Por Eliane Alves da Silva

No fim do verão de 2013,  as torrenciais águas de março voltaram a afligir a Região Serrana Fluminense (RJ) e a Baixada Santista (SP), com enchentes, prejudicando o comércio, o turismo,  e a horticultura. Os deslizamentos de encostas soterraram casas com vítimas fatais. Não seria o caso das autoridades fazerem uma espécie de zoneamento e/ou cadastro à luz de atividades aerofotogramétricas e geodésicas,  modelos digitais do terreno em 3D, estabelecendo cotas de inundação para indenizar e reassentar as populações ribeirinhas, a exemplo do que acontece quando vão construir uma  usina hidrelétrica?

É preciso haver um controle rígido por parte das prefeituras, a fim de não permitirem  habitações e estradas em locais com mais de 45º de inclinação, pois as encostas íngremes quando o solo, fica rapidamente, saturado de água da chuva e o regolito, ou seja, o manto intemperizado desce com muita rapidez em forma de grandes corridas de lama, levando tudo junto: residências, pousadas, cultivos, árvores, trechos de rodovias, lixo. A força das águas é tão grande que chega a mudar cursos de rios e córregos.

Os movimentos de massa, aliados às chuvas fortes, são fenômenos geomorfológicos de grande magnitude, típicos de zonas de clima tropical e que temos observado a cada verão que se passa na Serra do Mar, seja no centro do estado na  Serra onde, há dois anos, atingiram  cerca de dez municípios da maior catástrofe ambiental do Estado do Rio de Janeiro ou em Angra dos Reis e até na Ilha Grande, todos locais de vocação turística. No dia 10 de janeiro de 2013, o Instituto Estadual do Ambiente (Inea), declarou Angra dos Reis em alerta máximo, devido a rápida elevação das águas do Rio Mambucaba.

A cidade do Rio de Janeiro foi assolada por enchentes, alagamentos, desmoronamentos,  em: 1966, 1967, 1994, 2011 e em 2013. Grandes voçorocas podiam ser vistas na Serra da Tijuca. Uma cabeça d’ água atingiu Guapimirim, na Baixada Fluminense em dezembro de 2012.  No mês de janeiro deste ano, seria a vez de Duque de Caxias, o famoso cantor Zeca Pagodinho ajudou a salvar seus vizinhos abrigando-os em seu sítio em Xerém. A chuva forte mais o acúmulo de lixo nas ruas desde outubro de 2012 elevaram os problemas municipais caxienses, a enésima potência.

De acordo com levantamentos da Arquidiocese de Florianópolis/SC, a partir do Atlas de Desastres Naturais de Santa Catarina/Secretaria de Estado de Segurança Pública e Defesa do Cidadão, aconteceram  muitas catástrofes, prejudicando zonas industriais de têxteis e confecções: Grande Florianópolis (1995), Blumenau (1911, 1983,  1984, 1992, 2008, 2011), Tubarão (1974), Brusque (1984, 2008, 2011), Itajaí, (2008, 2011), Gaspar (1984), São João Batista (1984) e Rio do Sul (1983). O Mapa da enchente no Brasil pode ser visto através de: Porto Alegre  (1941), Cuiabá (1974), o Vale do Aço em Minas Gerais (1979), Espírito Santo (1979), a Grande Rio Branco no Acre em 1997, São Paulo inunda  a cada verão que se passa. Alagoas também foi assolada por enchentes em 40 municípios em 2010, assim como Pernambuco, o clima semi-árido nordestino produz chuvas escassas e irregulares.

Deve haver também um grande investimento, para que haja um refinamento de detecção meteorológica de  radares de última geração e supercomputadores, melhorando e  fornecendo dados em tempo hábil, a previsão do tempo e de tempestades, para que sejam tomadas  medidas preventivas, objetivando principalmente salvar vidas. Coadjuvados com mapas de zonas suscetíveis a erosão, geologia, geomorfologia, pedologia, clima, relevo,  vegetação. Os veículos aéreos não tripulados (VANTs) poderão ser empregados com sucesso na avaliação e monitoramento de áreas arrasadas pelos desastres ambientais, achar sobreviventes, e  permitir o mapeamento de regiões que terão de ser evacuadas para sempre da população e reflorestadas.

Cabe ao poder público investir na construção de obras de arte  de contenção de encostas: furos, muros de arrimo, blocos de arame com pedras, pequenas barragens, canaletas para facilitar o escoamento superficial, túneis, fazer a dragagem constante, de rios e canais. E finalmente, transformar a população em Agentes Ambientais, para isso a Educação Ambiental é importante em todos os níveis, para que os habitantes sejam empreendedores de uma nova mentalidade sócio-a-ambiental e habitacional, e possam exercer a plenitude da cidadania.  E que sejam criados Conselhos Gestores Participativos: Ministério da Integração Nacional, Ministério das Cidades, Ministério da Justiça, Governo do Estado, Prefeitura, Defesa Civil, Polícia Militar, Polícia Civil, as Universidades, os Conselhos Regionais de Engenharia, Arquitetura  e Urbanismo, Medicina, a Ordem dos Advogados do Brasil, Autoridades Religiosas de Todos os Segmentos, e a População.

alerta máximo frente aos desastres naturais
Museu Imperial de Petrópolis

Petrópolis por exemplo, deveria ser considerada Patrimônio Cultural  da Humanidade pela Unesco porque é a única Cidade Imperial das Américas, com seu precioso e bem conservado sítio histórico. Tem no Museu Imperial um palácio de estilo neoclássico, era a residência de verão da Família Imperial Portuguesa no Brasil. Petrópolis é a cidade de Pedro! Vários presidentes da República hospedaram-se no Palácio Rio Negro – Getúlio Vargas, Juscelino Kubtschek, Artur da Costa e Silva e Fernando Henrique Cardoso, erguido em 1889, pelo Sr. Manoel Gomes de Carvalho, o Barão do Rio Negro, o assoalho da sala de jantar, cheios de galhos dos cafezais, denotam que foi um barão do café. Existe também o belíssimo Castelo do Barão de Itaipava, erigido em 1920, por Rodolpho Smith de Vasconcelos, projeto do Arquiteto Lúcio Costa e de Fernando Valentim,cenário da novela global Guerra dos Sexos.

Parque Nacional da Serra dos Órgãos
arque Nacional da Serra dos Órgãos

E o Parque Nacional da Serra dos Órgãos, Unidade de Conservação Ambiental datada  de 1939, que se estende  pelos municípios de Petrópolis,Teresópolis, Guapimirim e Magé, com inúmeras montanhas (Dedo de Deus) para a prática do alpinismo, lagos, cascatas, piscinas naturais, pistas de caminhadas, etc. É preciso deixar este legado para outras gerações, em vez  de imagens de áreas destruídas como se fossem um cenário de guerra. Estamos vivendo em plena época dos efeitos do aquecimento global. O Alerta está dado!

Eliane Alves Da Silva é Engenheira Cartógrafa/Geógrafa Msc; Conselheira da Abea/Febrae; Conselheira do Crea-RR (2002-2007); Conselheira do Clube de Engenharia  (2005-2007)