Confiança, imutabilidade, transparência: características que todo profissional do setor de Geo gostaria de ver para seus dados. Com a integração de Blockchain e Geotecnologia, vem aí (mais) uma revolução. Entenda…

Você já usou bitcoins para pagar por algo? Cadastrou sua carteira (wallet) online ou física? Já conhece o protocolo FOAM para transação de dados geo? É bom ficar por dentro, pois o mundo depois da tecnologia Blockchain nunca será como antes.

A Geoinformação sempre fez bom uso das tecnologias computacionais, desde as bases de dados até o armazenamento e análises na nuvem. Além disso, as tecnologias geoespaciais estão a cada dia mais sendo integradas a sistemas como ERPs, CRMs e por aí vai…

Dessa forma, é apenas questão de tempo para que possamos incorporar também a tecnologia Blockchain.

O termo “chain” é a cadeia de transações, como se fossem entradas em uma espécie de livro caixa, mas esses ativos podem ser desde dinheiro até imagens, mapas, documentos… Enfim, qualquer coisa que possa passar de uma pessoa a outra de forma online. Hoje, o que acontece é a transação entre tokens contendo somente os metadados dos ativos. Já o envio físico do ativo ocorre de forma separada.

Por sua vez, o termo “block” refere-se ao agrupamento das transações relacionadas entre si. Uma forma de visualizar a Blockchain é imaginar entradas em um livro contábil, onde todas as transações entram na sequência em que ocorrem.

Existem algumas diferenças sensíveis em relação a uma base de dados tradicional. Blockchains são abertas para todos os membros, assim como os registros das transações. Não há uma administração central, por ser uma rede ponto-a-ponto. Cada transação que entra na Blockchain é verificada e aprovada por consenso entre os membros da rede. Por outro lado, há “validadores” – chamados de mineradores – que podem revisar e validar transações.

Confiança e Imutabilidade

As duas características chave da tecnologia Blockchain são confiança e imutabilidade. A confiança é sobre a qual toda negociação acontece, enquanto a imutabilidade é a garantia de que um registro ou transação não pode ser modificado ou apagado. Quando um membro faz uma transação, data e hora são estampados e uma chave é gerada pelo computador, usando a chave privada do membro da rede. Cada transação subsequente também terá estampada seus dados (data, hora, chave).

Por isso, eu sugiro fortemente que, se você ainda não fez isso, crie uma carteira (wallet), no início online, e quando se sentir confortável com esta tecnologia, tenha uma carteira física. Tem vários serviços de carteiras online, as quais têm a finalidade básica de estocar bitcoins, mas que você pode usar para qualquer tipo de ativo. Já as carteiras físicas são como pen-drives ou tokens, válidas para quem precisa guardar valores maiores.

Hoje, em uma transação tradicional, duas partes que não se conhecem precisam de um intermediário em quem confiem, para que possam trocar ativos entre si. Um banco, por exemplo.

Em uma Blockchain, esse intermediário é substituído por uma rede ponto-a-ponto na qual a autorização e a validação das transações é feita através de um processo de consenso entre seus membros.

Ou seja, saem os intermediários e entra a troca direta!

Já imaginou onde isso pode dar? Desde a compra/venda de dados geoespaciais até mesmo o voto em políticos, já temos tecnologia para eliminar quem está entre as pessoas e tornar o fluxo de informação muito mais transparente. Mas, então, quais as barreiras para que isso aconteça?

Em alguns casos, ainda é preciso que haja um controle central, garantia de confidencialidade, rápida performance e alta escalabilidade. Num caso como este, ainda faz sentido se pensar em bases de dados. Um exemplo é o SINTER – Sistema Nacional de Gestão de Informações Territoriais -, da Receita Federal, que está sendo desenvolvido baseado em conceitos de bases de dados.

Público x Privado

Existem dois tipos de Blockchains: pública e privada. A implementação mais conhecida de uma Blockchain pública é a moeda digital bitcoin. Neste caso, um membro tem que configurar uma carteira, à qual o sistema atribui uma chave privada. A partir disso, o membro já pode interagir com a rede e usar bitcoins para pagar por bens, serviços, dados, documentos e o que mais você puder imaginar.

Já uma Blockchain privada pode ser implementada por uma instituição, tal como órgãos governamentais ou empresas, com número restrito de usuários e entrada somente através de convite. Ainda que outros membros possam ver a transação, eles não podem participar dela. As regras podem ser facilmente alteradas pelos administradores e os mineradores são certificados pela instituição.

E onde entra o Blockchain na Geotecnologia?

Existem várias áreas onde a tecnologia Blockchain pode ser usada, mas destacam-se duas: transações territoriais e repositórios de dados.

Hoje, no caso de negócios envolvendo imóveis, em regra não há confiança estabelecida entre duas partes que estão envolvidas e existe necessidade de transparência em relação aos dados. Por isso, existe uma parte que é o registro de imóveis para fazer a intermediação.

Porém, com Blockchain essa parte poderia simplesmente ser eliminada. E isso já está sendo testado em vários países, como Ucrânia, Estônia, Honduras, Georgia, Gana e Suécia (esta última está implementando um projeto piloto).

No Brasil, convivemos com erros e inconsistências em registros de terras, e ainda que as tecnologias geoespaciais tenham tido um grande impacto na digitalização de mapas e implementação de geoprocessamento, as transações de dados relativos a imóveis tende a perder sincronismo, pois constam em várias bases.

Uma implementação que integra Geotecnologia e Blockchain é o FOAM, um protocolo aberto para o mercado de dados geoespaciais na blockchain Ethereum. O FOAM associa “coordenadas” espaciais criptografadas a contratos e estes a endereços físicos. Como se sua carteira tivesse um “layer espacial” e seu dinheiro fosse creditado ou debitado em função de sua localização.

Um exemplo poderia ser o uso de transporte público, no qual um ônibus identificaria a posição geográfica dos pontos de entrada e saída do usuário no veículo e cobraria somente a distância que ele percorreu. Outro exemplo seria estocar dados geoespaciais em função de sua localização e cobrar pelo seu uso somente quando a pessoa estiver naquele local.

Para ajudar, fizemos um infográfico explicando como seria uma transação entre duas pessoas, que não se conhecem, mas que intercambiariam dados e valores sem necessidade de um intermediário:

Então, quando usar Blockchain?

Uma organização que precise trabalhar sem intermediários, onde os membros não necessariamente se conheçam suficientemente para terem confiança entre eles, numa rede que requeira abertura e transparência sobre as transações, seria uma séria candidata à implementação de Blockchain.

A tecnologia Blockchain já é realidade e veio para ficar. É uma rede imensa, distribuída globalmente, acessível por qualquer aparelho e onde qualquer coisa de valor – informação, dinheiro e até mesmo votos – pode ser movida, guardada e gerenciada de forma segura e transparente. Pois é, vem aí (mais) uma revolução…