Jack Dangermond

Jack Dangermond é sinômino de GIS. É formado em Ciências Ambientais pela Faculdade Politécnica da California, tem especialização em Planejamento Urbano no Instituto de Tecnologia da Universidade de Minnesota, e especialização em Arquitetura Paisagista na Universidade de Harvard. Dangermond é fundador e presidente da Esri, empresa líder no mercado de GIS desde 1969.

Em julho, participou do GEOBrasil Summit 2007, realizado em São Paulo, e recebeu a equipe da revista InfoGEO para uma entrevista exclusiva. Falou sobre a necessidade de uma nova visão a respeito dos problemas globais, com a utilização do GIS como uma forma de tornar as mudanças possíveis. Ainda falou sobre o impacto que as ferramentas de mapeamento na web estão exercendo no mercado mundial de GIS e também sobre as novidades dos produtos da Esri.

InfoGEO: Como o GIS pode ser útil no combate aos problemas ecológicos e sociais do mundo?
Jack Dangermond: Para entender isso, primeiro temos que definir quais são os problemas. Durante minha vida, vi a população do planeta praticamente triplicar. E as implicações disso são cada vez mais evidentes, pois quanto mais pessoas existem, maior é o consumo. E esse consumo resulta em conseqüências significantes, como aquecimento global, perda de biodiversidade, contaminação dos oceanos, extração de recursos naturais acima de níveis sustentáveis, etc.. Além disso, o gargalo entre os ricos e os pobres está acarretando em conflitos sociais. Então, as pessoas estão começando a perceber que precisamos de um novo enfoque. Uma visão que lide com o mundo como um todo. Eu sugeriria uma visão que considere a forma como o ser humano pensa a respeito do mundo. O enfoque geográfico é uma possibilidade para mudar essa situação.

IGEO: Como tornar possível esse enfoque geográfico?
JD: O enfoque geográfico se tornaria um sistema para criar tecnologia geo-gráfica. Isso afeta o planejamento, as tomadas de decisões e a maneira como nós desenvolvemos as coisas. O GIS faz isso, mas numa escala muito pequena, mesmo com milhões de usuários de aplicações de GIS no mundo. Mas no futuro isso será mais efetivo, quando for em grande escala. Hoje, ferramentas simples como o Google Earth e o Microsoft Virtual Earth estão  mostrando como podemos fazer isso. Mas essa tecnologia é muito mais simples que as ferramentas de GIS, porém ao menos estão mostrando o que isso significa. Acredito que o GIS, a longo prazo, vai se tornar muito poderoso. Há 25 anos, quando introduzimos o ArcInfo, as máquinas que trabalhávamos eram muito lentas. E hoje, temos máquinas milhões de vezes mais rápidas. As redes estão mais rápidas e possibilitam a transmissão dos dados via internet. Estamos apenas começando. No futuro, o GIS vai se tornar o sistema nervoso do planeta. Vai estudar as mudanças do meio ambiente, a educação, a mobilidade, tudo que pode ser mensurado. E as pessoas terão acesso a isso, para combinar, visualizar e analisar os dados.

IGEO: Você acredita que a popularização de ferramentas como o Google Earth e Microsoft Virtual Earth pode ser boa para o mercado de GIS?
JD: Definitivamente. Essas ferramentas estão tendo um grande impacto em todas as empresas privadas que trabalham com informações geoespaciais. Esse ano, a Esri está crescendo 20% e agora temos menos problemas para explicar às pessoas o que fazemos. Claro que essas aplicações não são profundas , mas têm um tremendo efeito na criação e compreensão do que a informação geoespacial pode fazer.

IGEO: Com essas ferramentas, os governos e empresas estão dando mais valor às informações geoespaciais?
JD: Agora, órgãos públicos e executivos de empresas conseguem ver informações usando GIS. Com visualização na web, as pessoas querem construir seus próprios sistemas ou fazer uma análise geográfica e se tornarem mais atentos à situação geográfica, nos governos, educação e pesquisa. Acredito que as ferramentas simples serão complementadas com as da indústria, com satélites, com GPS e toda a família de software geográfico. Essa mudança está tirando os softwares de GIS das grandes estações de trabalho e levando para computadores pessoais. No fim, essas mudanças resultam em um grande crescimento do mercado de GIS.

IGEO: O lançamento do ArcGIS Explorer é uma resposta a essas  ferramentas?
JD: A proposta do ArcGIS Explorer não é competir com o Google Earth ou com o Microsoft Virtual Earth. Eles são ferramentas de simples visualização. O ArcGIS Explorer foi desenvolvido para manipular dados, não apenas para visualizar as informações, mas para análise. Nossos planos são também de integrar nossos serviços de GIS com mashups, para tornar o GIS um serviço disponível na web.

IGEO: Quais as novidades do ArcGIS 9.3 em termos de interoperabilidade?
JD: A Esri, junto com todas as outras empresas da indústria geoespacial, dá grande ênfase à interoperabilidade. Trabalhando com OGC e ISO, começamos a ver alguns padrões que são importantes para informações na internet, como WMS, WFS, GML, suporte para imagens e serviços na web. O ArcGIS 9.3 é totalmente interoperável e suporta OGC e padrões como Soap, dados de CAD, imagens, PDF, entre outros. Existem outros casos que lidam com interoperabilidade e que precisamos trabalhar. Um deles é padrão de conteúdo, que lida com modelos de dados e informações semânticas, e o outro é o Spatial ETL e sua a integração com GIS, possível pela parceria com a Safe Software. A interoperabilidade é um grande desafio para nós, porque o GIS precisa ir além do mundo da geografia e entrar em outras áreas.

IGEO: Como você analisa o mercado de GIS na América Latina, especialmente no Brasil?
JD: De forma geral, a América Latina e o Brasil seguem a dinâmica do mercado mundial. Acredito que a América Latina representa 5 ou 6% do mercado global de GIS, que é similar a outros investimentos em Tecnologia da Informação. Mas acredito que as pessoas começam a perceber que há um retorno muito grande nos resultados do enfoque geo-gráfico, tanto em eficiência como em economia. E o Brasil está despertando, como o restante do mundo, para o poder da informação geoespacial.

Por Gustavo Ribeiro de Francisco