Inpe, Tecgraf e Funcate desenvolvem a TerraLib para a livre construção de aplicativos geográficos
Por Marjorie Xavier
Tecnologia aberta. Este é o principal conceito da TerraLib, a biblioteca para construção de Sistemas de Informações Geográficas (GIS) lançada em julho pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), em parceria com a Tecgraf (Grupo de Tecnologia em Computação Gráfica) da PUC-Rio e com a Gerência de Geoprocessamento da Funcate (Fundação de Ciência, Aplicações e Tecnologias Espaciais), e disponível na internet (http://terralib.dpi.inpe.br).
A motivação da TerraLib é a tendência de integração de dados espaciais em sistemas gerenciadores de banco de dados (SGBD). Seus desenvol-vedores acreditam que esta integração irá mudar completamente o desenvolvimento da tecno-logia GIS, permitindo a transição de sistemas monolíticos atuais, que contêm centenas de funções, para uma nova geração de aplicativos geográficos. A transição de sistemas GIS baseados em arquivos para bancos de dados espaciais fará com que diferentes usuários, em locais separados e executando programas distintos, possam usar os mesmos dados. "Para a construção de aplicativos, são necessárias bibliotecas. E a tendência hoje é migrar de grandes aplicativos para aplicativos menores, os chamados ‘small GIS’. Ou seja, um sistema menor que atenda às necessidades específicas de cada organização", explica Antônio Miguel Monteiro, chefe da Divisão de Processamento de Imagens do Inpe.
Site da TerraLib-http://terralib.dpi.inpe.br
A TerraLib possibilita a criação de um aplicativo sob medida. Através de suas ferramentas, um programador pode desenvolver apenas o que é necessário ao seu projeto, sem a preocupação de conhecer todas as funções de um GIS tradicional. Ubirajara Moura de Freitas, da Funcate, vê este fator como um dos mais importantes no projeto TerraLib. "A tecnologia deixa de estar restrita aos especialistas em Geoprocessamento, e então há um enorme ganho no aspecto da disseminação deste conhecimento. Nos GIS tradicionais é preciso conhecer uma série de conceitos, às vezes distantes da função que se quer exercer com o dado geográfico. Com algo mais simples, porém satisfatório, fica mais fácil até o treinamento, porque o profissional não se afasta da área em que realmente atua. Com um aplicativo personalizado, feito sob medida para determinada função, a empresa pode descentralizar a manutenção do banco de dados de forma simplificada e segura", comenta Freitas.
Desenvolvimento cooperativo
Um importante diferencial da TerraLib é sua forma de licenciamento, pois a biblioteca é um software livre, seguindo a linha do sistema operacional Linux. Ela pode ser usada tanto para fins acadêmicos como comerciais, sem custo algum. Esta forma de distribuição de software propicia um ambiente cooperativo. "Como o software está disponível de forma aberta, é possível obter uma série de contribuições. No caso de um software fechado, em que apenas os seus criadores podem mexer, os usuários e desenvolvedores não podem dar sugestões para melhorá-lo", lembra Freitas. Além de conseguir "ver" e "mexer" no código, o usuário de software livre tem a vantagem de não precisar pagar pelo licenciamento.
Como o Projeto TerraLib incentiva a agregação de valor através da colaboração voluntária, a maioria dos links do site estão em inglês, já que seus usuários são programadores. Vale destacar que o site do Spring – que é um software gratuito, mas não livre – registra downloads de todo o mundo. Com a TerraLib não deve ser diferente, com a vantagem de que além de usuários o projeto conquista novos parceiros. "Com o código aberto, são integrados novos programadores. Alguém olhando o código pode ter uma idéia ou prever novas situações. Estamos expondo o código a outros olhares tecnicamente capacitados, e com isso há um valor agregado", conta Monteiro.
Como o software é livre, tudo o que for desenvolvido a partir dele também deve permanecer livre. O que não impede que seus aplicativos sejam comercializados. Em um produto com a tecnologia TerraLib, um programador pode criar algo novo, diferente do que existe na biblioteca. E esta inovação pode representar o seu diferencial competitivo e ser preservada. Contudo, o que veio do domínio comum – o Kernel da biblioteca – deve continuar público.
Em sua primeira versão, TerraLib oferece funções de seu Kernel suporte para os sistemas gerenciadores de banco de dados Oracle, Oracle Spatial, Postgres, MySQL e outros que possam ser conectados via tecnologia ADO.
TerraLib e Spring – Objetivos distintos, soluções específicas
A TerraLib é o resultado da evolução e do acúmulo de aprendizado tecnológico do Inpe. "Projetos como o Spring (GIS com funções de processamento de imagens, análise espacial, modelagem numérica de terreno, entre outras, com mais de 20 mil usuários no mundo inteiro) deram ao Inpe capacidade de projetar soluções inovadoras, que antecipam as tendências do mercado", frisa Monteiro. Aqui, é bom destacar que Spring e TerraLib são produtos diferentes. Enquanto o primeiro é um sistema acabado e completo, destinado ao usuário final, a outra foi idealizada para programadores que precisam fazer aplicativos geográficos, tanto para produtos comerciais como para pesquisas acadêmicas e industriais. A TerraLib não substitui o Spring, projeto que continua a ser desenvolvido e que terá nova versão lançada no final deste ano. Sobre o Spring, aliás, o Inpe informa que já tem estabelecida a sua programação de atualização até o ano de 2007.
TerraView 1.0 – O primeiro aplicativo
O primeiro aplicativo a ser disponibilizado com a nova tecnologia é o TerraView 1.0, também desenvolvido pelo Inpe. Trata-se de um visualizador de dados geográficos, que utiliza a biblioteca TerraLib, destinado tanto ao usuário final como aos desenvolvedores, uma vez que mostra como incorporar novos algoritmos.
Tela do visualizador do TerraView
O TerraView 1.0 apresenta gráficos com capacidade brushing, ou seja, consultas através do gráfico com rebatimento na tabela e no mapa; e algoritmos de análise exploratória espacial. O visualizador conta ainda com importação e exportação de Geotiff, Shape, Mid/MIF e Spring. Além de ser um bom produto para expressiva parcela dos usuários de geoin-formação, é uma plataforma para habilitar programadores ao rápido desenvolvimento de pequenos GIS.
Com o lançamento da TerraLib, o Inpe prova estar cumprindo seu propósito de ampliar o mercado para desenvolvedores de aplicativos geográficos, bem como a oferta de serviços por profissionais que poderão oferecer soluções integradas com tecnologia aberta e a preços competitivos. "A filosofia da TerraLib é bastante moderna em função da evolução do ‘Geo’. Estamos aqui falando de difusão de tecnologia", diz Freitas. "E tecnologia que gera emprego e renda", completa Monteiro.