A Geoinformação tem papel chave para o setor de
telecomunicações, principalmente depois de privatizado.

Por Deise
Roza

Nos próximos 4 anos serão investidos R$ 75,2 bilhões em
telecomunicações no Brasil. A previsão é do Superintendente Executivo da Agência
Nacional de Telecomunicações (Anatel), Amadeu de Paula Castro Neto, anunciada
dia 24 de fevereiro em entrevista coletiva divulgada no site do órgão. Segundo
ele, para 2.000 e 2.001 os investimentos anuais serão da ordem de R$ 19 bilhões
em cada ano, em 2002 ficarão em cerca de R$ 18,7 e em 2003 a expectativa é de um
volume de R$ 18,5 bilhões. Para 2000, dos R$ 19 bilhões esperados, Castro Neto
acredita que 60% sejam investidos no serviço telefônico fixo, 20% na telefonia
celular, 16% em TV por assinatura, 2% no serviço telefônico de uso público e 2%
em outros serviços como, por exemplo, trunking (serviço de rádio empresarial
especializado) e paging. A Anatel chegou a esses números levando em conta a
previsão de investimento anunciada pelas empresas e o potencial de mercado.

O futuro é de expansão das telecomunicações, com otimização do uso da
infra-estrutura instalada assim como ampliação das redes de cabos de cobre,
fibra ótica, antenas, estações rádio base e estações telefônicas. Tudo isso
envolve dados, mapas e plantas que precisam ser fartos, atualizados e de fácil
acesso e visualização para todos os usuários, o que indica que esse mercado é um
nicho com grande potencial de negócios para quem trabalha com GEO, tanto a curto
quanto médio prazo. Afinal, ainda há novas teles vindo por aí. Já saiu o Edital
de Licitação para autorizar a exploração da telefonia fixa nas áreas não
atendidas pelas empresas-espelho. As "espelhinhos", apelido dado porque sua
atuação será em áreas pequenas (entre 50 e 100 mil habitantes), vão fornecer
serviço telefônico a 3.133 municípios. Já as concessionárias de telefonia
celular vão ter ainda mais competidores este ano, com a abertura da banda C. O
Conselho Diretor da Anatel autorizou a prestação de serviços de TV a cabo em 70
novas localidades do país, nos Estados do Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo,
Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Mato Grosso, Bahia e Rio Grande do
Norte.

Por trás de tudo isso, há toda uma rede de infra-estrutura física
e de dados que precisa ser conhecida, administrada, expandida, adaptada e
readaptada às demandas do mercado. As teles têm na Geotecnologia uma importante
ferramenta de visualização, gerenciamento e planejamento. Ferramenta que permite
unir os dados alfanuméricos das redes externa e interna, a planta (com cabos,
ligações e estações), o cadastro de clientes e potenciais clientes, os mapas
digitais, com a velocidade de computadores e a análise de softwares. Tudo
disponível e a serviço de diversos usuários dentro da corporação com os mais
variados objetivos. Informações completas e confiáveis sobre suas redes, obtidas
rapidamente, permitem às teles aproveitar melhor a capacidade instalada, reduzir
custos, disponibilizar serviços, projetar alterações, atender aos clientes com
qualidade e oferecer cada vez mais soluções.

A CTBC (Cia. De
Telecomunicações do Brasil Central), fornecedora de telefonia fixa e celular,
está investindo 12 milhões de dólares na implantação de um sistema de
gerenciamento da rede externa de telefonia fixa baseado em GIS. A área de
atuação da CTBC Telecom estende-se por 102 mil km2, abrangendo mais de 300
localidades nos Estados de Minas Gerais, São Paulo, Goiás e Mato Grosso do Sul,
com mais de meio milhão de terminais (fixos e celulares) em serviço. Para
gerenciar tudo isso a empresa está implantando uma ferramenta AM/FM/GIS (veja
significado no box/pág. 49) da Sisgraph chamada Frame, e o software Cad da
Microstation. Uma aplicação interessante que está em funcionamento é o Sistema
de Gerência de Ordem de Serviço (SGOS), formado pela integração entre o GIS e o
OS, sistema específico para controle de ordens de serviço. Quando o cliente
solicita uma linha telefônica ou outro serviço, o endereço dele é introduzido no
SGOS e o GIS busca automaticamente por uma facilidade (linha telefônica) próxima
que possa atendê-lo. Ao encontrar, ele reserva o espaço e envia a informação de
volta para o sistema de OS, que programa a execução e passa a ordem para o setor
responsável. Se o SGOS não encontrar na rede uma facilidade que corresponda ao
pedido, a solicitação é passada para um técnico que procura e decide o que
fazer. Mas ele não precisa ir atrás de plantas e papeladas, apenas vê o problema
na tela do GIS e o resolve ali.

Mapa de
Uberlândia (MG) dentro do GIS da CTBC.

Segundo Henes Amorim, cordenador do projeto GIS Telecom, um dos
pontos positivos da implantação é ter uma única base de dados referente a tudo
na rede externa. O GIS contempla na empresa as áreas de engenharia e
administração de rede, a execução de serviços e o dia-a-dia da operação,
servindo tanto para a gerência da rede quanto para planos de expansão. "O
sistema também já promoveu a otimização de recursos usados em atualização e
levantamento de dados. Agora temos informação controlada, ágil, confiável e
atualizada sempre à mão. O ganho é de qualidade", afirma Amorim. O coordenador
conta que antes a empresa tinha os dados gráficos armazenados em uma mapoteca,
que "dava trabalho para cuidar e manter". O próprio perfil dos funcionários que
trabalham no gerenciamento da rede da empresa mudou. "O funcionário do setor
passou de simples cadastrador para gerenciador da informação", explica o
coordenador do projeto.

Rede
externa da CTBC no mapa de Uberlândia.

Para o ano que vem, o plano da CTBC é investir na gerência da
telefonia celular, incluindo área de cobertura e controle de pendências com
clientes. Segundo Amorim, vão implantar um sistema de informações geográficas
que tenha aplicativos de 3D- provavelmente o Geomedia, também da Sisgraph. Em
96, a CTBC Telecom tornou-se a primeira operadora de telecomunicações da América
Latina a conquistar o certificado da ISO 9002 na área de atendimento ao cliente.
Essa é uma certificação internacional conferida pelo BVQI – Bureau Veritas
Quality Internacional.

A CTBC já é uma concessionária privada há 46 anos,
mas e quem foi privatizado agora, como está se relacionando com o GEO?
A
Telebrás, antes da privatização, havia criado o Sistema Automático de
Gerenciamento da Rede Externa (SAGRE), baseado no Vision, GIS da SHL Vision
Solutions, atualmente pertencente à Autodesk. O SAGRE foi desenvolvido durante o
início dos anos 90 pelo Centro de Pesquisas e Desenvolvimento em
Telecomunicações (CPqD), órgão da Telebrás.

Hoje, o CPqD é uma fundação
sem fins lucrativos que presta serviços para a área de telecomunicações. O atual
Gerente da Divisão de Sistemas de Gerência da Planta Externa da fundação,
Geovane Magalhães, participou do desenvolvimento do SAGRE e conta que depois da
privatização o sistema já foi licenciado para a Sercomtel (de Londrina),
Embratel e Vesper, além de duas empresas americanas. Aliás, o CPqD está
inaugurando escritório nos EUA, em San Jose (Califórnia) para levar o know how
brasileiro aos gringos. "Antes da privatização, o SAGRE já era utilizado também
pelas empresas estatais que hoje compõem a Tele Centro Sul (TCS), Telemar e
Telefonica", completa Magalhães.

Geovane já explicava na infoGEO número
7, numa matéria sobre o SAGRE feita por Martha Gorman em meados do ano passado,
que o sistema tem vários módulos que ajudam uma empresa de telecomunicações a
planejar e projetar novas redes, manter a existente e operar o dia-a-dia da
ocupação da rede. "Além de proporcionar a melhoria da qualidade dos serviços, o
custo benefício do SAGRE enquanto GIS pode ser resumido em duas frases: aumento
da utilização da rede e antecipação da receita".

Segundo ele, o aumento
da utilização se deve ao fato de que no processo tradicional, onde se usam mapas
em papel ou arquivos eletrônicos, existe uma duplicação muito grande de
informações que ficam desatualizadas. "Com o SAGRE é criado um inventário
(cadastro) geral e on-line de toda a rede de acesso, disponibilizado para todos
os departamentos que usam as informações nele contidas", descreve. "Além disso,
quando o SAGRE disponibiliza uma facilidade de rede para o cliente, faz isso de
forma otimizada". O pai do SAGRE acrescenta ainda que o sistema também resolve
um dos grandes problemas das operadoras brasileiras: a necessidade de, ao mesmo
tempo em que mantém a rede, com pequenas alterações, lidar com grandes expansões
devido à demanda reprimida. "No SAGRE é possível conviver com estes modos de
operação utilizando o banco de dados corporativo". Quanto à antecipação de
receita, Magalhães diz que ela se deve à facilidade com que são desenvolvidos os
projetos de manutenção e expansão, reduzindo o tempo do mercado.

Na
Sercomtel, operadora que atua na região de Londrina e Tamarana, o SAGRE está
instalado, a base cartográfica foi concluída e os dados cadastrais da rede estão
sendo inseridos no sistema. O investimento, incluindo o software, o hardware, a
mão-de-obra contratada fora da empresa e a base cartográfica, é da ordem de 2
milhões de reais. "Esperamos começar a operar com o SAGRE na primeira central em
mais ou menos 120 dias", estima Jorge Marques Guimarães, Gerente de Planejamento
Técnico da empresa. De acordo com ele, uma das grandes motivações para
operacionalizar um sistema de informações geográficas na empresa foi a
necessidade de dar mais velocidade aos projetos de expansão. A Sercomtel já
convive com o SAGRE desde 92, mas por muito tempo ele ficou esquecido, quase foi
abandonado, até que em 97, às vésperas da privatização do setor, Guimarães
entrou na gerência que ocupa atualmente e "ressucitou a idéia".

"Não
dava mais para levar dois anos fazendo manualmente os levantamentos, a
localização dos usuários, a planta, a definição do projeto e, enfim, a execução.
Precisávamos de agilidade para atender à demanda, explorar o potencial do
mercado". A agilidade será alcançada quando o aplicativo SAGRE-PROJE estiver em
operação, nos próximos meses. "O sistema vai permitir fazer tudo automático, o
que antes levava dois anos, do projeto à execução vai levar seis meses",
anima-se o gerente. O GIS permitirá também, diz, o melhor aproveitamento da
rede. "Quando eu lanço uma rede que está sendo administrada com segurança por um
GIS, eu posso ocupar 75% dela, porque eu tenho maior controle. Se não, só posso
ocupar 50%, porque tenho que manter uma garantia", completa Guimarães.

Tela do
sistema Vision, representado no Brasil pela Construtel.

O que mais vai agilizar a operação diária da rede externa e
melhorar o atendimento ao cliente é o aplicativo SAGRE-OPER. Através dele um
pedido de linha telefônica vai poder ser atendido no ato, em frente à tela do
computador. O funcionamento é semelhante ao do sistema da CTBC. O GIS procura a
linha próxima disponível, faz a designação, e acha um número para aquele
telefone. O operador confirma com o cliente a aceitação do número e dos termos
do contrato, tudo na hora, e é só assinar. "Hoje, isso ainda é feito manualmente
e demora muito mais", compara Guimarães. "Em um ano e meio ou dois queremos
também que o sistema esteja enviando automaticamente a ordem de serviço para o
executante, com a licença para retirada dos materiais que serão necessários e
tudo", completa.

Mapa em
3D feito pela empresa Imagem para operadoras de celular.

Mas o ganho não é só na operação ou na construção dos projetos,
o GIS também pode ajudar a identificar melhor as oportunidades de expansão da
clientela. Tanto que, na Tele Centro Sul (TCS), o GEO uniu-se ao marketing no
processo de escolha de um sistema de informações geográficas. "O projeto pensava
inicialmente na rede, mas depois vimos que o mercado também precisava de um
levantamento", afirma Felipe Issler Magdaleno, analista de sistemas na empresa.
Funcionários das duas áreas montaram uma equipe multidisciplinar para
especificar os requisitos desejáveis na ferramenta. De acordo com Magdaleno, as
empresas que apresentaram propostas tinham que fazer a conversão de dados de
determinada área para o GIS e um levantamento em campo dos dados de mercado para
a determinação de estimativas de demanda. Os resultados foram avaliados e estão
em fase de aprovação. Felipe espera que tudo se resolva logo. "Vai ocorrer muita
expansão nos próximos dois, três anos e o GIS é muito útil para apoiar esse
trabalho", justifica.

Ele acredita que um sistema de informações
geográficas vai permitir que muito dinheiro seja poupado, diminuindo a
quantidade e o fluxo de papéis na empresa, o gasto com tramitação de documentos,
reduzindo o tempo de elaboração e do custo de projetos de redes e utilizando-se
melhor a rede. "O próprio processo de implantação do sistema vai encontrando e
eliminando desperdícios e sub-utilização da rede. Enquanto que, já implantado, o
GIS possibilita o aumento da taxa de ocupação".

Quem fornece
Geoinformação sai ganhando

A importância estratégica do geoprocessamento
já foi percebida por quem desenvolvia outros tipos de atividades para as
empresas concessionárias de serviços públicos. Com sede em Belo Horizonte, a
Construtel se originou na engenharia e, há oito anos, criou uma unidade de
negócios de sistemas de informação que trabalha com várias tecnologias – o GIS
entre elas. É uma forma de integrar soluções. "Nós já projetávamos, construíamos
e fazíamos manutenção das redes de infra-estrutura para empresas de utilities
(telecomunicação, saneamento, e energia), então, passamos a oferecer o sistema
para gerenciar estas redes", diz Ronaldo Morado Nascimento, diretor da unidade.
A iniciativa foi bem sucedida: hoje o GEO responde por 10% do faturamento da
empresa, que é de 200 milhões de reais ao ano, com planos de ser dobrado em
2000. O Vision, da Autodesk, foi o software escolhido pela Construtel para
trabalhar com redes. A empresa tem várias aplicações baseadas em GIS. Está
implantando na Telemar o Sistema de Engenharia de Facilidades e Equipamentos
(SEFE), que foi desenvolvido em 94 especificamente para a Telemig, atualmente
pertencente à Telemar. É um sistema para gerenciamento da rede interna (interior
das centrais telefônicas) que administra a melhor utilização de cada facilidade
– linhas para trasmissão de voz, dados, vídeo, internet, teleconferência,
serviços específicos, e outros – de acordo com a necessidade do usuário.

Empresas da área de GEO de todos os tamanhos se beneficiam da
atual fase de modernização dos serviços de telecomunicações. A Telefonica
contratou o CTGEO, Centro de Tecnologia em Geoprocessamento da Fundação Paulista
de Tecnologia e Educação de Lins, para o mapeamento digital de todos os orelhões
e postos de vendas de cartões telefônicos do estado de São Paulo. O prazo do
serviço foi de 45 dias, que para ser cumprido mobilizou cerca de 350 pessoas,
entre alunos da fundação, ex-alunos, professores, profissionais liberais e
empresas de Lins. Conforme o boletim informativo "De olho na fundação", toda a
estrutura do setor foi utilizada no período. Segundo Renato Simões Cáceres,
chefe da divisão técnica e administrativa do CTGEO, o investimento da
contratante foi de cerca de R$ 1,2 milhão. Esse mapa vai ser usado para mostrar
à Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) se há ou não um telefone público
a cada 500 metros e um ponto de venda a cada 800 metros, conforme exige o órgão.
O mapa também foi convertido para o SAGRE – GIS da Telefônica – e servirá como
base de dados para o gerenciamento da rede de orelhões e pontos de vendas de
cartões. Cáceres explica que o prazo reduzido para o trabalho foi devido à
proximidade da data estipulada pela Anatel para apresentação das
informações.

Outro exemplo de empresa aproveitando as oportunidades em
telecomunicações é a Datum Serviços de Topografia, de Curitiba. Pedro Merege,
diretor, afirma que nos dois últimos anos têm surgido cada vez mais trabalhos de
levantamento de cabos de fibra ótica, de pontos de interesse nas linhas de
transmissão, georreferenciamento de desenhos de projetos de expansão, e outros
voltados às telecomunicações. Ele normalmente é subcontratado por empresas de
aerolevantamento ou outras que, por sua vez, prestam serviços para as
construtoras contratadas pelas teles.

Quem fornece mapeamento em 3D como
a Imagem Sensoriamento Remoto, a Geoambiente e a Digimapas, têm encontrado
grande clientela na área de telefonia celular, trunking e paging. A partir de
imagens de satélite ou fotos aéreas, estas empresas reproduzem em meio digital
bairros, cidades, estados e até países com as feições dos prédios, os dados de
altura, distância, etc. Estes mapas em 3D são usados em simulações matemáticas
para se conhecer a área de abrangência do sinal de futuras antenas. Segundo a
revista RNT, especializada em telecomunicações, fabricantes de infa-estrutura de
telecom como Ericsson, NEC, Nortel, Lucent, Motorola, vêm usando essas "maquetes
virtuais" para projetar sistemas celulares. Com elas, definem a quantidade de
Centrais de Comutação e Controle e de Estações Rádio Base (torres de
transmissão), o formato das células, a potência de transmissão dos sinais. Mas a
contribuição do GEO para a telefonia celular rende assunto para uma outra
história, aguarde.

Segundo Fernando Schmiegelow, da Sisgraph, onde 15% do
faturamento vem de contratos com empresas de telecomunicações, o grande desafio
das companhias de Telecom no novo milênio será controlar com perfeição seus
equipamentos e ativos. "O conhecimento da distribuição espacial desses recursos
é fundamental para prover os serviços desejados pelos clientes".