Qualidade é um conceito subjetivo que está relacionado diretamente às percepções de cada indivíduo. Diversos fatores, como cultura, modelos mentais, tipo de produto ou serviço prestado, necessidades e expectativas, influenciam diretamente nesta definição.

A qualidade em SIG era antes retratada apenas pela reputação de quem produzia os dados. Estava baseada nas experiências resultantes do uso da base e por uma declaração do órgão produtor, informando que os dados produzidos estavam de acordo com um padrão cartográfico de precisão. Hoje, as demandas em relação à qualidade dos dados geoespaciais vão além da precisão posicional como indicador de qualidade.

Além da localização, outros critérios também estão sendo levados em consideração como, por exemplo, informações temporais sobre se um determinado ponto comercial ainda é um restaurante ou virou uma loja de conveniência. Ainda, saber não só a precisão de uma coordenada, mas qual o sistema de referência utilizado, o responsável pela coleta das coordenadas, a escala adequada de trabalho para representar determinados objetos da superfície, são algumas atribuições voltadas à qualidade dos dados geoespaciais atualmente. Por outro lado, os usuários estão se tornando cada vez mais exigentes e informados sobre esse universo geoespacial.

Prevê-se que os requisitos do cliente para o conhecimento sobre a qualidade da informação geográfica aumentará. Um exemplo disso é o surgimento de serviços de auditoria de qualidade, que serve para prover a alta administração da organização com informações sobre a eficácia de seu sistema de gestão, ou seja, se as coisas estão ocorrendo de acordo com o planejado. As informações geradas pelas auditorias devem servir como base para as decisões sobre os pontos que necessitam de melhoria e os que estão funcionando de maneira eficaz.

Auditoria de qualidade pode ser definida como um método sistemático através do qual se define, recolhe e analisa informações sobre um conjunto de dados geográficos associados, principalmente, com as necessidades do usuário, a fim de formular uma decisão sobre a utilização desse conjunto de dados. A auditoria fornece um terceiro parecer de um especialista, independente dos dados, para o cliente. No entanto, ela só pode ser aplicada em certos contextos, onde os usuários estão dispostos a investir nesse serviço.

Agências europeias de cartografia terceirizam a produção de conjuntos de dados geoespaciais, além de atender sua própria “produção” interna. Portanto, é importante a introdução de gestão da qualidade para controlar todo o processo. Certificação de qualidade é uma abordagem, e refere-se a um procedimento que permite a um produtor de dados geográficos dar reconhecimento aos seus fornecedores, tanto externos como internos, para indicar que eles são capazes de fornecer dados com a qualidade exigida, no que diz respeito ao tempo, volumes necessários e custo adequado.

A adoção de determinados processos para controlar a qualidade dos dados pode trazer alguns benefícios aos usuários e também à sociedade. A figura ao lado, adaptada de Jakobsson, 2007, ilustra os potenciais benefícios que podem resultar da harmonização e da introdução de princípios de gestão da informação para bancos de dados de referência.

No Nível I, a interoperabilidade técnica é conseguida através de padrões como WMS e WFS. Problemas relacionados com o conteúdo e a qualidade permanecem. Já no Nível II, o conteúdo das bases de dados de referência é harmonizado, o que permite a combinação do local, regional, nacional, bancos de dados de referência nacionais e mundial. Metadados carregam a informação de qualidade que permite a análise em relação ao uso. Por último, no Nível III a compatibilidade em nível do processo é alcançada. Os dados são harmonizados e indicadores comuns de qualidade são usados. Os dados geoespaciais de referência são descritos na legislação que também prevê quem são os produtores destes.

Os benefícios para a sociedade aumentam do Nível I ao III, devido à harmonização. Desta forma, os níveis de processo diminuem a duplicação de recursos para a manutenção de conjuntos de dados de referência. A manutenção integrada e processos de produção vão abranger muitas organizações. Assim, produtividade e qualidade dos dados aumentam. Da mesma forma, os benefícios para os usuários aumentarão a partir do Nível I ao III, pois os dados de referência são mais utilizados, oferecendo novos serviços, o que permite economia de custos.

Para os interessados em saber mais sobre como introduzir processos para controlar a qualidade geoespacial na sua empresa, existe o grupo EuroGeographics, de peritos em qualidade, que publicou um guia sobre a implementação das normas ISO 19100 de qualidade em cartografia nacional para a Europa. Por que não adotá-lo em nossos projetos?

Wilson Anderson Holler
Engenheiro cartógrafo e supervisor da área de gestão territorial estratégica da Embrapa Monitoramento por satélite
holler@cnpm.embrapa.br