A pandemia da Covid-19 impactou negativamente diversos ramos da economia em 2020, com perdas financeiras significativas e fechamento generalizado de empresas. Essa não foi necessariamente a realidade do mercado espacial, que conseguiu crescer, mesmo que de forma discreta, no ano passado.

De acordo com estudo da Bryce Tech, em parceria com a Satellite Industry Association (SIA), a economia espacial global avançou 1,4% em faturamento entre 2019 e 2020. Isso significa que ela saltou de US$ 366 bilhões para US$ 371 bilhões. Apesar de pequena, essa taxa de crescimento já vinha sendo registrada nos últimos anos, o que demonstra uma consolidação dessa indústria.

Desse montante, 26% se refere a programas espaciais governamentais e voos comerciais para o espaço. O restante, 74%, está voltado para a indústria de satélites. Ao todo, foram gerados US$ 271 bilhões no ano passado com toda a cadeia satelital, que envolve os serviços, equipamentos de solo, fabricação e lançamento.

Esse número deixa claro que o ramo dos satélites é o dominante dentro de toda a economia espacial. Não por acaso, afinal eram 3.371 satélites operacionais em 2020, o que representa um aumento de 252% em relação a 2010, segundo a Bryce Tech.

E a maior participação nessa quantia se refere a satélites voltados para comunicação, sejam eles comerciais ou sem fins lucrativos, totalizando 48%. Na sequência aparecem os satélites de Sensoriamento Remoto e Observação da Terra (17%) e Pesquisa e Desenvolvimento (11%). Por fim, com menor share, estão os equipamentos de Vigilância Militar, Comunicações governamentais, Navegação e Ciência.

“Graças à resiliência da indústria comercial de satélites, ela novamente dominou o mercado espacial global, que cresceu em 2020, apesar da pandemia da Covid-19”, comenta o presidente da Satellite Industry Association, Tom Stoup. “Ao entrarmos nesta nova década, somos lembrados de que apenas a indústria de satélites pode fornecer serviços espaciais verdadeiramente onipresentes, de alta qualidade e confiáveis ​que os consumidores, governos e clientes empresariais demandam e exigem tanto em casa como em todo o mundo”, completa.

Dentro da indústria de satélites, a parte que mais faturou em 2020 foi a de equipamentos de solo, que englobam redes de comunicação, estações terrestres de comunicação, entre outros. Só essa fatia representou US$ 135,3 bilhões, o que significa que 50% de todo o faturamento dessa indústria teve relação com estrutura no solo. Em segundo lugar estão os serviços satelitais, com 44% do todo, um total de US$ 117,8 bilhões. Na sequência aparecem a fabricação de satélites (US$ 12,2 bilhões) e serviços de lançamento (US$ 5,3 bilhões).

Esses dois últimos aspectos têm uma característica que se destaca, que é uma participação significativa dos Estados Unidos. Na fabricação de satélites, por exemplo, o faturamento foi de US$ 7,9 bilhões, ou seja, 65%. No caso dos lançamentos, a fatia é menor (40%), mas mesmo assim significativa. Só os Estados Unidos contribuíram com US$ 2,1 bilhões em faturamento.

Programas espaciais

Como não poderia ser diferente, os Estados Unidos também lideram com folga os investimentos nos programas espaciais. De acordo com a Euroconsult, o país investiu US$ 46,691 bilhões no seu próprio programa espacial. Um valor que vem aumentando com o tempo: em 2016 foram US$ 35,957 bilhões e em 2018 foram US$ 40,996 bilhões.

Mas não são apenas os Estados Unidos que têm investido mais nos programas espaciais. Quando se olha do ponto de vista global, o crescimento nos últimos anos é evidente. De 2016 a 2020, o avanço foi de 33%, partindo de US$ 62,2 bilhões e chegando a US$ 82,5 bilhões.

Entre os países que mais contribuem para engordar esse montante estão outras grandes potências econômicas, como China, França, Rússia e Japão. Nessa ordem são as nações que fecham o top 5 de investimentos em programas espaciais, mesmo assim com valores bem mais baixos.

A China, por exemplo, aportou US$ 8,852 bilhões em 2020, o que representa apenas 19% do total investido pelos Estados Unidos. A França, menos da metade da China, com US$ 4,04 bilhões. Na sequência vem a Rússia com US$ 3,58 bilhões e o Japão com US$ 3,323.

Quando feito o recorte somente com os países do BRICS, além de China e Rússia, se destaca a Índia, que investiu US$ 2,042 e está no top 10 global. E o caso indiano é significativo, pois o crescimento de aporte entre 2016 e 2020 foi de 87%. Da mesma forma, a África do Sul, que apesar de não colocar um valor tão significativo, aumentou o investimento em 75% nesse período, saindo de US$ 20 milhões para US$ 35 milhões.

Por outro lado, o Brasil, que fecha os países do BRICS, apresentou um recuo entre 2016 e 2020. Se naquele ano o investimento era da ordem de US$ 163 milhões, no ano passado caiu para US$ 61 milhões, uma queda de 62%.

Esse recuo fez com que o Brasil perdesse a liderança regional. Se em 2016 era líder na América do Sul, agora está atrás da Argentina, que aportou US$ 82 milhões no ano passado. E o Brasil não fica atrás somente na região, mas também de países com pouca ou nenhuma tradição espacial, como Indonésia (US$ 303 milhões), Emirados Árabes Unidos (US$ 148 milhões) e Tailândia (US$ 94 milhões).

O valor apontado pela Euroconsult pode, inclusive, ser ainda menor no caso do Brasil. Isso porque o orçamento federal direcionado para o setor aeroespacial não necessariamente foi utilizado em sua totalidade, gerando alguma distorção entre o projetado e o realizado. Dessa maneira, a MundoGEO vai, em outro momento, esmiuçar os dados brasileiros, a partir de fontes oficiais.

MundoGEO inicia série com dados sobre o mercado espacial

Esta é a primeira matéria de uma série que vai mostrar os desafios do mercado espacial no mundo e, especialmente, no Brasil. Para isso, a MundoGEO está buscando diversas fontes de dados para fornecer um raio-x aprofundado do setor.

Além disso, a MundoGEO está realizando Lives preparatórias para o evento SpaceBR Show, que tem o apoio da Agência Espacial Brasileira (AEB), que vai acontecer entre 9 de 12 de novembro no formato 100% online.

“O setor espacial está deixando de ser um investimento pontual e se tornando no mundo inteiro uma vertical econômica forte, atraindo empresas privadas, investidores e mais participação dos governos de vários países. A comunidade brasileira do setor espacial precisa acelerar e participar deste mercado global que não se reduz só em ações nacionais”, aponta o CEO da MundoGEO, Emerson Granemann.

SpaceBR Show 2021, evento 100% online e gratuito de 8 a 12 de dezembro