Com certeza você já ouviu falar de web 2.0, um termo usado para designar a mudança na forma de informação, na qual a web deixa de ser uma plataforma e passa a ser um conceito de inteligência coletiva, onde todo mundo participa, colabora e interage com o ambiente online. Esse conceito 2.0 saiu das telas dos nossos micros e começou a tomar forma e ser aplicado em projetos. A colaboração e interação nunca foi tão bem aproveitada como está sendo hoje.

Criado há cerca de um ano por uma ONG norte-americana, o projeto Green Map engloba mapas de mais de 500 cidades, distribuídos entre 55 países. Com o slogan “Pense Global, Mapeie seu Local”, o projeto, que também está presente no Brasil, estimula as pessoas a localizarem no mapa e compartilharem pontos positivos (parques, praças, rios) e negativos (áreas de poluição, desmatamento, lixo) da sua região.

Os usuários aproveitam esse espaço comunitário online para inserirem seus “insights”, avaliações de impactos e imagens. Em uma época em que se fala tanto do desequilíbrio provocado pelo homem ao meio ambiente, dados colaborativos como esses em mãos são excepcionais para analisar as mudanças e os impactos ambientais e, a partir desses dados, adotar ações.

Outro projeto estrangeiro que também está presente no Brasil é o OpenStreetMap (OSM). Inspirado em sites como o Wikipedia, o OSM é um projeto colaborativo no qual usuários podem incluir dados extremamente ricos na base, que vão desde a inserção de locais a nomes de ruas e avenidas. O mapa do projeto é todo construído por voluntários, sendo que alguns realizam viagens com um GPS portátil em mãos, gravador de voz e câmera fotográfica, questionando habitantes locais sobre a região, na intenção de acrescentar informações cada vez mais relevantes.

A ferramenta gratuita, além de ser um ótimo projeto, abre um leque de oportunidades para o uso na educação, por exemplo. É possível incentivar os usuários para que mapeiem a região onde moram, confiram o nome das ruas, pontos de referência e acrescentem detalhes no mapa, ou mesmo utilizem esse tipo de projeto em escolas e universidades.

No Brasil, um projeto 2.0 bem aproveitado é o Wikimapa. Em parceira com algumas empresas, como o Apontador, e principalmente graças à colaboração de integrantes das comunidades, o Wikimapa vem transformando áreas antes não conhecidas em locais mapeados e registrados nos mapas virtuais, o que destaca o interesse de moradores e visitantes.

O projeto teve início no Rio de Janeiro, e já está implantado em cinco comunidades: Morro de Santa Marta, Pavão-Pavãozinho, Complexo do Alemão, Complexo da Maré e Cidade de Deus. Cada comunidade tem um responsável pelo projeto, com a função de divulgar e também de mapear sua comunidade. Com um smartphone na mão, com câmera e aplicativo instalado, cada wiki-repórter – como são chamados – mapeia ruas, vielas, registra áreas de lazer, de comércio, serviços locais e instituições da comunidade.

Mas é comum um morador da favela ter em mãos um smartphone? Sim, na favela, possuir um aparelho desses é sinônimo de status. Algumas favelas do Rio de Janeiro possuem até mesmo cobertura Wi-Fi gratuita. Essa facilidade contribui para que usuários se inscrevam no projeto e participem ativamente da construção dos mapas de sua comunidade.

Esse tipo de ação, fascinante, influencia não só as pessoas de baixa renda para que insiram informações relevantes e ricas em detalhes, mas também empresas que querem contribuir de alguma forma para esse crescimento cultural e educacional. Com esses modelos de projeto, podemos criar planos de mudança e transformarmos áreas antes discriminadas e pouco conhecidas em locais valorizados, tornando a geografia local conhecida por todos.

Rafael SiqueiraRafael Siqueira
Formado em engenharia mecatrônica pela Poli/USP, CTO do Apontador MapLink (www.apontador.com.br / www.maplink.com.br)
rafael.siqueira@lbslocal.com