Distribuídas há 480 anos, as capitanias hereditárias estão prestes a ganhar novo desenho nos livros de História. Isso se a academia referendar a inovadora tese de um engenheiro e historiador de São Paulo, que propõe uma forma diferente para a primeira ocupação do país pelos portugueses, de 1534 a 1536, com a repartição de terras entre famílias nobres lusitanas.

Estudo sugere equívoco na representação dos limites das capitanias hereditárias
Imagem: Agência O Globo

Até 2017, o mapa revisto das capitanias pode constar do material didático comprado pelo MEC. Mas, antes disso, professores em sala podem vir a apresentar o trabalho de Jorge Cintra, membro do Instituto Histórico Geográfico de São Paulo, que fez uma longa revisão de documentos antigos.

Professor da Escola Politécnica da USP, Cintra contesta a historiografia tradicional, segundo a qual as capitanias eram todas distribuídas horizontalmente. A partir da análise de uma vasta documentação, ele viu inconsistências no modelo clássico do historiador Francisco Adolfo de Varnhagen, de meados do século XIX. A principal: no Norte, a divisão das terras teria se dado em sentido longitudinal, e não latitudinal.

O ponto de partida do trabalho foram as cartas de doação aos irmãos Martim Afonso de Souza, donatário da capitania de São Vicente, e Pero Lopes de Souza, que recebeu Santo Amaro e Santana. Nesses documentos, em vez de partir da costa para o Oeste, a linha determinada pelo rei de Portugal seguiria para o Noroeste, até cruzar com outros paralelos, formando triângulos.

— Na maioria das capitanias do Centro, realmente o rei mandava seguir a linha para o Oeste. Mas esses documentos mostram que, no Sul, isso não foi a regra. Até porque isso daria margem para capitanias muito estreitas no extremo. Talvez Varnhagen não soubesse desse fato e generalizou tudo em linhas horizontais — comentou Cintra.

Após identificar o suposto equívoco no Sul, o engenheiro resolveu analisar todas as capitanias. Após pesquisar outra carta de doação, Cintra supôs que haveria novas linhas correndo a partir de meridianos verticais, e não por latitudes horizontais. A divisão ficou ainda mais evidente quando Cintra encontrou um mapa, de 1561, onde os nomes dos donatários são escritos verticalmente em cima dos lotes que pertencem a cada um, sugerindo o formato dos lotes.

Veja a reportagem sobre o assunto com comentários do idealizador da pesquisa, Jorge Cintra:

Com informações da Agência O Globo