Navegação Aérea por Satélites
Artigo de Eno Siewerd, membro da equipe Atech – projeto CELESTE
“Navegar é preciso”, canta o poeta e, com certeza, milhões de brasileiros se encantam com as aventuras de alguns brasileiros que, solitários ou em família, decidiram passar a maior parte de suas vidas navegando na vastidão dos oceanos.
A História ensina que povos antigos, como os fenícios, já eram exímios navegadores. No entanto, somente após a invenção da bússola foram possíveis as “grandes navegações” e a “descoberta” da América, por exemplo (muito embora o grau de incerteza, neste caso, tenha sido tão grande que uns e outros imaginavam, inicialmente, ter chegado às Índias).
Aos poucos, com as melhorias introduzidas na navegação astronômica, através do uso dos sextantes, dos grandes avanços cartográficos do século 19 e, finalmente, com os sensacionais auxílios à navegação do século 20, incluindo o RADAR e os satélites, os erros se reduziram drasticamente, a ponto de ser possível estabelecer sistemas de navegação de precisão. A navegação por satélites, além de oferecer grande precisão, está cada vez mais ao alcance de todos, com custo baixo e sem grande complicação no uso.
A concepção da navegação por satélite surgiu com o histórico lançamento do primeiro satélite artificial. Já na década de 60 do século passado, americanos, com o seu sistema TRANSIT, e soviéticos, com o TSIKADA, aproveitando os grandes avanços tecnológicos da época conseguiram atender, através do uso de satélites, o crucial requisito operacional de navegação de suas respectivas frotas de submarinos nucleares.
A evolução desses sistemas, já nos anos 70 do século passado, nos trouxe o GPS americano e o GLONASS, sistema russo. E, como as tarefas de capitães-de-navio e de pilotos de avião são semelhantes, os receptores foram melhorados, ficando menores e mais leves, de tal maneira que não somente os grandes aviões de passageiros como também os helicópteros e pequenos aviões de passeio ou treinamento pudessem ser equipados com essa nova tecnologia.
A navegação por satélites é uma tecnologia madura e que se apóia na experiência acumulada ao longo de várias décadas de desenvolvimento. GPS e GLONASS são sistemas sob controle militar desde a sua origem, mas isto nunca impediu que muitos benefícios pudessem ser obtidos também na navegação aérea civil, por exemplo, para cruzar os oceanos e os desertos.
É claro que surgiram dúvidas sobre a conveniência de ficar dependente do uso de sistemas militares de dois países específicos, sem nenhum grau de controle por parte de outros países. Entretanto, foi concebido um sistema mais amplo que, inicialmente, fizesse uso dos sistemas já existentes e aos poucos fosse complementado com novos elementos, tais como o Galileo, um sistema europeu sob controle civil. Ademais, em muitas localidades e regiões seria necessário instalar alguns equipamentos destinados a aumentar a precisão e a confiabilidade do sistema. Essa constelação completa, verdadeiramente de alcance global e com alta confiabilidade, é conhecida como GNSS.
O GPS americano é o sistema satelital mais conhecido e utilizado pelos pilotos como auxílio à navegação. Ele é a base para voar rotas mais diretas e operar em locais onde não há outro tipo de ajuda. Porém, o GPS possui algumas limitações que fazem com que não se deva depender somente dele, sobre as quais escreveremos numa próxima oportunidade. Em resumo, somente o GNSS abre a possibilidade para que “todos possam navegar” com segurança, bem longe do espírito que guia os aventureiros que citamos no início.
Figura 1a – Fila de aeronaves em espera para decolar em Congonhas – SP
Figura 1b – Navegação baseada em GNSS