Por Rogerio Galindo
A recente privatização das rodovias brasileiras causou uma verdadeira explosão de serviço para quem trabalha com estradas. Durante décadas, tudo o que precisava ser feito neste setor dependia exclusivamente da contratação do governo. Licitações demoradas. Ausência de iniciativa para novas obras e falta de verba para execução de serviços eram empecilhos cfonstantes às obras necessárias de modernização e reparo de nossas estradas.
A administração das novas concessionárias, que têm interesse em prestar bons serviços para poder cobrar por eles, trouxe uma onda de lucro e contratos para empresas de vários ramos de atuação. E quem presta serviços de topografia não ficou de fora.
Por um lado, as empresas que ganharam as concessões das rodovias precisam, antes de mais nada, conhecer o produto que têm em mãos para explorar. Para isso, é preciso encomendar um levantamento topográfico de estrada e levantar o máximo de informações possíveis sobre ela. Os mapas, cartas e plantas produzidos a partir deste levantamento é que vão guiar a concessionária e dizer o que precisa ser feito para melhorar as condições da rodovia.
Por outro lado, os contratos de concessões incluem cláusulas de modificações nas estradas, que vão desde recapeamentos de asfalto até duplicações de trechos e expansão do trajeto. E em todas estas obras a topografia é fundamental.
O momento é bom para quem executa trabalhos e para quem vende equipamentos de topografia. A venda de equipamentos sofisticados como estações totais e receptores GPS com tecnologia RTK (tempo real) para projetos relacionados a estradas tem aumentado sensivelmente.
Modernização
Como as empresas prestadoras de serviços estão tendo que realizar muitos trabalhos e, geralmente, em muito pouco tempo, precisam comprar novos e mais modernos equipamentos para poder cumprir os prazos fornecidos pelas empreiteiras.
O supervisor Marcus Vinícius Martins, da Copavel, por exemplo, é um entusiasta da topografia automatizada. Segundo ele, foi o uso de estações totais que possibilitou que sua empresa terminasse a tempo um serviço de duplicação encomendade pelo DNER. O trecho, de 42 km, do Corredor São Paulo – Curitiba – Florianópolis teve que ter todos os serviços de topografia feitos em apenas 4 meses, em um período de chuvas constantes.
"Isso seria impossível de fazer com equipamentos convenvionais. Levaria no mínimo 1 ano até terminarmos, e nós não tínhamos esse tempo", afirma Martins.
Equipamentos
Estações totais já são bastante comuns em implementação e fiscalização de projetos para estradas. Cada vez é mais raro encontrar quem ainda use teodolitos e equipamentos convencionais para esse tipo de serviço. Mas a novidade mais recente na topografia para estradas é o uso de equipamentos GPS para execução dos serviços.
O GPS não substitui os equipamentos topográficos em uma obra para estrada. Na verdade, o posicionamento por satélite em geral é usado como apoio para a topografia. Receptores GPS de precisão geodésica são usados para marcar 2 pontos intervisíveis a cada trecho de 5 ou 10 km da estrada. Todos os pontos levantados pelas estações totais serão então amarrados nestes pontos GPS, o que aumenta muito a precisão do levantamento.
Se forem marcados pontos de controle a cada 10 km, ao final de um trecho de 40km, esse erro pode ser de até 1m, considerando uma precisão de 1:40.000. Para topografia convencional, este é um valor bastante alto.
Em artigo publicado recentemente na revista americana GPS World, o responsável pela topografia das estradas do Estado de Nova Iorque dá uma mostra de quanto o uso do GPS pode ser proveitoso em trabalhos para estradas. Segundo ele, depois de 250 projetos executados com o posicionamento por satélite, não foi preciso retornar uma vez sequer a campo para levantar de novo um ponto medido.
Embora tenha melhorado muito o desempenho dos levantamentos para estradas, o GPS não é a solução para todos os problemas. As medições altimétricas feitas com os receptores não são tão precisas quanto a latitude e a longitude que o GPS fornece. As cotas, em serviços de acabamentos, às vezes precisam ser medidas por níveis eletrônicos de alta precisão. Caso contrário, todos os pontos da topografia estarão amarrados em referências pouco confiáveis.
Metodologia
A elaboração de projetos rodoviários sofreu alterações com a introdução dos softwares especificamente produzidos para esse fim. Luiz Renato Brunetta, responsável pela topografia de 387 km da Rodovia das Cataratas, conta que antes estudava-se o traçadop em cartas e restituições aerofotogramétricas. A partir disso, restituía-se o perfil longitudinal, estudava-se uma grade, e restituíam-se as seções transversais de pontos críticos para melhor visualização.
"Qualquer modificação envolvia novamente toda a seqüência", diz Brunetta. Em seguida, equipes de topografia materializavam, nivelavam, e seccionavam o traçado.
"Atualmente, após a definição de um anteprojeto geométrico (linha base), equipes de topografia vão a campo para sua implantação, fazendo levantamento planialtimétrico cadastral de uma faixa a ser definida, criando uma malha de pontos topográficos e notáveis. Depois, gera-se o modelo digital da superfície levantada."
Com o software de projeto é possível definir-se traçados, gerar perfis, estudar grades, taludes, gerar e visualizar seções transversais, gerar seções para projeto de viadutos e bueiro, além de fazer todo tipo de estudos geométricos.
"Outro fator importante é que com estudo de várias alternativas, tem-se o melhor parâmetro técnico-financeiro das obras. Os relatórios de projetos e volumes, e toda a parte gráfica do projeto final de engenharia neste caso, passam a ser automáticas".
Obras
O pessoal da concessionária de estradas Renovias está sentindo a diferença que o GPS faz. Os técnicos, que já usaram um receptor GPS da Novatel para locar os postos de pedágio da estrada SP-340, agora estão adquirindo um link de rádio para executar os serviços para duplicação com correção em tempo real.
O encarregado de topografia da empresa, Nicodemos Freitas Filho, diz que com este equipamento e mais as duas estações totais Nikon já compradas anteriormente vai ser possível implantar todos os trechos de uma duplicação de 40 km em apenas 30 ou 40 dias.
A TST Topografia, que presta serviço para a Ecovias, em São Paulo é outro exemplo. Com experiência právia em uso de receptores geodésicos de uma freqüência, os técnicos da empresa estão agora usando um equipamento de tempo real para levantamentos topográficos, implantação de apoio à topografia convencional e locação de pontos.
Topografia para GIS
Outro uso que tem sido dado ao GPS em estradas é o mapeamento de rodovias já existentes. Quem está fazendo isso atualmente é o Departamento de Estradas de Rodagem (DER) de Minas Gerais. A idéia, no caso, é obter todas as informações necessárias para criar um sistema de informações geográficas da malha viária existente.
Com equipamentos de navegação e uma base para correção diferencial, uma equipe que varia entre 3 a 6 técnicos está mapeando os 25.204 km de rodovias mineiras sob responsabilidade do DER.
Na primeira fase do projeto, estão sendo levantados dados de traçado, interseções e principais pontos notáveis, como pontes. Para a segunda fase, em que serão mapeados sistemas de drenagem, placas de trânsito e estado do pavimento, por exemplo, estão sendo criados grupos de trabalhos nas principais cidades mineiras.
Até dezembro, 15.000 km haviam sido georreferenciados na base cartográfica do Departamento, que foi recentemente atualizada através de cartas do IBGE. Cerca de 10 pessoas trabalham na construção do sistema de informações.
Os resultados, de acordo com o engenheiro Luís Carlos Soares, Coordenador do Departamento de Geoprocessamento, são muito bons. "É impossível um departamento como o nosso não ter um mapa de sua malha viária para gerenciar suas estradas. O geoprocessamento é um caminho que não tem retorno. Chegou para ficar", diz Soares.