Por Eduardo Freitas Oliveira

O trabalho de campo sofreu grandes mudanças nos últimos anos e se transformará ainda mais em um futuro próximo. Levantamentos não se restringem mais a apenas uma estação total e um GPS. Apresentamos, de forma clara e simples, um panorama geral sobre as novas tecnologias, aplicações e as oportunidades que acompanham o desenvolvimento galopante desse mercado.

Se há algum tempo o profissional de campo que utilizava somente um teodolito e um nível precisou se atualizar para operar estações totais e equipamentos GPS, pode se preparar para estudar ainda mais, pois novas tecnologias de levantamentos surgem a cada dia e promissores campos de trabalho estão se abrindo.

A atuação de um topógrafo no final do século XX era receber a solicitação de um serviço, planejar o levantamento, ir a campo e entregar os dados para a equipe de escritório. Com o advento das estações totais e dos equipamentos GPS, o trabalho operacional foi simplificado substancialmente; hoje existem no mercado estações robotizadas ou integradas com GPS, fazendo com que os procedimentos de campo sejam gradativamente revistos.

Se você, engenheiro agrimensor, cartógrafo ou topógrafo, acha que está atualizado por conhecer o funcionamento de dois ou três tipos de estação total, deve correr para os livros, revistas e sites especializados e conferir as novas tecnologias e aplicações que estão entrando com tudo no mercado.

Mas não se desespere, caro leitor. A InfoGPS|GNSS dá uma mãozinha providencial e mostra abaixo um apanhado geral de termos e siglas com as quais você, inevitavelmente, ainda vai se familiarizar.

Novas tecnologias

• RTK: Esta sigla já não é mais uma novidade mundialmente, mas ainda é pouco conhecida no Brasil. RTK significa Real Time Kinemathic, e alia tecnologia GPS a um rádio-modem ou a um telefone GSM para obter correções em tempo real. Segundo Eduardo Oliveira, diretor da Santiago&Cintra, as novas tendências do mercado serão a implantação de redes de referência RTK e estações de referência virtuais (VRS), além do uso de estações totais robotizadas.

• GNSS: Até algum tempo atrás o GPS reinava absoluto no espaço. Porém, atualmente existem aparelhos que rastreiam o Glonass e estão prontos para receber os sinais do Galileo. A China pretende lançar o Compass e também há os sistemas que corrigem o sinal GPS, como o EGNOS, o WAAS, o MSAS e o GAGAN. A sigla que engloba todos estes sistemas é a GNSS, que significa Sistemas Globais de Navegação por Satélites. Qualquer profissional que utilize posicionamento satelital deve estar familiarizado com essas tecnologias e com os sinais que serão enviados por cada um dos sistemas.

• Imagens de alta resolução e dados gratuitos: A resolução espacial das imagens de sensores orbitais está aproximando-se da resolução de imagens de aerofotogrametria, sendo utilizadas para fins cadastrais, e podem ser aliadas ao trabalho de campo em áreas onde não há dados suficientes. Imagens de média e baixa resolução espacial podem ser obtidas gratuitamente na internet, como as cenas dos satélites LandSat, Modis e CBERS, que estão a dois cliques de distância e podem auxiliar em planejamento de missões de campo e mapeamentos de áreas em que a precisão não seja tão importante.


-> Imagem CBERS obtida gratuitamente na internet

• Laser scanner, radar e aerofotogrametria digital: O mapeamento utilizando laser scanner fornece superabundância de dados, com informações tridimensionais diretas de uma área, que podem ser integradas com os dados de campo. Os levantamentos com radar e aerofotogrametria apresentam grande precisão aliada a grandes áreas, e já existem estudos para uso de veículos não tripulados para mapeamento com máquinas fotográficas digitais de pequeno porte.

• GIS e CAD: Cada vez mais o GIS é utilizado diretamente em campo, através de PDAs integrados com GPS, aplicações voltadas para a internet e acesso a dados remotos através de servidores de dados geográficos. Se há alguns anos nenhum profissional de campo precisava saber desenhar no computador, hoje os programas CAD estão cada vez mais intuitivos e até mesmo projetos 3D são facilmente elaborados.

• Google Earth e interoperabilidade: O Google Earth tornou-se uma fonte de dados para dar suporte a levantamentos de campo, auxiliar em planejamento de missões e definição de rotas. Antigamente somente um software lia os dados do GPS, porém hoje os programas e arquivos têm que ser interoperáveis e conversar entre si para que o usuário não fique refém de somente uma companhia de software.

• Sirgas e cartografia básica: Segundo orientação do IBGE, novos levantamentos devem ser feitos referenciados ao Sirgas, devendo o profissional estar familiarizado com o sistema e com as transições da cartografia antiga para a nova. Segundo Irineu da Silva, da Leica Geosystems, é importante que o profissional de campo saiba tudo sobre cartografia básica, desde projeções cartográficas (principalmente UTM) e sistemas de coordenadas até transformações em geodésia.

• Wireless: A tecnologia sem fio seria considerada ficção científica há alguns anos, porém hoje é usada em várias áreas, inclusive na topografia, para conectar dispositivos de um mesmo equipamento ou para que diferentes periféricos trabalhem em conjunto. Além disso, o uso de laptops, cartões de memória e pendrives em campo torna-se cada vez mais difundido. Eduardo Oliveira, da Santiago&Cintra, acredita que a integração entre hardware, software, redes, internet e celulares é imprescindível para que o profissional de campo tenha uma visão global da Tecnologia da Informação – a famosa TI.

Novas aplicações

• Implantação e monitoramento de obras civis: Além da simples locação de obras de engenharia, profissionais de campo podem trabalhar com controle geodésico de barragens, pontes, túneis, edificações de grande porte, obras de arte, etc..

• Batimetria e oceanografia por satélites: O Brasil é o país com maior quantidade de água doce na forma líquida. A iminente escassez de água fará com que o mapeamento destas áreas, através de levantamentos hidrográficos e batimetria, seja uma das prioridades dos governos. Outra área promissora é a topografia marítima.

• Florestas, seqüestro de carbono e protocolo de Kyoto: Cada vez mais em voga, a área ambiental é a que apresenta maior demanda por mapeamento atualmente. Apresentação de estudos e relatórios de impacto ambiental, demarcação de reserva legal e mapeamento de áreas para seqüestro de carbono sempre necessitam de levantamentos. O trabalho de profissionais de campo em conjunto com engenheiros florestais ou madeireiros pode ser uma parceria de sucesso, com o envolvimento de fotogrametria, topografia e geodésia na problemática florestal.

• Mineração, energia e óleo & gás: Segundo Eduardo Affonso, da Trimbase, a implantação de dutos é outra área com grande demanda por serviços de campo. A geração, transmissão e distribuição de energia também é promissora, principalmente na implantação de termoelétricas. Na área de mineração, pode-se utilizar equipamentos GPS em Bulldozers ou em Scrapers para monitorar as máquinas. Scanners terrestres a laser também são uma tendência em minas.


-> Implantação de dutos com topografia

• Cadastro técnico multifinalitário: Assim como o georreferenciamento de imóveis rurais, o futuro do cadastro urbano será a definição de coordenadas geográficas precisas de imóveis nas cidades. Estudos estão sendo feitos para definir qual a precisão posicional a ser utilizada nestes levantamentos.

• Outras aplicações: Outras áreas de atuação são LBS, monitoramento de veículos e cargas, perícia judicial, etc.. As possibilidades são muitas, depende apenas da criatividade e flexibilidade do profissional.

Atualização é a palavra-chave

Eduardo Affonso, da Trimbase, afirma que há uma migração de profissionais de outras áreas pela demanda crescente por mão-de-obra qualificada, o que torna o mercado cada vez mais competitivo.

“É preciso fazer trabalhos cada vez mais complexos em prazos mais curtos. Além disso, o profissional do século 21 deverá ter bom domínio de informática, além de estudar muito”, acredita Roger Neves, da CPE.

Já para Eduardo Oliveira, o profissional tem que se manter atualizado, “e deve saber pelo menos o básico da língua inglesa.”

Ou seja, a única saída é a atualização através da educação continuada, buscando informações nas mais diversas fontes, como cursos, congressos (GEOBrasil, COBRAC), livros especializados, revistas segmentadas (InfoGEO, InfoGPS|GNSS, A Mira, GPS World, GIM, InsideGNSS), portais (MundoGEO, FatorGIS), listas de discussão (Yahoo, Google), fóruns de debates online, blogs (GeoCarta, Geógrafo Virtual) e podcasts (CADKlein, ESRI).

A absorção de toda essa bagagem é visionária e muito exigente? Cremos fortemente que não, e alertamos para que o profissional acompanhe o avanço tecnológico. Quem só datilografava teve que aprender a usar o computador. Quem só usava teodolito vai ter que saber pelo menos o básico sobre TI.

O profissional não precisa dominar todos os temas profundamente, mas deve ter alguns conhecimentos de todas essas áreas e de como elas se relacionam.

Confira os depoimentos de Eduardo Affonso (Trimbase), Roger Neves (CPE), Irineu da Silva (Leica Geosystems) e Eduardo Oliveira (Santiago & Cintra).