Petróleo & gás e geomática são dois setores com uma característica em comum: a especialidade técnica. Para atuar nesses segmentos, um profissional ou uma empresa necessita não apenas de tecnologia de ponta, mas de um profundo conhecimento técnico.

Em cada um dos lados da cadeia de fornecimento existem determinadas especificidades que devem ser dominadas pela parte contrária. Isso significa que o contratante do setor de petróleo e gás precisa conhecer as matérias de geomática, a fim de especificar adequadamente seu pedido de compra. Por outro lado, o fornecedor de serviços e produtos deve conhecer a cadeia produtiva, a fim de avaliar seu papel no interior da mesma e moldar seu produto final, atendendo, assim, à especificação.

O universo de empresas convidadas a participar desta pesquisa foi elaborado com base nas mais conceituadas mídias escritas e sítios eletrônicos específicos das áreas de interesse. No que se refere à geomática, buscou-se a maior diversidade possível quanto à área de atuação, ao tipo de fornecimento, à localização e ao tamanho da empresa.

Devido ao fato de o país ter adotado o modelo de concessão de blocos há apenas alguns anos – antes disso, o Estado detinha o monopólio da exploração e produção, refino e transporte -, a presença e o domínio tecnológico estatal continua sendo marcante. Poucas são as empresas privadas atuantes nesses segmentos da cadeia; quando presentes em algum bloco ou faixa de duto, por exemplo, são consorciadas, empregando-se tecnologias e normas desenvolvidas pela estatal.

Diante deste quadro, a referência para a prestação de serviços de geomática à área de petróleo e gás, que não a distribuição, envolve normas de fornecimento próprias dos departamentos da estatal e suas subsidiárias e terceirizadas.

Nesta pesquisa, o universo dos contratantes de serviços foi formado pelos departamentos especializados, pelo portal de compras da estatal, pelos prestadores de serviço na área de geologia, meio ambiente e construção civil, além de distribuidoras e pequenas concessionárias de blocos em terra.

Dos fornecedores consultados, houve um retorno de 60%. Devido à política de concorrência, não se obteve resposta daqueles que trabalham com produtos de alta tecnologia, como receptores GPS, câmeras aéreas de alta resolução e sistemas de rastreamento a laser. Além disso, alguns fornecedores firmaram contratos com cláusula confidencial por dez anos.

Dos clientes, houve um retorno de 87%, embora alguns dados do formulário não tenham sido preenchidos devido ao fato de certas informações serem de cunho estratégico ou, ainda, não estarem previstas no planejamento das companhias.

Na figura abaixo vemos um gráfico ilustrativo da participação de cada elo da cadeia de fornecimento.

Participação na cadeia de fornecimento
Participação na cadeia de fornecimento

As informações prestadas foram tabuladas e classificadas em planilha eletrônica, com o objetivo de se obter o panorama atual dos negócios entre os dois setores. Os questionamentos foram transformados em gráficos, separados em grupos (fornecedores e clientes) e devidamente analisados, considerando-se a existência de algumas particularidades em questões que poderiam tendenciar o resultado.

Quanto ao grupo dos fornecedores, as respostas permitiram as seguintes interpretações:

• O maior interesse na pesquisa foi de empresas que já possuem contratos em vigência ou que vivem a expectativa de fechar novos contratos. Neste aspecto, muitas empresas e profissionais que aguardam contratações possuem seus cadastrados devidamente atualizados e têm competência técnica comprovada nos portais de suprimentos das empresas mais conceituadas na área de petróleo e gás. No entanto, a falta de aproximação entre os dois elos da cadeia de suprimentos, na maioria das vezes, faz com que esse cadastro perdure por anos, sem que o fornecedor cadastrado seja solicitado para uma cotação;

• O perfil de atuação das empresas foi surpreendentemente alterado após o retorno dos formulários. A amostra inicial possuía um número de empresas de geodésia e topografia superior aos demais segmentos, devido ao fato de existirem em maior número, pois sua fundação exige investimentos de ordem inferior às demais. No entanto, muitas dessas empresas estão voltadas a outros setores, não possuindo qualificação para atuar na área energética. Talvez, por isso, não tenham demonstrado interesse na pesquisa. Em contrapartida, segmentos como a aerofotogrametria e cartografia foram praticamente unânimes na participação, por julgarem o setor como estratégico ao seu crescimento.

A tabulação dos dados comerciais demonstra a importância do setor de petróleo e gás para os fornecedores participantes do trabalho. Para a maior parte dos fornecedores, o setor de petróleo e gás representa entre 20% e 50% do faturamento total da empresa.

Além de o setor possuir uma representatividade significativa no faturamento dessas empresas, existe, da parte dos fornecedores, uma perspectiva de aumento do volume e do valor dos contratos. A faixa dominante mostra expectativas de 20% a 70%. Em contrapartida à expectativa de aumento dos negócios, o empresário está disposto a realizar um aumento de 20% a 30% nos investimentos.

Solicitou-se às empresas o fornecimento do perfil de seu quadro técnico. Obtiveram-se dados referentes à formação em geomática, variando do nível técnico à pós-graduação. No entanto, é raro haver um profissional com conhecimento na cadeia produtiva de petróleo e gás.

Ainda que carente de normas técnicas específicas e adequadas ao nível de precisão do instrumental moderno, o setor está inserido no contexto das normas de fornecimento, sob pena de desqualificação, em caso da não adoção das mesmas.

Quanto ao grupo dos clientes, os formulários permitiram as seguintes interpretações:

• A distribuição do número de empresas clientes ilustra simplesmente a área de atuação e não o volume de contratação. Onde há atuação do número menor de empresas (exploração e produção), existe a maior necessidade de serviços. Na distribuição, não aparecem as concessionárias e distribuidoras cuja necessidade se insere no contexto da engenharia. Nessas empresas, existem departamentos específicos de engenharia para contratação e acompanhamento de obras.

O interesse das empresas de petróleo e gás em solicitar suprimentos de geotecnologias é otimista e mostra grande tendência de aumento no nível de negócios. Na figura abaixo, tem-se o nível de expectativa.

Nível de expectativa dos negócios
Nível de expectativa dos negócios

No caso da necessidade de corpo técnico especializado, os dados vêm chocar-se com os dos fornecedores, evidenciando uma dissintonia entre os elos da cadeia, pois o ponto mais carente das empresas — pessoal com especialização na área de petróleo e gás — é a maior necessidade dos clientes.

A exigência de normas técnicas e de qualidade é uma premissa dos contratantes em suas solicitações. Também devem ser considerados os aspectos de segurança e meio ambiente. A crise econômica causou um certo atraso no plano de investimento dos clientes; com a retomada do nível de crescimento da economia, eles demonstram-se mais confortáveis em retomar as negociações.

No que diz respeito à participação em projetos do pré-sal, as empresas deixam claro que a demanda de serviços realmente existirá. No entanto, para atuar nessa área, o fornecedor e seu quadro técnico deverão estar qualificados.

Aproximação, especialização e crédito

Neste trabalho, fez-se uma consulta às mais conceituadas empresas fornecedoras e a clientes, dos mais variados portes e atuação. Após a análise dos dados, constatou-se que os negócios entre as empresas do setor de geomática e petróleo e gás estão avançados, com expectativa de aumento para os próximos anos. No entanto, essa relação da cadeia de fornecimento poderia ser mais próxima, havendo maior interação dos elos.

Um exemplo da falta de aproximação é o fato de haver diversas empresas qualificadas, cadastradas já há alguns anos no banco de fornecedores dos clientes do setor de petróleo e gás, que ainda não foram solicitadas. Para uma maior aproximação, sugerem-se as chamadas “rodadas de negócio”, já realizadas para fornecedores de outras áreas, cujo objetivo é o contato direto entre cliente e fornecedor.

Outro aspecto relevante observado nesta pesquisa é a necessidade de especialização do pessoal das empresas de geomática na área de petróleo e gás e, por outro lado, a especialização do pessoal de petróleo e gás em geomática. Essa complementação poderia ser feita por meio de cursos acessíveis aos envolvidos na relação cliente/fornecedor.

O resultado da pesquisa aponta que o setor de petróleo e gás gera uma demanda significativa de negócios com a área de geomática, e as descobertas no pré-sal vêm acentuar a carência de produtos, serviços e soluções. No que diz respeito aos fornecedores, existe um nível razoável de atendimento à demanda e disposição para novos investimentos. Paralelamente à já sugerida “rodada de negócios”, idealiza-se a reivindicação de uma linha de crédito específica aos fornecedores do setor de petróleo e gás, o que daria condições para as empresas realizarem suas expectativas de novos negócios.

Eduardo Casale PiovesanEduardo Casale Piovesan
Engenheiro cartógrafo, MBA Petróleo e Gás – FGV, Consultor de empresas.
dupiovesan@terra.com.br

Jorge Renato da Silva BrunoJorge Renato da Silva Bruno
Msc., Consultor de empresas
jorge.bruno@uol.com.br