O desenvolvimento de um GIS para a área de marketing não é mais exclusividade das empresas de geotecnologia, assim como as ferramentas de gestão de negócios também não ficam só nas mãos de administradores. A integração do geoprocessamento com a administração de grandes empresas faz com que engenheiros, geógrafos, analistas de sistemas e gestores, de mundos organizacionais diferentes, falem a mesma língua
As siglas GIS, GNSS e MDT são familiares para os profissionais de geotecnologia, mas aos poucos também estão sendo incorporadas à área de administração de empresas. Os termos mais usados neste setor são ERP, ou planejamento de recursos da empresa; SCM, ou gerenciamento da cadeia de suprimentos; e Business Intelligence, um pouco mais conhecido no mundo GIS.
O geoprocessamento em grandes empresas usualmente é implantado através de integradoras, tanto da área de geo como da área de Tecnologia da Informação (TI), que fazem com que os grandes sistemas de gestão empresarial “conversem” com os softwares de manipulação de dados geoespaciais.
Os setores que mais utilizam a integração entre sistemas de gestão e geoprocessamento são os de energia, saneamento, telecom, óleo e gás, logística, bancário, serviços públicos, agronegócio, comércio, entre outros que precisam levar em conta a variável geográfica para a tomada de decisões.
SOA
Atualmente, o termo da moda nos sistemas de gestão é SOA, ou arquitetura orientada a serviços, que é o modo mais simples de fazer a integração entre softwares de diferentes áreas. A estrutura funciona da seguinte forma: o software de gestão expede um pedido para o software de geo, que executa um serviço e entrega uma resposta, e vice-versa. Tudo isso baseado em linguagens simples como por exemplo XML, um padrão de descrições de páginas web.
Através da SOA, praticamente todos os sistemas presentes na administração de uma empresa podem ser integrados. Existem outras opções mais complexas, como por exemplo a definição de módulos que fazem a integração, porém uma pesquisa feita no início do ano mostrou que 89% dos executivos das grandes empresas têm intenção de usar SOA.
Sistemas de gestão
As maiores empresas de suporte à gestão do mundo são a alemã SAP, com 42% do mercado, e a norte-americana Oracle, com 20%, porém esta diferença vem diminuindo. A troca de farpas entre as gigantes tem sido uma constante nos últimos tempos.
A SAP fatura 1 bilhão de dólares por ano na área de pequenas e médias empresas, e deverá investir 40 milhões de dólares na construção de um centro de pesquisa e desenvolvimento no Brasil com o objetivo de ampliar sua unidade de engenharia de software.
Empresas parceiras da SAP reuniram-se em São Paulo, entre os dias 13 a 15 de março, no SAP Fórum 2007. A InfoGEO esteve presente vento para conhecer este mercado que, se ainda é embrionário no Brasil, tem um grande potencial de crescimento. O tema do encontro foi “Salto para o Futuro” e contou com a participação de empresas como Klabin, Arcelor, Neoenergia e Votorantim.
Entre os sistemas da empresa destacam-se o SAP ERP, que transforma a gestão do negócio em um ambiente colaborativo em tempo real; o SAP SCM, que faz a gestão de cadeia de suprimentos; e o SAP NetWeaver, que é a plataforma para SOA.
Principal concorrente, alguns pontos atrás da SAP, a Oracle dispõe de soluções nas áreas de ERP, SCM e Business Intelligence. Também no mês de março aconteceu em São Paulo o Oracle OpenWorld Latin America 2007, com apresentações sobre SOA, parcerias com universidades, programas de cooperação tecnológica, soluções ERP para pequenas e médias empresas, gestão pública, etc..
Elizabeth de Almeida Faria, gerente de consultoria de vendas da Oracle do Brasil, apresentou em uma entrevista à InfoGEO os detalhes da integração entre sistemas de gestão e GIS. Segundo ela, o banco de dados Oracle tem funcionalidades e extensões nativas georreferenciadas e pode ser usado em qualquer aplicativo de CRM, ERP ou interface aberta.
Com o banco de dados Oracle Spatial pode-se fazer cadastro geográfico de clientes, ocorrências, pontos comerciais, etc.. O sistema pode ser online, voltado para os tomadores de decisão numa intranet, ou para o usuário, na internet. Como a Oracle faz parte do OpenGIS, qualquer aplicação GIS ou ferramenta que busca mapas consegue acessar os dados.
Segundo Elisabeth, a integração de GIS à gestão de negócios é uma tendência no exterior, principalmente nos EUA e na Europa. Apesar de no Brasil ainda estar no começo, é um campo fértil para empresas que estão indo nessa direção.
Particularmente no Brasil e na América Latina, a líder no segmento de suporte à gestão para pequenas e médias empresas é a Totvs, que após a união da Microsiga, Logocenter e RM Sistemas passou a ter 24% do mercado, um ponto a mais que a SAP. A empresa atua no desenvolvimento e comercialização de softwares de administração empresarial e na prestação de serviços nas áreas de ERP, SCM e BI.
Integradoras
A ferramenta integradora não se dispõe a implantar um software de GIS. O integrador geralmente trabalha com qualquer software que o cliente utilize, ou eventualmente pode sugerir a melhor solução dependendo da necessidade, com o objetivo de homogeneizar os sistemas da empresa.
Trilhando o caminho da TI para o GIS está a Braxis, parceira da SAP, Oracle e Microsoft. A Braxis vem do mundo SAP, mas após a compra da Unitech passou a ser uma empresa multi-plataforma. A empresa tem o objetivo de ser uma alternativa à Índia e à China na área de TI, com as vantagens de estar em um país democrático, politicamente estável e com um horário mais compatível com EUA e União Européia. Entre as soluções da empresa destaca-se o Braxis GIS, que leva o potencial do geoprocessamento para o SAP, e foi apresentado por Luiz Carlos Strazzacappa no SAP Fórum. O controle de processos no mySAP ERP, diretamente de um ambiente georreferenciado, foi demonstrado na palestra “Solução Braxis GIS orienta o mySAP ERP”. Os sistemas da Braxis conversam com todos os softwares de GIS, e atualmente também rodam com OpenGIS. Segundo Strazzacappa, o geo deve se expandir para a área de TI, porém a TI ainda desconhece tudo que o GIS pode fazer.
Com atuação em vários países do mundo nas áreas de utilities e infra-estrutura, a Soluziona usa o sistema Open SGD para o gerenciamento de redes, através da integração de diagramas unifilares, cálculos elétricos, plotagem de mapas e geoprocessamento.
Pioneira no uso de SAP no Brasil, a Atos Origin trabalha na área de consultoria, fábrica de softwares, etc.. Cezar Bertolino Neto, gerente de soluções e consultoria; e Suzana Campos, gerente de sistemas de integração, deram uma entrevista à InfoGEO sobre a integração de SAP e GIS. Segundo eles, a integração de sistemas tem o objetivo de prover soluções completas, e uma das alternativas é o uso de GIS. O processo de trabalho tem as seguintes etapas: visitar o cliente, entender o que ele precisa e eventualmente usar um GIS. A Atos Origin está investindo neste segmento por acreditar que o geoprocessamento tem um grande potencial. Além disso, o mercado carece de soluções específicas, como por exemplo GIS e SAP, que oferecem soluções adicionais e homogêneas.
Várias outras empresas de TI, como a Neoris, também fazem a integração de SAP com sistemas de informação geográfica. A Neoris tem soluções de integração de sistemas, gestão do conhecimento e Business Inteligence. Especificamente na área de logística, a empresa faz o controle do produto por meio de sistemas GNSS, rádio freqüência (RFID), códigos de barras, entre outros métodos que suportam a decisão em tempo real.
Investir de forma correta
A integração de GIS com a administração das empresas provê uma solução técnico-econômica. Sistemas como SAP e Oracle fazem a gestão financeira e o GIS entra com a parte técnica. Tudo isso com um único objetivo: investir o dinheiro de forma correta.
Cabe aos técnicos, tanto das empresas de geomática como de TI, fazer com que os altos executivos das grandes corporações entendam que o geoprocessamento é algo que, efetivamente, faz com que
a empresa ganhe mais dinheiro.
Eduardo de Freitas Oliveira
eduardo@mundogeo.com