Desvendando Banco de Dados Geográficos – Parte 3

Continuando a série de artigos sobre modelagem de banco de dados geográficos, começo este apresentando uma frase de 1976, muito presente na literatura sobre modelagem de dados: “O mundo está cheio de coisas que possuem características próprias e que se relacionam entre si”. Esta afirmação, dita por Peter Chen, ficou conhecida como A Lei do Mundo. Essa é uma daquelas sentenças óbvias e que conseguem condensar todo um grupo de conceitos e ideias sobre um tema e que, exatamente por isso, é uma frase genial.

Quando decidimos representar nossa área de estudo por meio de dados geográficos, não vamos representar todas as coisas, suas características e relações ali presentes. Precisamos ser objetivos e, logo, representamos apenas o que interessa ao nosso estudo. Além do mais, tal representação não é única, mas sim relativa à nossa percepção – tema este que já foi discutido nesta mesma coluna há duas edições atrás. A técnica de modelagem de dados então presta para definir o que e como está sendo representado (as coisas, suas características e relações).

Alguns leitores podem pensar: “nunca utilizei essas técnicas de modelagem de dados e fui feliz até hoje em meus projetos”. Sim, isso é possível. Entretanto, esse fato não quer dizer que não houve um mínimo de modelagem, mesmo que implícita e diluída em outras etapas do seu projeto. Como também já defendi nessa coluna em edições anteriores, a modelagem é inerente a qualquer dado geográfico. Aplicar uma técnica de modelagem de dados geográficos sobre nossa representação diminui o risco que não se deixe nenhum aspecto importante de fora e nem que se incluam aspectos desnecessários. Ressalta-se que algumas propriedades são perseguidas em uma boa técnica de modelagem de dados e os modelos gerados a partir dessa técnica: ser escalável, não ser ambíguo, ser conciso e ser expressivo semanticamente (inclusive semântica geográfica). As técnicas mais utilizadas hoje convergem ao uso de pictogramas em forma de redes e diagramas para atingir melhor tais propriedades desejadas. Como exemplo, veja o modelo na página 10 do documento ET-EDGV da Comissão Nacional de Cartografia (Concar): http://goo.gl/1UvMdZ

Os modelos podem ser divididos em três tipos: conceitual, lógico e físico. Cada um representa uma etapa da criação de uma representação do mundo real por meio de dados geo-
gráficos. A etapa conceitual captura o modelo mental em alto nível de abstração, sem se preocupar com as tecnologias que serão empregadas. Já na etapa lógica, as representações conceituais precisam ser melhor definidas dentro dos recursos da tecnologia adotada. Por fim, a etapa física demanda o máximo detalhamento das estruturas de implementação com a tecnologia. Para exemplificar, o modelo conceitual é mais indicado para interação com o profissional que não tem profundo conhecimento de GIS ou de banco de dados. O modelo conceitual também deve ser adotado em especificações técnicas que são neutras a tecnologias – vide o documento ET-EDGV no link anterior. Já os outros dois tipos de modelos são direcionados à implementação da modelagem, pois detalham o “como fazer acontecer”, utilizando as tecnologias escolhidas.

Ressalta-se que nem toda a ação de modelagem precisa gerar os três modelos, pois cria-se um modelo apenas se ele agrega à documentação do projeto. A próxima coluna sobre o tema tratará especificamente sobre o modelo conceitual. Pretendo construir, ao final dessa série de artigos, um exemplo simples de modelagem e como ficariam suas etapas conceituais, lógicas e físicas. Até!

José Augusto Sapienza Ramos

Coordenador Acadêmico do Sistema Labgis da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Graduado em Ciência da Computação pela UFF e mestrado em Engenharia de Sistemas e Computação pela COPPE/UFRJ, trabalha há 14 anos com Geotecnologias com pesquisa, ensino e consultoria

sapienza@labgis.uerj.br