acordo com o engenheiro agrônomo Marciano Carneiro, da empresa AllComp, “para a maioria dos torcedores, a Copa do Mundo não vai passar de diversão, mas para os profissionais do setor de geomática esse evento esportivo representa inúmeras frentes de trabalho. Sem topografia não se faz uma obra. Os projetos que serão desenvolvidos para a Copa de 2014 irão requerer investimentos em equipamentos e materiais, como também em um grande numero de profissionais ligados à área da construção civil”.

trem bala
Trem-bala

O primeiro Trem de Alta Velocidade (TAV) da América Latina deverá ligar as cidades de Campinas, São Paulo e Rio de Janeiro. A previsão é de que, somente nas obras do trem-bala, sejam investidos entre 15 a 20 bilhões de reais.

Grupos de empresas chinesas, espanholas, japonesas, alemãs, francesas, coreanas e italianas estão de olho na instalação do TAV no Brasil. Porém, o governo brasileiro vai exigir contrapartidas do país que vencer a licitação do trem-bala, pois a concorrência envolverá a transferência de tecnologia, que será centralizada em uma empresa ou instituto público e repassada à empresa privada que realizará as obras.

No entanto, segundo um estudo da multinacional japonesa Mitsui-Brasil, não haveria como garantir a inauguração do trajeto até 2014, contrariando as expectativas do governo. É provável que trechos regionais, como a ligação entre São Paulo e São José dos Campos, iniciem as operações até lá, mas não seria possível garantir a inauguração do trajeto completo até a Copa.

Em junho deste ano, durante a apresentação do balanço quadrimestral do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, garantiu que o trem estaria em operação no Mundial. Na ocasião, Dilma usou o Google Earth para mostrar uma simulação do trajeto do TAV, com suas futuras estações: Viracopos, Campinas, Jundiaí, Campo de Marte, Cumbica, São José dos Campos, Aparecida, Resende, Barra Mansa, Galeão e Leopoldina.


Edital

O edital de concorrência internacional será lançado em 30 de outubro, duas semanas após o encerramento da consulta pública sobre o projeto. O leilão que definirá o consórcio vencedor foi prometido para o primeiro trimestre de 2010, mas continua sem data marcada. A concorrência envolverá a prestação total dos serviços do trem-bala, compreendendo projeto executivo; implantação das obras de infraestrutura e superestrutura; construção dos equipamentos e sistemas; estações obrigatórias; centros de manutenção; sistemas elétricos, de operação, sinalização, controle e segurança; operação e manutenção dos serviços pelo prazo da concessão. O vencedor da licitação especificará um prazo de preparação do projeto executivo que, uma vez aprovado, permitirá o início das obras.

Sustentabilidade

Uma das principais bandeiras da arquitetura brasileira, a construção sustentável entrou definitivamente na agenda da Copa de 2014. Em 4 de agosto, o comitê organizador do Mundial recomendou às cidades-sede que adotem nos estádios a certificação de sustentabilidade ambiental Leadership in Energy and Environmental Design (LEED). O selo é fornecido pelo United States Green Building Concil (USGBC), conselho de construção sustentável norte-americano que atua em 115 países, e leva em conta os seguintes fatores: espaço sustentável; uso racional da água, energia e atmosfera; materiais e recursos; qualidade ambiental interna; inovação e processo do projeto.

O primeiro passo para transformar a Copa de 2014 em símbolo de sustentabilidade ambiental já foi dado. Um projeto da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em parceria com o Instituto Ideal, prevê a transformação dos estádios da Copa em geradores de energia solar. Além de criar arenas auto-sustentáveis, em alguns casos a energia gerada poderia ser revendida ao sistema elétrico.

Seguindo essa tendência, durante reunião realizada em julho a Comissão Mista Permanente de Mudanças Climáticas (CMMC) do Senado sugeriu que a Copa 2014 tenha como símbolo a sustentabilidade ambiental. Segundo a presidente da comissão, Ideli Salvatti, “a Copa do Mundo de 2010, na África do Sul, está sendo chamada de ‘Copa Negra’, ‘Copa da África’ ou ainda ‘Copa contra o Racismo’. Assim, a Copa de 2014 poderia ser chamada de ‘Copa Limpa’ ou ‘Copa da Sustentabilidade’, aproveitando um tema de extrema importância para o planeta”.


Financiamento

Uma grande preocupação de toda a sociedade recai sobre o uso adequado dos recursos para a realização da Copa no Brasil, que envolvem bilhões de dólares em investimentos nas mais variadas áreas. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) deve liberar ao menos 15 bilhões de reais para a Copa do Mundo de 2014. Somando estádios, hotéis e obras de mobilidade urbana, o banco desponta como o principal financiador do evento.

O foco principal do banco é a infraestrutura das cidades-sede do Mundial. Em setembro passado, o ministro do Esporte, Orlando Silva Jr., anunciou a criação de uma linha de crédito de 5 bilhões de reais, através do BNDES, para o chamado PAC da Mobilidade Urbana. O governo federal já afirmou que estuda um aumento desse valor, mostrando que as estimativas iniciais de gastos podem sofrer reajustes nos próximos meses.

No entanto, os financiamentos não se restringirão aos entes públicos. Empresas privadas também poderão receber recursos, porém o banco será mais exigente nas garantias requeridas. Segundo o BNDES, governos e prefeituras são melhores devedores porque podem ser cobrados através do fundo de participação de Estados e municípios, além da possibilidade de usar terrenos públicos.


Oportunidades

A construção civil promete ser o motor da economia brasileira nos próximos cinco anos. A preparação para a Copa do Mundo de Futebol deve transformar o país em um grande canteiro de obras, o que permite ao setor fazer planos para reiniciar o ciclo de crescimento interrompido em 2008 pela crise mundial.

As empresas da construção civil já registram melhoras, e garantem que o segmento passará por um aumento de contratações para atender à demanda. Esse otimismo tem base no volume de investimentos prometidos, que pode chegar a até 100 bilhões de reais. Especialistas estimam que, a cada 1 milhão de reais em investimentos na construção civil, são criados 58 empregos, sendo 33 diretos e 25 indiretos. Isso significaria a geração de pelo menos 3,5 milhões de vagas.

Em paralelo, o governo federal precisa definir todas as obras de infraestrutura exigidas para receber o evento. Só em transporte serão necessários mais de 45 bilhões de reais. Boa parte dos recursos vai melhorar a mobilidade urbana, como a construção de linhas de metrô, corredores de ônibus e estacionamentos, além do trem-bala ligando Campinas, São Paulo e Rio de Janeiro. Outras áreas, como aeroportos, energia elétrica e telecomunicações, terão de ter seus serviços reforçados para evitar um colapso durante o evento.

Segundo Gomide, “podemos destacar a cartografia, através do mapeamento, com a finalidade de servir como base para elaboração dos projetos viários e arquitetônicos, além dos levantamentos ‘as built’ das obras de arte e construções já existentes, para os projetos de reforma. A demanda de serviços nessa área não para por aí, uma vez que toda grande obra requer ainda trabalhos de locação e acompanhamento durante todo o processo de sua construção”.

Já para Manfra, “todas as cidades escolhidas para sediar o mundial precisam de revitalizações nas mais diversas áreas, desde o ajuste dos estádios escolhidos pela Fifa ou construção dos mesmos, até as melhorias nos sistemas de transporte coletivo, entre vários outros”.

Além das grandes construtoras, os pequenos empreendimentos também podem se beneficiar da realização da Copa no Brasil. O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) acaba de criar um comitê técnico sobre a Copa 2014, para incentivar a participação das micro e pequenas empresas nas obras e serviços do Mundial. “Nosso foco é visualizar oportunidades para as micro e pequenas empresas, antes, durante e depois da Copa 2014, de modo a alavancar os pequenos negócios do país em médio e longo prazos”, explica Dival Schmidt, coordenador do comitê. A meta é que o documento fique pronto até o fim de novembro.


Controle e legado

Todo o mundo estará fiscalizando o andamento das obras no Brasil nos próximos anos. Para Carneiro, “o mercado promete crescimento antes, durante e após o evento mundial. O Brasil será vitrine para o mundo inteiro, tornando o momento ideal para mostrarmos a competência dos profissionais do setor da geomática”.

O orçamento final para a Copa do Mundo de 2014 ainda não foi definido. Ainda assim, já está certo que os números da competição serão rastreados pela ONG Contas Abertas, que acertou parceria com a comissão de fiscalização financeira e controle da Câmara dos Deputados. A ideia é que a ONG ajude a monitorar o investimento público na Copa do Mundo.

As primeiras projeções para o Pan-Americano, em 2007, indicavam um orçamento inferior a 400 milhões de reais em obras para o Rio de Janeiro realizar a competição. Porém, segundo nota oficial do Tribunal de Contas da União, esse orçamento foi multiplicado em 18 vezes.

O grande canteiro de obras que será implantado no Brasil nos próximos anos vai gerar milhões de empregos diretos e indiretos, e movimentar rapidamente a roda da economia. Com responsabilidade dos governantes, iniciativa das empresas privadas e controle de toda a sociedade, a mobilização para a Copa de 2014 tende a mudar a cara do Brasil.

É claro que todos querem que o Brasil seja campeão mundial em 2010, 2014, etc.. Porém, independentemente de títulos no futebol, o legado que as obras da Copa deixarão para o país será o principal ganho do Brasil. Que venha a Copa 2014!

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