Do Cigala ao Calibra

Detalhes do projeto Concept for Ionospheric Scintillation Mitigation for Professional GNSS in Latin America (Cigala), encerrado em fevereiro de 2012, já foram abordados nesta coluna. Os resultados alcançados durante o seu desenvolvimento foram bastante satisfatórios, estando dentre eles um aplicativo de consultas sobre a ocorrência de cintilação ionosférica no Brasil, o qual também foi apresentado nesta coluna. O aplicativo pode ser acessado em http://is-cigala-calibra.fct.unesp.br.

A boa notícia que se apresenta agora é que o projeto terá continuidade, não só pela decisão da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em continuar com a coleta de dados pelas estações de monitoramento de cintilação ionosférica instaladas na vigência do Cigala, mas pela aprovação de outro projeto, novamente financiado pela Comunidade Europeia, também dentro do contexto do Quadro Programa 7 (FP7), a exemplo do que ocorreu com o Cigala.

O novo projeto é denominado Countering GNSS high Accuracy applications Limitations due to Ionospheric disturbances in Brazil (Calibra) e terá duração de dois anos. Seu início ocorreu no dia 19 de novembro deste ano, e o lançamento oficial foi no dia 23 do mesmo mês, na Universidade de Nottingham, no Reino Unido. A figura mostra o símbolo proposto para caracterizar o projeto, o qual, acreditamos, proporciona uma razoável indicação do propósito do mesmo. O título do projeto está fortemente relacionado com a denominação desta coluna, uma vez que se almeja calibrar as medidas dos efeitos da cintilação ionosférica, de modo que esses e outros efeitos sistemáticos sejam eliminados ou reduzidos das medidas GNSS, situação em que a medida de precisão se confunde com a de acurácia, podendo proporcionar Alta Acurácia.
Calibra

Compõe a equipe do projeto a Universidade de Nottingham da Inglaterra, que lidera o projeto, a empresa Septentrio da Bélgica, o INGV de Roma e a Universidade de Nova Gorica, da Croácia; todos da Europa. Em termos de Brasil, participam a Unesp Campus de Presidente Prudente e a empresa Consulgel. O projeto ainda recebe o suporte da Petrobras, da Agro Pastoril Paschoal Campanelli e da Máquinas Agrícolas Jacto, além da empresa Veripos, via sua filial da América do Sul.

Um resultado bastante importante do projeto Cigala foi o desenvolvimento de receptores capazes de assegurar o rastreamento dos sinais GNSS, mesmo durante a ocorrência de cintilação de nível moderado a forte. Além disto, uma patente relacionada com o desenvolvimento de um modelo matemático para mitigação de efeitos da cintilação ionosférica ao nível de processamento dos dados foi depositada no Reino Unido e se encontra em análise. No entanto, apesar dos avanços, alguns erros ainda permanecem no Posicionamento por Ponto Preciso (PPP), juntamente com as dificuldades de solução do vetor das ambiguidades no Real Time Kinematic (RTK), associados com fortes ocorrências de cintilação. O principal objetivo do projeto Calibra é investigar esse problema, visando mitigá-los, além de ampliar a rede Cigala de monitoramento da Ionosfera, com a adição de mais cinco estações GNSS, duas delas advindas de um projeto temático financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Alunos de Mestrado e de Doutorado do Programa de Pós-Graduação em Ciências Cartográficas da FCT/Unesp poderão participar do projeto, o que lhes permitirá desenvolver atividades de pesquisa vinculadas com desenvolvimento e inovação tecnológica, uma ação muito importante no Brasil nos dias de hoje.

João Francisco Galera MonicoJoão Francisco Galera Monico

É graduado em engenharia cartográfica pela Universidade Estadual Paulista, com mestrado em
ciências geodésicas pela Universidade Federal do Paraná e doutorado em engenharia de levantamentos e geodésia espacial pela Universidade de Nottingham. Professor e líder do Grupo de Estudo em Geodésia Espacial da Unesp. Autor do livro Posicionamento pelo GNSS.

galera@fct.unesp.br