Estudos sobre a Ilha de Páscoa vão além de suas estátuas icônicas. Soluções aéreas não tripuladas estão fornecendo novas informações para os cientistas e residentes da ilha

Localizada no Pacífico Sul, a minúscula Ilha de Páscoa (tradicionalmente conhecida como “Rapa Nui”) é um dos lugares mais isolados e intrigantes do planeta, e tem sido fonte de fascínio – e desacordo – entre historiadores e arqueólogos. Pesquisadores de todo o mundo têm realizado, durante décadas, estudos antropológicos ambientais e sobre as famosas estátuas de Rapa Nui. No entanto, uma importante ferramenta científica tem faltado: apesar de anos de pesquisa, não há nenhum conjunto de dados geoespaciais abrangente para Rapa Nui. Isto é, até que uma equipe de cientistas da Califórnia começou a trabalhar para resolver o problema.

Para muitos pesquisadores, a compreensão de como as mais de 900 estátuas de rocha (conhecidas como “moai”) foram criadas, movidas e encaixadas, requer um quadro maior da vida dos residentes pré-históricos de Rapa Nui. Esculpidas em afloramentos expostos de basalto encaixadas em plataformas de pedra maciça, denominadas “ahu”. Em média, as estátuas possuem, aproximadamente, 4 metros de altura e pesam 12,5 toneladas, mas algumas possuem quase 10 metros de altura e pesam mais de 82 toneladas.

Para aprender sobre a pré-história da ilha é preciso começar com a própria ilha. Rapa Nui é pontilhada com evidência de seus habitantes pré-históricos, incluindo ruínas de casas, fornos, jardins e características de cultivo. De acordo com Carl Lipo, Professor de Antropologia da California State University Long Beach (CSULB), toda a ilha é um mistério. Lipo realizou uma pesquisa significativa sobre o moai, mas atualmente sua pesquisa está focada nos recursos naturais da ilha, como a água doce e suas relações com assentamentos arqueológicos. “A topografia é a chave para a compreensão do registro arqueológico”, explicou Lipo. E ainda acrescentou que boa parte dos dados topográficos ajudam a identificar antigas estradas e canteiros de obras que não são detectáveis a partir do solo.

Arqueologia a partir de cima

As imagens aéreas de alta resolução fornecem informações que auxiliam na análise da topografia mas fatores como o isolamento da ilha e orçamentos limitados têm frustrado a utilização de fotografias aéreas em Rapa Nui. Além disso, as imagens de satélite que estão disponíves não fornecem a resolução necessária para as pesquisas. Assim, a equipe de pesquisa da CSULB têm experimentado uma variedade de plataformas aéreas, incluindo os drones de asa fixa.

Em janeiro de 2015 a equipe realizou um projeto ao longo da costa sul de Rapa Nui com o objetivo de avaliar o desempenho do VANT em capturar imagens aéreas e de integrar as ortofotos resultantes com os conjuntos de dados existentes. Os pesquisadores selecionaram o sistema de aviões não tripulados Trimble UX5 para coletar as imagens. “Em nove dias voamos mais de 26 missões que abrangeram uma área de, aproximadamente, 18,5 km². O VANT capturou mais de 20.000 imagens que foram processadas, produzindo 26 ortofotos.” disse Lipo.

Christopher Lee e Eliza Pearce lançam o VANT Trimble UX5.

A equipe identificou um mínimo de cinco pontos de controle para cada voo, e as estações foram medidas com o Trimble GeoExplorer 6000 GNSS. Segundo Lipo, como um backup, a equipe também operou a partir de sua própria base GNSS.

Com o VANT, Lipo completou três a quatro voos por dia, utilizando a aplicação Trimble Access Aerial Imaging para definir os polígonos das áreas de cobertura para cada voo. Os polígonos permitiram otimizar os voos para cobrir as áreas perto da costa da ilha. Segundo os pesquisadores, o planejamento foi muito útil no sentido de obter a melhor cobertura da área diante de ventos constantes, terreno irregular e rochoso que limitaram a seleção dos locais de desembarque. Em vários casos, os pesquisadores lançaram missões a partir do mesmo local, com a aeronave voando um quilômetro ou mais para a área de destino antes de obter as fotos, além disso os pesquisadores mudaram as câmeras, substituindo a câmera colorida de alta resolução por um sensor de infravermelho próximo. “É uma mudança rápida, e você pode reutilizar o plano de voo anterior. Assim, é possível combinar os dois voos para iluminação e tempo ” disse Lipo.

Trabalhando para gerenciar os grandes conjuntos de dados, o sistema produziu 60 GB de imagens a partir das quais derivam DEMs para análise topográfica. A equipe utilizou o software Trimble eCognition para classificar os recursos arqueológicos e identificar os restos de casas, plataformas de pedra e estruturas circulares.

Ortofotos produzidos pela equipe CSULB.
Ortoimagem (topo) e DEM na escala 1: 125.

Uma ilha de Informação

O alto desempenho do VANT da Trimble convenceu a equipe CSULB do valor da utilização de imagens aéreas. A equipe está planejando novos projetos que utilizarão o sistema Trimble para cobrir toda Rapa Nui com a finalidade de obter imagens de alta resolução. Além da arqueologia, as imagens aéreas podem apoiar outras atividades na ilha. As informações podem auxiliar o Ministério de Obras Públicas no planejamento e desenvolvimento do ecoturismo como, por exemplo, o Ministério está planejando implementar ciclovias ao redor da ilha. Assim, os dados podem fornecer informações detalhadas que permitem projetar caminhos para acessar os recursos históricos, sem danificar o registro arqueológico. Além disso, as imagens permitem aos pesquisadores e funcionários do governo ver mudanças na topografia ao longo do tempo, de modo a avaliar o impacto do turismo e do desenvolvimento na ilha.

Para Lipo, a recompensa está na ciência. Ao combinar a informação topográfica com dados hidrológicos, ele obteve novas informações sobre a história de Rapa Nui. Para ilustrar, ele aponta que os moai e ahu se instalavam com base na localização de água, em vez de visibilidade como se acreditava anteriormente. “Os dados são surpreendentes”, disse Lipo. “Agora enxergamos coisas que antes não era possível, mesmo que a ilha tenhasido estudada por centenas de anos. O VANT fornece um registro completo do que está no chão. É a maneira que a arqueologia deve ser feita.”