A demanda por estes especialistas é grande, porém há profissionais despreparados e falta incentivo nas universidades

Nos últimos dias não se fala em outro assunto no Brasil: os desastres causados pelas fortes chuvas na região serrana do Rio de Janeiro. Areal, Bom Jardim, Nova Friburgo, Petrópolis, Teresópolis, São José do Vale do Rio Preto e Sumidouro presenciaram as catástrofes que deixaram mais de 600 mortos na região. Muitas falhas foram apontadas, mas o problema pode estar bem perto, e ao mesmo tempo longe.

Os profissionais envolvidos nos estudos e nos trabalhos de prevenção de desastres naturais são engenheiros civis, geólogos, geotécnicos, entre muitos outros. Apesar da demanda por estes especialistas ser grande, a falta de incentivo nas áreas, empecilho encontrado atualmente, e a preparação precária na universidade, problema antigo, são as principais causas da falta desses profissionais no mercado de trabalho e também para atender em situações como a que está acontecendo no Rio, apontam doutores da área.

[leia-tambem-direita]Segundo Fernando Kertzman, presidente da Associação Brasileira de Geólogos (ABGE), o problema pode estar nas instituições de ensino superior. “O que falta nas universidades são aulas sobre riscos e geografia ligada às áreas urbanas. O interessante é que essas instituições comecem a pensar nessas situações. Hoje o que se forma são geólogos tradicionais, e as universidades têm que visar uma formação mais profissionalizante”, e aponta que uma solução para esse preparo deficitário seria colocar cadeiras optativas voltadas aos deslizamentos de terras. “Com isso apareceriam mais profissionais e muito mais vagas de empregos”, ressalta.

De acordo com ele, os geólogos já haviam alertado sobre os riscos de deslizamentos em áreas íngremes. “Na Associação contamos com mais de 600 artigos sobre o problema das encostas”, alerta.

Bruna Bulnes é estudante de geografia da Universidade de Brasília (UNB) e diz gostar da matéria de geologia, porém, apesar da instituição na qual estuda ser uma das melhores do Brasil, e contar com aulas de campo fora do Distrito Federal, a aluna relata que é difícil se especializar neste setor. “Como sou aluna da geografia, acabo tendo dificuldade perante os departamentos para conseguir matérias relacionadas a esta área – que estão nos departamentos de geologia e engenharia civil -, o que acaba desestimulando a estudar estes conteúdos”, conclui.

Geotecnia

Na área de geotecnia a situação é quase a mesma. O profissional faz o curso de engenharia civil e se especializa em geotecnia, porém acaba parando por aí. Fernando Marinho é engenheiro civil e geotécnico, professor doutor na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli USP) e membro da Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica (ABMS). Ele afirma que o profissional geotécnico é uma das peças fundamentais na prevenção de desastres. “Atualmente, faltam engenheiros civis e geotécnicos, e o mercado precisa desses profissionais. Isso se tornou evidente com os desastres, pois passamos anos sem precisar desses especialistas (com relação a desastres). Sem dúvida tem que haver uma equipe composta por vários profissionais para gerenciar os desastres naturais, e isso inclui o engenheiro geotécnico”, completa.

Quanto à falta de qualificação, ele destaca que uma pós-graduação em geotecnia ajuda efetivamente o engenheiro civil que deseja seguir a área e se mostra otimista quanto ao crescimento de especialistas no ramo. “Daqui a três ou quatro anos teremos mais profissionais geotécnicos”, finaliza.

Todos os profissionais entrevistados pelo Portal MundoGEO concordam com o fato de que a demanda é grande nas áreas de geologia e geotecnia, e que faltam profissionais para cobrir as vagas, principalmente no setor público.

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