O ano de 2000 ficará marcado para sempre no jovem mercado brasileiro de Geotecnologias – particularmente no não tão jovem mercado de mapeamento – como o ano em que finalmente se constatou que o setor é grande e tem ainda muito potencial de crescimento. Vários fatos comprovam essa afirmação. Era inevitável, já sabíamos que ia acontecer e nos enchemos de orgulho de estar participando desse processo e de uma certa forma contribuir, junto com nossos colaboradores e parceiros, para a sua ampliação.
Destaquemos então algumas constatações que confirmam essa justificada euforia:
Volume de Empresas e Negócios: O grande saldo do GEOBrasil 2000, primeiro evento do setor realizado em São Paulo por uma grande promotora de feiras, foi comprovar a vocação do setor para gerar negócios. A maioria dos expositores superou suas expectativas em relação ao perfil dos compradores que, independente de participar ou não do congresso, visitaram a feira buscando objetivamente soluções para seus problemas. No evento, ainda pela primeira vez, publicamente se discutiu as dimensões do mercado de Geoinformação, chegando-se a um faturamento previsto para este ano de 900 milhões de reais (leia mais a respeito na matéria "GEOBrasil2000: Uma atmosfera de negócios"). Independente da possível imprecisão desse número, ele por si só já representa muito.
Outra constatação é a atmosfera favorável para a abertura de novas empresas, facilitada pelo barateamento e simplificação da tecnologia e pelo aumento na demanda por serviços em todo o país. Apenas para citar um setor, no passado eram necessários alguns milhões para abrir uma empresa de aerofotogrametria. Agora o investimento é muito menor. Felizmente não estamos longe de ver multiplicar o número dessas empresas, como já ocorre na Europa e Estados Unidos. O modelo de poucas empresas, excessivamente concentradas, para um país tão grande está ficando para trás. Afinal, com certeza existe mercado para todas as empresas sérias. E os usuários agradecem.
Legislação: Durante o evento dois temas sobre legislação trouxeram um misto de preocupação e euforia. O tema "Direitos autorais de dados geográficos" levantou polêmicas entre produtores públicos e privados de Geoinformação. Afinal, quem está com a razão? Existe razão nesse tema? Por ser um assunto tão interessante, convidamos dois dos palestrantes do GEOBrasil 2000 para, na nova seção Oriente-se, manifestarem suas opiniões. Esse tópico inaugura com chave de ouro uma proposta editorial mais moderna que trará, a cada exemplar da infoGEO, um debate polêmico sempre com o objetivo de perpetuar e democratizar as discussões que interessam à comunidade de Geoinformação. Para tanto, convidamos nossos leitores a participar também dos novos debates Oriente-se, enviando para nós suas opiniões sobre os temas abordados ou apenas mandando sugestões dos assuntos que gostariam de ver debatidos futuramente.
Outro tema controverso e já antigo no setor de mapeamento foi o anúncio de uma nova legislação para o aerolevantamento, que na verdade tem pontos positivos e negativos. Os positivos são: dispensar a exigência de um contrato para os serviços, abrindo o caminho para que empresas possam bancar levantamentos por conta própria; aumentar a autonomia para autorizar o trabalho de empresas estrangeiras e separar claramente imagens aéreas de orbitais. Mas, como leis nunca são perfeitas, essa já nasce necessitando de uma revisão. Situando dentro do conceito de aerolevantamento até as numerosas empresas que fazem apenas fotos aéreas, a lei aplicará severas punições para quem não respeitá-la. Mas deve-se punir apenas quem tentar lograr o usuário, vendendo gato por lebre, executando mapeamentos de qualidade duvidosa. O viés do projeto de lei é prejudicar quem trabalha de forma séria, produzindo fotos panorâmicas e em alguns casos gerando produtos alternativos úteis e de baixo custo. Creio que deveremos ter alguns ajustes nessa nova lei logo que ela for aprovada.
Eventos: Como atuo na promoção e organização de eventos há mais de 10 anos, algumas pessoas têm me perguntado se não está havendo um número excessivo de eventos de GEO no país. Desde que organizei os primeiros dois, em Curitiba em 90 e 91, quando ainda era presidente da ABEC-PR (Associação Brasileira de Engenheiros Cartógrafos Regional Paraná) pude comprovar na prática que os eventos acabam refletindo e impulsionando o desenvolvimento do mercado. É nos eventos que há um ambiente ideal para aproximar quem precisa de soluções para seus problemas de quem as oferece. Na troca de idéias os problemas são redimensionados e as soluções adaptadas a uma situação mais real. Acredito que deveríamos ter ainda mais eventos no Brasil, principalmente os regionais e locais. Existem assuntos locais muito importantes, mas que têm dificuldade de encontrar espaço no cenário nacional.
Basicamente existem 3 tipos de eventos, sendo que na prática pode haver sobreposições: os puramente acadêmicos, os voltados aos estudos de caso de universidades e, finalmente, aqueles voltados para usuários gerando com isso mais negócios. A decisão é do futuro congressista, expositor ou simples visitante da feira. Que venham mais eventos. É muito positivo para o mercado que existam mais opções. Em qual você vai participar? Você decide!
Emerson Zanon Granemann
é engenheiro cartógrafo e editor da infoGEO. emerson@infogeo.com.br