Mercado brasileiro de geotecnologia mostra sua força

Por Eduardo Freitas e Viviane Prestes

O mundo está de olho no Brasil. Ok, isto já não é novidade e até virou um chavão. Mas a verdade é que todos estão, sim, de olho em nosso mercado, que já está aquecido e tem perspectiva de apresentar altas taxas de progresso nos próximos anos. Grupos estrangeiros estão querendo “tirar uma casquinha” deste bolo, que não para de crescer.

Obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), exploração da camada pré-sal, infraestrutura para Copa 2014, projetos para as Olimpíadas 2016. Tudo isso, somado ao famoso “bônus demográfico”, faz de nosso país um paraíso para empreendedores.

E o setor de geo cresce no mesmo ritmo – ou até mais rápido – que a economia. Afinal, obras, planejamento e tomada de decisão têm tudo a ver com geotecnologia. Seja para coleta, integração, análise ou compartilhamento de informações geoespaciais, os profissionais, instituições e empresas da área estão a postos para enfrentar o desafio.

Mas, afinal, para onde vai este mercado nos próximos quatro ou cinco anos? Ocorrerá uma enxurrada de empresas estrangeiras e profissionais de outros países de olho em nossa prosperidade? Vamos criar soluções próprias ou apenas receber algo pronto e ficar “apertando botões”? Nossos recursos humanos vão dar conta do recado?

A revista InfoGEO consultou o mercado brasileiro de geotecnologia, para saber a opinião de algumas das principais lideranças sobre o futuro do setor. As impressões são reveladoras e mostram as expectativas e preocupações dos empresários e profissionais de geo.

Alguns empreendedores, como Marco Fidos, diretor da Inovação, mostram-se muito otimistas sobre a força do país e do mercado de geoinformação para os próximos anos. “O crescimento esperado é que seja igual ou superior ao previsto para o país, visto que a geoinformação está atrelada a serviços de utilidade pública, telecom, energia e infraestrutura, elementos preponderantes do crescimento esperado para o Brasil nos próximos anos”, afirma.

Marco Neia, gerente comercial da Engefoto, também está esperançoso em relação aos sinais de crescimento. “Entendo que diversos indicadores econômicos e sociais apontam para grandes demandas na área de engenharia, considerando-se um tripé: pré-sal, Copa do Mundo e Olimpíadas. Creio que as demandas serão para produtos como referência de estudos e impactos – ambiental, por exemplo – e para projetos executivos”, conclui.

Já Fátima Alves Tostes, assessora de diretoria da empresa Base, não é tão otimista quanto ao papel do poder público e atrela o progresso do setor à economia como um todo. “O crescimento do mercado da geoinformação vai depender muito da economia no Brasil. Nosso país não possui política nem cultura ativa de registro das informações do território, e a geoinformação desatualizada se torna apenas mais um dado não confiável em meio digital”.

A pujança do mercado brasileiro faz alguns empresários mirarem também para as oportunidades em países vizinhos. Valther Aguiar, diretor técnico na Esteio, comenta que “nos próximos quatro anos esperamos um grande crescimento no setor, principalmente na primeira metade deste período, face aos grandes investimentos em projetos e obras de infraestrutura, necessárias não só no Brasil como também em toda a América do Sul”.

Tendências

Além da demanda por engenharia, a evolução nas geotecnologias também deve impulsionar o mercado. É o que pensa Lucio Graça, diretor de marketing da empresa Imagem. “Acredito que a evolução extraordinária da tecnologia, de um modo geral, tem favorecido o ambiente de negócios para geoprocessamento. Isto porque a maior disponibilidade de informações geográficas, somada à popularização de plataformas de mobilidade, tem revelado um cenário bastante favorável para o desenvolvimento de aplicações GIS e o consequente aumento de usuários de nossa tecnologia no país”, diz.

Segundo Lucio, além da infraestrutura, outras áreas carentes e com grandes demandas são a segurança pública, agrobusiness e recursos naturais. “Para todas essas questões, o uso da inteligência geográfica é fundamental e, por isso, as perspectivas de crescimento do mercado de GIS são bastante otimistas”, comemora.

O setor de equipamentos para geodésia e topografia também está aquecido e prevê altas taxas de crescimento nos próximos anos. Segundo Kleber de São José, diretor comercial da Furtado & Schmidt, “o mercado de geoinformação está passando por uma transformação, na qual os profissionais da área deixaram de ser usuários exclusivos das geotecnologias, os equipamentos estão evoluindo muito e mais da metade da solução oferecida hoje é informática. Ou seja, os equipamentos estão ‘pensando’”.

Rogério Neves, diretor comercial da CPE Tecnologia, também está confiante em um ano especial para o setor. “O Brasil apresenta, para 2011, oportunidades de crescimento sem precedentes para o mercado da geoinformação. O avanço nos setores de mineração, agroindústria, óleo&gás e infraestrutura impulsionarão investimentos em novas
geotecnologias, como Lidar, softwares 3D, GNSS, etc., que permitem maior produtividade e criam novas possibilidades”.

Desafios

Mas nem tudo são flores. Mesmo com toda esta previsão de crescimento, as empresas sofrem com incertezas quanto ao capital humano, falta de regulamentação, qualidade, concorrência desleal, entre outros fatores que podem comprometer o resultado das companhias.

Para Marco Fidos, a qualidade é o ponto principal. “O nosso desafio é crescer e manter a qualidade de nossas ofertas de produtos e serviços, diante deste aumento de demanda”, afirma. Já para Marco Neia, a concorrência estrangeira – muitas vezes desleal – é um desafio a ser vencido. “Grandes grupos econômicos que se formam mundo afora, integrando diversas soluções, começam a ‘avançar’ sobre o Brasil, identificando potencialidade”, conclui. Isto prejudica os negócios das empresas brasileiras, pois gera diminuição das margens de lucros, baixa disponibilidade para investimentos, etc..

A falta de políticas públicas claras e a educação são os grandes desafios mencionados por Fátima Tostes, para que o setor possa crescer de forma sustentável. “Para que esse mercado cresça e se fixe como deve ser, é necessário que a cultura e a política da informação do território sejam prioridades. É preciso também investir na educação”. Para ela, a atualização profissional também é uma preocupação. “O mercado da geoinformação precisa de constante renovação de métodos, técnicas e instrumentos, pois é muito dinâmico. O que vemos hoje é que os usuários potenciais não acompanham essa renovação”, explica.

Valther Aguiar compartilha a mesma apreensão: “O maior desafio para os empresários do setor é manterem-se atualizados técnica e tecnologicamente, não cometendo erros em seus investimentos, seja em novos equipamentos ou tecnologias“.

Outro desafio das organizações que atuam com geoinformação está relacionado ao fato de transformarem, efetivamente, as oportunidades em negócios. Lucio Graça afirma que “precisamos ser capazes de mostrar, para a sociedade e para as empresas em geral, o valor de inserir o GIS no centro da tomada de decisão, como uma ferramenta estratégica para a gestão dos negócios”. Lucio destaca ainda que “outro ponto que constitui um desafio importante se refere à falta de mão de obra capacitada para o mercado de TI com foco em geoprocessamento. Este é, sem dúvida, um ponto crítico que muitas das vezes limita o crescimento da tecnologia GIS dentro das organizações”.

Da mesma forma, Kleber de São José afirma que “a grande preocupação é se teremos mão de obra qualificada suficiente para dominar softwares e aplicativos dos equipamentos altamente tecnológicos”.

Emerson Granemann, diretor do Grupo MundoGEO, também compartilha a opinião de que o maior obstáculo é a formação. “O mercado de geotecnologia está em franco crescimento, mas duas questões desafiam esta escalada: o fator humano e os conceitos ligados à sustentabilidade. Se por um lado as tecnologias estão cada vez mais acessíveis para a sociedade, especialmente no Brasil, temos ainda falta de mão de obra qualificada para tirar proveito das soluções disponíveis. Por parte das empresas que prestam serviços no setor, nota-se ainda uma certa dificuldade de atender um mercado cada vez mais conectado, colaborativo e que busca os valores essenciais para tornar o mundo melhor.” complementa.

O que vem por aí

A geoinformação corporativa, antes um reduto de especialistas que trabalhavam em “ilhas” dentro das empresas, entra cada vez mais no centro da tomada de decisões. Além disso, a localização tecnológica virou uma commodity, ou seja, já espera-se que qualquer solução seja, por “default”, baseada em localização. O cidadão comum já exige que seu smartphone obtenha a sua posição geográfica e tenha ferramentas para a interação com esta geoinformação. Tudo isso leva o mercado a um novo patamar, no qual toda a população é consumidora de geoinformação e onde as decisões corporativas têm como base as análises geoespaciais.

Dentre as tendências de geotecnologia que devem popularizar-se nos próximos anos, pode-se citar:

• Aumento significante de fontes abertas de dados geoespaciais
• Maior número de provedores de serviços de mapas online
• Computação na nuvem (cloud computing ou ainda geocloud)
• Geoinformação tratada como se fosse um game
• Uso de mapas para ações de ativismo dos cidadãos
• Mapeamento colaborativo (geocolaboration)
• Infraestrutura inteligente (sensores atuando em tempo real)
• Expansão de aplicativos geoespaciais (Apps)
• Ferramentas de análise espacial para as massas
• Popularização das bases de dados 3D
• Sistemas GNSS alternativos ao GPS
• Crowd sourcing/inteligência coletiva
• Resposta a emergências
• Mineração de grandes bases de dados (big data)
• Análises e atualização de dados em tempo real
• Mudança de paradigma, do GIS para as Infraestruturas de Dados Espaciais (IDE)

O mercado brasileiro de geomática está “bombando” e continuará assim mesmo após a Copa – esperamos que com o hexacampeonato – e as Olimpíadas. O bônus demográfico garantirá uma fase sustentável de crescimento, com obras por todo o país e consumo aquecido.

Com o mundo de olho em nossa economia, cabe aos profissionais e empresas brasileiros estarem atualizados e buscarem a excelência em seus projetos. A concorrência estrangeira está batendo em nossa porta e o mercado virou o globo.

MundoGEO#Connect

O futuro dos mapas chegou!

Este ano será inaugurada uma nova forma de fazer eventos de geotecnologia no qual as tendências estarão no centro das discussões. De 14 a 16 de junho se realizará o MundoGEO#Connect, em São Paulo (SP), reunindo empresas, instituições e profissionais de geomática que estarão em contato direto com as últimas novidades da indústria geoespacial. Além da feira de equipamentos e serviços, haverá auditórios funcionando simultaneamente, com mini-cursos, seminários, workshops e encontros de usuários.

O MundoGEO#Connect é fruto das novas demandas por soluções geoespaciais dos setores empresariais e governamentais. Esta revolução foi percebida a partir da movimentação nas redes sociais, visitantes cadastrados no Portal MundoGEO, assinantes das revistas InfoGEO e InfoGNSS, além dos participantes dos recentes eventos online e presenciais realizados pelo Grupo MundoGEO. Desde 2009, foram 8 seminários e 14 webinars que reuniram mais de 10 mil profissionais, sendo que pelo menos 60% nunca haviam participado de eventos do setor e 90% aprovaram o formato e os conteúdos apresentados.

Baseado no slogan ”O futuro dos mapas chegou”, o MundoGEO#Connect terá a interatividade como diferencial. Especialistas discutirão tendências, mostrarão seus casos de sucesso e debaterão com os usuários as novidades tecnológicas, tudo isso num ambiente integrado. A meta é reunir mais de 3 mil profissionais, produtores e usuários da geoinformação em seus mais diferentes níveis.

Conheça a programação completa do MundoGEO#Connect