Encontro reuniu a comunidade que utiliza imagens de satélite para discutir o passado, presente e futuro do sensoriamento remoto
O 4º EUsISSeR – Encontro de Usuários de Imagens de Satélites e Sensoriamento Remoto foi realizado de 24 a 26 de maio, no Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), uma das instituições participantes do programa Petrópolis-Tecnópolis, um pólo de alta tecnologia em plena cidade imperial.
Diferentemente de um simpósio, que tem enfoque acadêmico, um encontro é voltado para o usuário final. Uma das questões levantadas no encontro foi até onde os profissionais que utilizam imagens de satélites conhecem os aspectos técnicos do sensoriamento remoto? Esta e outras perguntas foram amplamente discutidas.
-> Auditório do LNCC
Marcaram presença profissionais e estudantes de todo o Brasil, de Rondônia ao Rio Grande do Sul. Havia representantes de instituições públicas e privadas, e também participantes independentes.
Referência
José Carlos Epiphanio, coordenador do programa de aplicações CBERS, afirmou que o Brasil já é respeitado internacionalmente, guardadas as devidas proporções, na área de observação da Terra. A evolução no Brasil encontra-se muito mais na área de sensoriamento remoto e metereologia do que na ciência voltada para o espaço.
Atualmente, os países que mais se destacam na área de satélites de alta resolução espacial são os EUA, Israel, Índia, França, Rússia, Coréia, Alemanha e Itália. O Brasil ocupa uma posição de destaque na área de satélites de média resolução espacial. A tendência atual está nos satélites com grande área imageada e revisitas mais rápidas.
Satélites brasileiros
Em parceria: CBERS
Cooperação bi/multilateral: MODIS, ALOS, RADARSAT
Próprios: SCDs, PMM/SSR-1/BRSat-1
Imagens cedidas por outros países: Landsat, SPOT, DMC
A definição dos sensores nos satélites é feita em função do que se quer visualizar. Antigamente, como no caso do satélite americano Landsat, a comunidade não era consultada. Hoje, há uma propensão de que o usuário seja consultado antes da definição dos sensores.
As principais questões levantadas em relação ao usuário de imagens de satélites foram: quem é e como utiliza as imagens; se é usuário final, intermediário ou científico; se tem foco na imagem, no fim ou no cliente; se é usuário individual, acadêmico, empresa ou do governo; e, principalmente, quem é o usuário do futuro.
Espera-se que esse “usuário do futuro” tenha domínio técnico sólido, conheça sensores e softwares, seja atento à literatura e informação, interaja com a comunidade e seja um usuário atento às oportunidades.
A questão da continuidade do programa CBERS foi uma preocupação recorrente entre os participantes do encontro. Ela depende da demanda explícita por produtos por parte da comunidade, o que vem ocorrendo até o momento.
Programa CBERS
O Programa CBERS nasceu de uma parceria entre Brasil e China no setor espacial. O primeiro satélite foi lançado em outubro de 1999. Já estão programados os lançamentos dos satélites CBERS 2B, 3 e 4. O engenheiro Ricardo Cartaxo Modesto de Souza, coordenador do programa CBERS, apresentou os detalhes do projeto e as vantagens e desvantagens da cooperação entre Brasil e China.
->Resultados da política de distribuição de dados CBERS (abril de 2005)
O programa CBERS é uma cooperação internacional que dá ao País autonomia no monitoramento do território, além de desenvolver os setores industrial e de serviços. Outras vantagens dessa cooperação são a divisão de custos, a manutenção de cronogramas, a garantia de orçamento e o intercâmbio tecnológico.
O modelo brasileiro prevê a concepção do projeto e integração dos equipamentos feitos pelo INPE, além do fornecimento de elementos por empresas de eletrônica, telecomunicações, estruturas, suprimento de energia e ótica.
Depois de difundir as imagens de satélites gratuitas no Brasil, o INPE inicia uma política de dados livres para a América do Sul com o objetivo de fomentar a difusão do sensoriamento remoto e aumentar a integração da região.
Está garantida a continuidade do programa até o CBERS 4. Porém, o PNAE apresenta declínio das verbas ao longo dos anos; a solução seria criar novos projetos.
Satélite 100% brasileiro
O BRSat1, a ser lançado na Plataforma Multimissão – PMM, será o primeiro satélite genuinamente brasileiro. A PMM é um conceito moderno em termos de arquitetura de satélites. Existe uma separação física entre os módulos de plataforma e a carga útil, o que permite que as partes sejam desenvolvidas e testadas separadamente.
-> Configuração do Módulo de Carga Útil da PMM
A principal questão técnica do evento talvez seja: qual sensor deve ser embarcado INPE no BRSat1? O MUX, com resolução espacial de 20 metros, ou o AWFI, com resolução espacial de 70 metros? Para responder a esta pergunta será feita uma consulta entre os participantes do encontro de usuários e do próximo simpósio de sensoriamento remoto.
SPRING e TerraLib
Lúbia Vinhas, gerente de desenvolvimento do projeto TerraLib, apresentou alguns aspectos da política de software livre do INPE. Os principais projetos do instituto nessa área são o SPRING e o Terralib.
O SPRING é um SIG completo, com funções de processamento de imagens, análise espacial, modelagem numérica de terreno e consulta a bancos de dados espaciais. Pode ser utilizado na plataforma Windows ou Linux. É um freeware, com distribuição via web.
Foi constatado que existe uma demanda por SIGs customizáveis. A partir desta motivação criou-se a TerraLib, uma biblioteca que permite a construção de aplicativos. É um software de código aberto e também é distribuído gratuitamente.
Em 2005 o INPE iniciou a criação de uma biblioteca de processamento digital de imagens na TerraLib. Foi questionado em qual aplicativo seriam disponibilizados os algoritmos. Para isto foi criado o TerraView, que é um visualizador de dados geográficos armazenados em um banco de dados TerraLib.
Lúbia enfatizou que o SPRING possui um histórico importante para o INPE, principalmente na área de processamento digital de imagens, e tem continuidade garantida pelos próximos cinco ou dez anos. A TerraLib e o TerraView não competem com o SPRING, pois são produtos diferentes para usuários diferentes.
A palestrante mostrou-se confiante de que em um futuro próximo a TerraLib estará concorrendo com os softwares comerciais. Em relação aos softwares livres similares, o programa já está no mesmo patamar.
Cursos à distância
A crescente aplicação das geotecnologias, o aumento da demanda por cursos, as dimensões territoriais do Brasil e a dificuldade de acesso à informação, foram decisivos para que o INPE disponibilizasse cursos à distância. A seleção dos alunos leva em conta aspectos geográficos, para que todas as regiões sejam abrangidas.
Nos cursos são utilizados os softwares TelEduc e SPRING, imagens de satélites CBERS e Landsat, vídeos, CDs, livros, apostilas, entre outros recursos. As aulas prevê-em leituras obrigatórias e complementares, chats, consultas ao suporte, etc..
Os resultados obtidos até agora mostraram a viabilidade de cursos de sensoriamento remoto à distância. Os desafios são a busca por um padrão de qualidade e, no futuro, a criação de cursos avançados.
Centro de dados e atendimento aos usuários
Atualmente, a Estação de Recepção e Gravação (ERG), em Cuiabá, recebe e grava dados dos satélites Landsat5, CBERS2, RADARSAT e ERS-2. A área de cobertura geográfica é 100% do Brasil e 80% da América do Sul.
-> Área de cobertura da Estação de Recepção
O engenheiro Luís Geraldo Ferreira, além de coordenar o evento, apresentou detalhes sobre o atendimento aos usuários e números sobre a aquisição de imagens.
Em 2004 o INPE assumiu a liderança mundial em distribuição de imagens. Foram entregues 57 mil imagens CBERS, 12 mil imagens Landsat e 20 mil imagens SPOT-5. Está em andamento a instalação e o teste do sistema de recepção e processamento dos dados CBERS-2B, que terá um sensor de alta resolução espacial (2,5 metros).
Além disso, novos produtos CBERS, um novo software de visualização de imagens, imagens Landsat-TM até 2001 e produtos por assinatura serão disponibilizados.
->Dados armazenados pelo INPE
A maior novidade na aquisição de imagens de sensoriamento remoto no INPE, é a unificação dos catálogos do CBERS e Landsat. Além disso, foram implementados o histórico de pedidos, a opção de consulta de imagens da América do Sul e a consulta dos parâmetros da imagem.
Os participantes do encontro sugeriram que conste no catálogo a previsão de pas sagem sobre o ponto do usuário, tutoriais para leigos e inserção de mais dados sobre a geometria das imagens.
Aplicações de imagens de satélite
No encontro de usuários foram apresentadas algumas aplicações das imagens de satélites. Entre elas destacam-se: levantamentos integrados para o planejamento ambiental; geoprocessamento na gestão municipal; uso da tecnologia espacial pelo Ministério Público; novos sistemas sensores, métodos inovadores e perspectivas para o sensoriamento remoto e SIG; meio ambiente, agricultura e planejamento urbano; atlas de ecossistemas da América do Sul e Antártica; suporte para história e arqueologia; mapeamento da Amazônia Sul Americana com imagens MODIS e mosaicos GEOCOVER.
"Queremos viciar o Brasil em sensoriamento remoto"
Ao final do encontro, ficou a impressão de que houve uma prestação de contas por parte do INPE. Os usuários estavam preocupados quanto à continuidade dos programas e cobrança dos serviços. Os responsáveis pelos programas, porém, foram categóricos.
Ricardo Cartaxo, por exemplo, afirmou que “o INPE não está viciando os usuários em um produto para depois cobrar. O que o INPE quer é viciar o País em sensoriamento remoto”.
Também ficou explícita a filosofia do INPE, de que todos os dados devem ser disponibilizados gratuitamente, e que dado gerado por investimento nacional deve ser um bem público. O mais importante é o conhecimento técnico do usuário.
O próximo encontro será no Rio Grande do Sul em 2008. Para o 5º EUsISSeR espera-se uma participação maior de usuários da América do Sul devido à maior disponibilidade de imagens para a região.
Algumas das instituições presentes no evento
Universidades: UFCE, USP, UFF, Universidade Gama Filho, UFV-MG, UNIVATES, UFRRJ, Universidade Estadual do Norte Fluminense, UNESP, Centro Universitário Barra Mansa, CEFET-MG, UFRN, CEFET-CE, Universidade Estadual Paulista, Universidade Federal de Lavras;
Empresas: Bookimage, CVRD, Petcon, Votorantim Celulose e Papel, Furnas Centrais Elétricas, Editora FTD, Tecgraf, Ecoflorestal, Fep Informática, Novaterra, ThreeteK, Engesat, Enerpeixe, Petrobrás, CEMIG, Banco da Amazônia;
Instituições federais: Embrapa, SGB (CPRM), LNCC, CHESF, INPE, Ministério da Defesa, IBAMA, FURG, Ministério das Cidades, GSI/PR, INCRA;
Instituições estaduais: CETESB, SEMA Amapá, COELBA, ICA, CAESB, CONDEPE/FIDEM, Ruraltins;
Instituições municipais: Prefeitura Municipal de Jaguaré, Instituto de Urbanismo Pereira Santos, Instituto Agronômico de Campinas;
ONGs e Associações: ITEP, PNUD, Conservação Internacional Brasil, Centro de Tecnologia Canavieira.
Eduardo Freitas Oliveira
Engenheiro cartógrafo e assessor editorial da MundoGEO
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