Os metadados, ou os “dados sobre os dados”, asseguram que as informações espaciais sejam bem organizadas, de forma sistemática e padronizada, para que sejam então encontradas e utilizadas da maneira correta. Basicamente, compõe os metadados todas as informações relevantes sobre: qual é a abrangência geográfica do dado, quando, como e por quem foi feito o dado, qual é a data da última atualização, qual instituição é responsável por este dado, etc..

As vantagens de se construir um sistema de metadados são inúmeras, como por exemplo:

Funcionam como base de um sistema para avaliar e melhorar a qualidade dos dados. Desta forma, podem evitar o retrabalho e diminuir custos e erros. Também evitam cópias, duplicações e versões diferentes, deixando claro qual é a versão oficial e mais atualizada;

Definem de forma mais clara quem é responsável pela informação e coloca explicitamente os limites para utilização e modos de obtenção da mesma. Isso  demonstra transparência, quando as informações não são repassadas apenas aos que conhecem o “caminho das pedras”;

Diminuem a dependência de uma só pessoa ou departamento que saiba a localização da informação, também protegendo o histórico da obtenção dos dados. São medidas de proteção do patrimônio que constitui a informação geográfica;

Protegem quanto ao mau uso das informações (por exemplo, dados em escala não apropriada), pois contêm a informação necessária para o processamento e uso dos dados;

Possibilitam a troca de informações entre instituições em diversos níveis.

São grandes os obstáculos no processo de catalogação dos metadados, uma vez que o trabalho é árduo, as informações originais são difíceis de recuperar e muitas vezes os benefícios são difíceis de ser quantificados. Para facilitar o processo, salientamos duas importantes medidas:

Usar ferramentas adequadas, que possam capturar automaticamente do dado geográfico o maior número de informações possíveis (extensão geográfica, atributos, resolução, etc.). Muitas ferramentas de GIS já possuem suporte completo para metadados (ex. ArcCatalog da Esri). Uma lista bem completa de ferramentas pode ser encontrada no seguinte endereço: www.fgdc.gov/metadata/geospatial-metadata-tools (em inglês);

Fazer com que o preenchimento dos metadados seja parte do processo de aquisição de dados. Para instituições que terceirizam a obtenção dos dados, pode ser exigido já no ato de contratação da execução do mapeamento. Dessa forma, mesmo que o acervo não esteja completamente catalogado, de determinado ponto em diante será garantida a padronização.

Padrões Internacionais de Metadados e Perfis de Metadados

Um Padrão de Metadados é uma forma técnica e estruturada de descrevê-los. Entre os mais utilizados destacam-se:

Dublin Core (ISO 15836) – elementos simples, de aplicação não especificamente geográfica;

ISO 19115 Geographic Information Metadata;

Content Standard for Digital Geospatial Metadata (CSDGM) – Padrão Americano – FGDC.

No entanto, como os padrões são planejados para abranger todos os tipos de dados globalmente, os padrões são essencialmente bastante genéricos. Outra particularidade é que são redigidos oficialmente na língua inglesa.

Para então particularizar um padrão genérico, para uma área geográfica, linguagem ou aplicação específica, são criados os Perfis de Metadados (Metadata Profiles). Um perfil é um detalhamento da norma geral, segundo linguagem e características locais.

Enquanto o padrão é complexo e genérico, o perfil é composto de uma descrição detalhada do padrão, definindo termos, definições e valores de domínio, para uma comunidade específica.

O  perfil pode também estender a norma, colocando mais atributos, ou diminuí-la, descartando campos irrelevantes.

Um perfil geralmente contempla as seguintes etapas:

Tradução e definição dos itens (quando em linguagem diferente da norma);

Seleção de itens da norma escolhida (geralmente a ISO);

Transformação de campos opcionais em obrigatórios;

Extensão das listas de códigos e novas listas de código;

Best practices: espécie de “manual de instruções” de como deverá ser preenchido o campo.

Os Perfis de Metadados são então publicados através de um esquema XML padrão, objeto de norma ISO específica. Foi criado também um “Registro de Perfis”, nos quais os perfis existentes são publicados de forma que possam ser consultados e intercambiados.

Alguns dos perfis existentes (nacionais/regionais/globais):

NAP (North American Profile) – EUA + Canadá e futuramente México – em discussão www.fgdc.gov/standards/projects/incits-l1-standards-projects/NAP-Metadata;

ANZLIC – Austrália + Nova Zelândia www.anzlic.org.au/metadata_project.html;

LAMP (Latin American Metadata Profile) – em discussão – inicialmente somente em inglês e espanhol;

PCGIAP (Asia and the Pacific Permanent Committee on GIS Infrastructure for Asia and the Pacific) www.sbsm.gov.cn/pcgiap/;

African Metadata Profile www.agirn.org/index.php;

JMP (Japan Metadata Profile) http://zgate.gsi.go.jp/ch/jmp20/jmp20_eng.html.

Perfis para aplicações específicas:

Perfil Americano para dados biológicos: www.fgdc.gov/standards/projects/FGDC-standards-projects/metadata/biometadata/biodatap.pdf.

Por que e como criar um Perfil Brasileiro de Metadados?

Primeiramente, já existem várias instituições no Brasil estudando e colocando metadados em prática. No GEOBrasil Summit 2007 foi apresentado por Adriana Crem o pioneiro trabalho da Companhia Vale do Rio Doce em padronizar as informações sobre seu acervo. No entanto, cada instituição está trabalhando com sua própria tradução da norma, o que com o tempo poderá vir a despadronizar os metadados, perdendo inclusive a oportunidade de trocar ou agregar dados com outros países ou de desenvolvimento de sistemas multilíngues.

Existe na Comissão Nacional de Cartografia (Concar – www.concar.ibge.gov.br) o Comitê de Estruturação de Metadados (CEM). Mas será representativo o suficiente para congregar todos os esforços já existentes na padronização de Metadados no Brasil?

Baseado nas experiências internacionais (incluindo a Oficina sobre o LAMP – Latin American Profile, que ocorreu no 9º GSDI no Chile, com representantes de entidades como a ISO), seriam recomendáveis os seguintes passos:

Criação de um grupo de trabalho, com representação de governo, universidades, empresas e usuários;

Consenso sobre tradução (podendo-se utilizar como base as já em uso no Brasil), dados obrigatórios e opcionais, lista de códigos e valores de domínio específicos para o Brasil e extensões (campos adicionais);

Redação da versão final em XML; 

Divulgação dos resultados para utilização e testes;

Revisões periódicas (é um trabalho, como as normas, em constante evolução).

Silvana Phillipi Camboim é engenheira cartógrafa e diretora da Geoplus Geotecnologia e Informática

A partir dessa edição, temos este novo espaço “Brasil SDI”, para divulgar notícias, conceitos e experiências nas áreas de metadados, interoperabilidade, bancos de dados espaciais, infra estrutura de dados espaciais, entre outros tópicos que contemplam o conjunto de abordagens tecnológicas, políticas e organizacionais que nos permitam conviver no novo ambiente de dados geográficos globalmente distribuídos.

Convidamos a todos que trabalham ou tenham interesse nesta área que se cadastrem na lista Brasil SDI, para que possamos ter aos poucos uma visão de quais usuários e instituições estão empreendendo esforços nesse sentido, quais os resultados atingidos, quais obstáculos a serem transpostos e assim possamos formar uma comunidade brasileira de usuários nesta área.

Sugerimos também aos interessados que se cadastrem no GSDI (www.gsdi.org), para que possam receber a newsletter (em breve também em português) com notícias, dicas, casos de estudo e eventos, em âmbito global e latino-americano sobre o assunto.