GeoInformação

Ciência, tecnologia ou engenharia?

Com o crescente uso de tecnologias de geoinformação em diversas aplicações, vale a pena discernir os conceitos de ciência, tecnologia e engenharia. Segundo Andrew U. Frank e Martin Raubal, ciência é a procura por novo conhecimento, e engenharia é aplicação sistemática dos resultados de pesquisa científica para resolver problemas do mundo real de modo previsível e bem sucedido.

O sucesso de um experimento científico não pode ser garantido. Um experimento científico que não confirma a hipótese é tão válido quanto o que confirma. Já o resultado de um projeto de engenharia deve funcionar previsivelmente. Por exemplo: engenheiros constroem pontes e muito raramente uma ponte falha. Ou seja, as falhas não são aceitáveis e são prejudiciais para a carreira do engenheiro. As leis científicas são combinadas com os resultados da experiência de longo prazo e com orientações úteis, que codificam o estado da arte em padrões que os engenheiros seguem.

Já a tecnologia faz a ciência encontrar a engenharia e é um termo que inclui desde ferramentas e processos simples, como uma caneta, até ferramentas e processos mais complexos, como o segmento espacial do GPS.

Os autores ainda acrescentam que a engenharia de geoinformação consiste em regras previsíveis, baseadas em ciência, de como construir sistemas de geoinformação que funcionam. Os resultados científicos produzidos nas últimas décadas são substanciais e cobrem a maioria dos aspectos da informação geográfica, mas não são ainda reduzidos à prática para serem simplificados em regras úteis de engenharia.

Também sugerem que o curriculum da graduação do engenheiro de geoinformação seja sustentando por três pilares:

• Geo: topografia, fotogrametria, sensoriamento remoto, conceitos de geografia física e humana; saber modelar e analisar processos espaciais bem comunicar utilizando a cartografia digital;

• Info: linguagens de programação, tecnologia de banco de dados, princípios de interface homem-máquina, geometria computacional, avaliação da qualidade de dados, redes e tecnologia móvel, ciência da informação, estrutura lógica da informação, indexação espacial, integração de dados, semântica;

• Business: marketing, design de novos produtos, satisfação do cliente, comércio eletrônico, aspectos legais tais como direitos de privacidade, “copyright” de dados e responsabilidade legal.

Acrescento nesta lista a geoestatística, príncipios de CAD, BIM e FM com integração ao GIS. Seria um grande desafio e um tanto polêmico, integrar todas estas disciplinas na fusão que se assiste neste momento do curso de engenharia cartográfica com o de agrimensura.

Também os autores Allan Brimicombe e Chao Li, no livro Location Based Services and Geo-Information Engineering, consideram engenharia de geoinformação uma extensão da ciência da geoinformação, dentro de projetos de soluções confiáveis de engenharia para uso da sociedade da geoinformação, apoiando aplicações tais como LBS.

Enfim, cabe aqui uma reflexão se o profissional de geoinformação deve ser um engenheiro ou um tecnólogo, ou ainda se devemos continuar a adotar equipes multidisciplinares que variam conforme a aplicação.

Pedro Guidara Junior
Especialista em engenharia de geoinformação, engenheiro cartógrafo, mestre em engenharia – informações espaciais pela EP-USP, diretor da Metalocation
pedro@metalocation.com.br