Uma análise desenvolvida pela Lactec sobre a precisão cartográfica atingida em levantamentos topográficos graças a esta nova tecnologia

Gerar modelos digitais densos e precisos, tanto da topografia do terreno como das estruturas verticais da superfície, já é possível com o mapeamento digital a laser. Graças a este recurso, a vegetação pode ser extraída do contexto analisado, estradas e construções podem ser modeladas, tornando o levantamento com tecnologia laser uma ferramenta atraente para usuários finais de dados topográficos em várias áreas. Para qualquer aplicação que exija modelos digitais, o sistema oferece baixo tempo de processamento e conseqüentemente baixo custo operacional, se comparado às formas tradicionais de levantamentos de dados.

O princípio de funcionamento do sistema é simples. Consiste na emissão do feixe laser em direção à superfície terrestre. Este feixe é refletido por obstáculos e captados pelo sensor, onde será registrado o tempo de percurso. Como a área de cobertura de cada feixe é variável de acordo com a altitude, é possível que uma porção do mesmo feixe laser encontre um ou mais objetos antes de atingir o solo. Os encontros geram retornos parciais, denominados de primeiro e último retorno. De posse destas informações, é possível gerar modelos digitais a partir de ambos os retornos, ou seja, Modelo Digital de Elevação (MDE) ou só do último retorno, Modelo Digital de Terreno (MDT).

As vantagens de se trabalhar com o mapeamento digital a laser são inúmeras. As orto-imagens de intensidade e de hipsometria (intensidade + altitude) geradas pelos modelos são totalmente digitais e ortogonais, tanto ao nível do solo como ao nível das edificações. Esta condição permite ao usuário fazer uma restituição planimétrica diretamente, já que não existe a necessidade da estereoscopia, e a restituição altimétrica é substituída pela geração automática das curvas de nível sobre o MDT.

"O mapeamento digital a laser possui agilidade e precisão acima de qualquer técnica utilizada atualmente"

São escassas as limitações desta tecnologia. O desvio padrão do laser calculado pelo fabricante é de 50 cm na planimetria e 15 cm na altimetria, sendo esta precisão variável conforme o modelo e ano de fabricação. O sistema ALTM 2050, do Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento (LACTEC), durante os testes de aceitação, apresentou um desvio padrão de 33 cm na planimetria e 10 cm na altimetria.

Objetivando a verificação da possibilidade da utilização do mapeamento digital a laser em mapeamentos cartográficos, a LACTEC realizou um mapeamento na escala 1:2.000. Um vôo foi efetuado sobre uma área urbana em Curitiba com os seguintes parâmetros: altura de vôo de 1.000 m; espaçamento entre os pontos levantados de 0,7 m; ângulo de abertura de 20°; sobreposição lateral de 30%; e uma base GPS de apoio com distância máxima da aeronave de 30 km. Após o levantamento da área de interesse, todos os dados foram unidos e processados, a fim de obter os modelos de terreno MDT e MDE e as imagens de intensidade e hipsometria.

O processamento dos dados laser dividiu-se em três etapas: processamento da trajetória; processamento das coordenadas geográficas; e transformação de referencial. O processamento da trajetória foi realizado com os dados do IMU e GPS da aeronave, e os dados do GPS de apoio, todos no referencial WGS- 84. O processamento das coordenadas geográficas do terreno efetuou-se com os dados da trajetória, calculados na etapa anterior, juntamente com os ângulos e distâncias do laser no sistema geodésico cartesiano (X, Y, Z) no referencial WGS-84. A transformação de referencial, correção geoidal e projeção cartográfica foram realizadas depois da etapa anterior, obtendo coordenadas planas UTM (N, E, h) no sistema geodésico brasileiro – SAD69, gerando os arquivos: imagem digital de intensidade; imagem digital de hipsometria; pontos do último retorno com coordenadas UTM, para a geração do MDT (apenas o terreno); pontos do primeiro e último retorno com coordenadas UTM, para a geração do MDE (terreno + estruturas verticais).

A restituição planimétrica na escala 1:2.000da área sobrevoada, foi executada em CAD com as imagens de hipsometria, obtendo diretamente as informações georreferenciadas, como: sistema viário, hidrografia e edificações.

Para a realização da restituição planimétrica houve a necessidade de uma apreciação nas imagens para identificar os edifícios, lotes, ruas e quadras. Após esta análise foi possível identificar os contornos dos edifícios, o arruamento, as árvores, os limites dos lotes, as linhas de distribuição, entre outros. A partir da identificação dos objetos e o princípio de
que as imagens são ortogonais foi possível realizar a restituição gráfica das entidades, gerando assim um mapeamento cartográfico na escala 1:2.000. A restituição altimétrica foi realizada diretamente no MDT, onde definiu-se automaticamente as curvas de nível a cada metro com curvas mestras a cada 5 metros.

A fim de concluir o levantamento topográfico foi utilizado o sistema GPS, o que garantiu o máximo de precisão, controle e facilidade na comparação dos pontos levantados por topografia com os pontos levantados pelo mapeamento digital a laser. Como a altitude do equipamento é geométrica, utilizou-se uma correção geoidal da altitude geométrica para ortométrica. Esta correção é de 7,0905 m para a região, valor adotado para corrigir os dados do mapeamento digital a laser e do levantamento topográfico.

Para realizar o Padrão de Exatidão Cartográfica (PEC) foram selecionados 47 pontos na restituição para verificação em campo com o GPS. Após levantar os pontos topográficos, houve a geração de uma tabela com os seguintes itens: coordenadas topográficas; coordenadas da restituição; e diferenças entre as coordenadas. Através desta tabela foi possível calcular o desvio padrão das diferenças entre as coordenadas, conforme figura 01.

Depois de definido o desvio padrão da amostra, foi calculado o PEC, segundo o decreto nº 89.817 de 20 de Junho de 1984, onde se obteve os resultados demonstrados na figura 02.

Conclui-se a viabilidade do uso da tecnologia a laser para mapeamentos cartográficos, já que considerando o Decreto Lei 89.817 e os resultados obtidos na restituição de arruamentos, muros, edificações, por exemplo, permitiram classificar a restituição planialtimétrica realizada na escala 1:2.000, como Classe A, tanto para os eixos Norte/Este como para a altitude.

Cabe ressaltar que o mapeamento digital a laser não é só um complemento para as técnicas tradicionais, mas uma nova metodologia para a geração de bases cartográficas precisas e confiáveis. Além da base cartográfica, é possível obter outros produtos como: MDT, MDE, remoção virtual da vegetação, busca automática de pequenas quedas em bacias idrográficas, determinação da altura e do volume da vegetação para estudos ambientais, traçado automático de curvas de nível, além de servir de bases para inúmeros ou-tros estudos de engenha-ria, assim como cálculos de remanso, curvas cota x área x volume e processos de perda de solo.

A associação dos dados do sistema laser com imagens digitais de pequeno formato proporcionaria produtos que atenderiam completamente a necessidade tanto da geração como da atualização de bases cartográficas, tanto no georreferenciamento como na identificação e interpretação dos entes naturais ou construídos.

O mapeamento digital a laser possui uma agilidade acima de qualquer técnica utilizada atualmente, podendo ser operado de noite ou de dia, com capacidade de adquirir milhares de pontos em um único vôo com uma excelente precisão.

Porém, para um mapeamento com precisão é necessário que o equipamento esteja sempre calibrado e verificado. É de praxe mundial e deveria ser norma no Brasil a realização de vôos de calibração planimétrica e altimétrica para cada nova missão, sendo apresentado os resultados das análises estatísticas dos erros encontrados, os parâmetros resultantes, bem como a metodologia adotada em relatório de conclusão dos serviços.

Marlo A. R. Martins
Engº. Cartografo do LACTEC
marlomartins@lactec.org.br

Daniele Felix
Engª. Civil do LACTEC

Ana Paula B. Kersting
Engª. Civil do LACTEC

Carlos Felsky
Analista de Sistemas do LACTEC

Mauricio Muller
Engº. Civil do LACTEC