André Gurgel comenta o boom das aplicações do serviço de posicionamento global
Cada vez mais pessoas comuns estão se familiarizando com os benefícios das tecnologias de posicionamento. São usuários sem propensão para coisas técnicas; a maioria nem sequer tem idéia de como uma televisão funciona. Eles querem usar um GPS apenas para passear, chegar a lugares sem endereço, marcar pontos e trilhas favoritas e poder retornar seguramente ao ponto de partida. Uma boa parte compra receptores de navegação com tela colorida apenas para saber em que ponto do mapa ela se encontra durante a viagem.
Os sistemas GPS e GNSS, que o leitor típico desta publicação conhece em profundidade, vão passar por um inevitável e amplo processo casado de popularização e simplificação, de modo a satisfazer uma demanda de alto consumo e baixo custo, aliada à necessidade de esconder do usuário detalhes irrelevantes e ressaltar a usabilidade.
Tal tendência já é sentida por vários setores de profissionais que lidam há tempo com GPS. Alex Machado, responsável pelo site PortalGPS e coordenador da lista de discussão GPSbrasil, percebe que “o uso dos receptores é cada vez mais recreacional, como esportes e passeios”. De igual maneira pensa Carlos Alcazar, que vende GPS apenas pelo site Fera.net: “acredito que 70% utiliza para recreação”. Do dono do site eportateis.com.br vem a opinião de Tacio Philip, cujo foco “são amadores que querem começar a marcar pontos em viagens ecológicas”.
Fotos: Reprodução
Os profissionais das diversas áreas de geoprocessamento têm um papel fundamental na desmistificação de uma tecnologia tão recente e tão influente, mas que ainda só chega aos ouvidos daqueles não iniciados vestida de termos e posturas inibidoras. Ainda é escassa a bibliografia voltada para quem só quer saber do lado utilitário do GPS. E, por falta de público amador, as publicações especializadas dedicam seu espaço preferencialmente ao seu leitor cativo. Por outro lado, as revistas de aventura e turismo, mesmo tendo muitos dos seus leitores como possuidores de GPS, desconhecem o valor da divulgação de informações georeferenciadas, como, por exemplo, as coordenadas ao pé da foto de uma bela cachoeira.
Ironicamente, a difusão em massa da noção de localização precisa deve ser feita por quem detém o controle dos meios de produção de capital. As funções básicas de um GPS estão sendo embutidas dentro de dispositivos móveis dos mais variados: relógios de pulso, câmeras fotográficas, palmtops e PDAs, celulares e, obviamente, carros.
De longe, o telefone celular é quem oferece o maior potencial para a incorporação e disseminação das funções básicas de um GPS. Primeiro, pela sua capilaridade, o que o torna um alvo fácil para a adição de novas funcionalidades, como câmera digital, MP3 player e muitas outras.
Sistemas de posicionamento estão nos mais variados produtos
Segundo, pela óbvia vantagem de não precisar carregar dados localmente, como mapas de fundo, pois o processamento está nos servidores dos provedores de serviço. Adicionalmente, a facilidade de instalação e atualização de softwares no celular faz com que inúmeras aplicações voltadas a atividades que usem os dados de posicionamento possam ser desenvolvidas e utilizadas com razoável dinamismo.
Finalmente, a comunicação bidirecional confere um poder ao aparelho que supera a soma de suas características independentes. A utilidade de um celular com câmera e GPS é algo que irá despertar todo um novo mercado e o seu efeito de realimentação na demanda será sentido rapidamente. Imagine, por exemplo, o consumo por impulso que um viajante com um aparelho destes poderá gerar ao ver uma foto de satélite de onde ele se encontra, procurar por pontos de interesse nas redondezas, tirar uma foto (georeferenciada, é claro) e enviá-la anexada a um pequeno comentário ao seu blog pessoal em um portal na internet ou por e-mail diretamente a outro usuário?
Além disso, os chipsets de alguns aparelhos, especialmente os CDMA, já conseguem estabelecer um ‘fix’ das coordenadas geográficas sem auxílio do sinal da operadora, o que lhes confere uma independência típica dos GPS de navegação. No país, tal feito ainda não é possível, mas a capacidade de fazê-lo estará presente na próxima geração de celulares. Enquanto isso, celulares que usam o sistema Symbian (nenhum deles é CDMA), uma vez tendo instalado um aplicativo de GPS, podem ler as mensagens de posicionamento enviadas por uma antena de GPS externa, via cabo ou Bluetooth.
Linha de telefones celulares com GPS
Para o leigo, não importa como o dispositivo calcula a sua posição. Quanto mais opções estiverem disponíveis, melhor. Os sinais dos satélites GPS cobrem todo o planeta, mas só se pelo menos três deles estiverem visíveis, o que inviabiliza sua utilização dentro de prédios, florestas e túneis. Já o sinal de uma operadora de celular tem uma área de atuação bem mais restrita e definida, mas com uma boa recepção a triangulação do local do receptor pode ser feita sem as restrições do GPS clássico.
Uma alternativa de posicionamento bastante interessante vem da triangulação dos sinais de pontos de acesso Wi-Fi. Tipicamente – e idealmente – um usuário de notebook com antena wireless pode conhecer com precisão de 5m onde ele se encontra, sem precisar estar logicamente conectado à rede sem fio; ser um usuário com direitos de acesso – basta que os sinais de mais de duas antenas o atinjam, pois sendo digitais, trazem a identificação de cada uma delas. O serviço já é provido pelo portal virtualearth.msn.com, onde há um botão com a opção ‘Locate Me’.
A pegadinha é a seguinte: a determinação da posição é feita na própria máquina por um plug-in que é instalado no browser e que se comunica com a Microsoft, a qual tem um banco de dados com as coordenadas precisas de milhares pontos de acesso wireless espalhados pelos EUA. Uma vez de posse do índice de intensidade do sinal e das coordenadas das antenas, o software calcula sua própria latitude e longitude. Espera-se a ampliação desta lista de antenas de forma cooperativa, em que usuários autorizados de todo o mundo possam fazer o cadastro daquelas a que eles porventura tiverem acesso físico, provavelmente munidos de um GPS. A certificação, no entanto, da precisão dessas medidas é o fator que ainda impede a sua livre proliferação.
Caso venha acontecer a realização integral das promessas para a tecnologia Wi-Max, que é basicamente um Wi-Fi com alcance de até 40 quilômetros, então poderemos ter, de fato, mais uma forma de localização adequada ao usuário não profissional.
André C. Gurgel
Profissional de informática, idealizador Geobusca.net, portal para usuários de GPS e diretor da empresa Zenit-Polar.
andre@zenitpolar.com.br