Vendedores de scanners terrestres Lidar geralmente apresentam com orgulho a operação dos instrumentos em campo como “moleza”. E eles estão certos. É preciso apenas posicionar o instrumento em frente do objeto, fixá-lo, entrar na área e apertar o botão. É simples assim. Ou pelo menos, até onde o cartógrafo está preocupado. Porém o problema não aparece na operação do instrumento, mas na preparação para isso, e na monitoração da cena durante a captura.

Antes de posicionar o instrumento, o operador tem que assegurar que não há objetos interferindo entre o instrumento e a cena, já que isso pode ocultar partes essenciais. Ou seja, nada de carros, postes, placas de trânsito, vegetação, pessoas ou animais. Nada de “aliens”, como o Professor Heinz Ruther chamou esses objetos, em sua apresentação sobre os desafios impostos ao escaneamento terrestre de patrimônios históricos.

Fontes potenciais de falhas também podem estar escondidas na cena. Lapsos podem resultar especialmente das características do grau de reflexo das superfícies dos objetos. Batendo em uma superfície, um feixe de laser pode interagir de três formas: pode ser refletido, absorvido ou transmitido. Apenas feixes refletidos alcançarão o instrumento e poderão ser utilizados, mas um reflexo é melhor que outro.

Em teoria, a superfície se comporta como um refletor difuso, então os reflexos resultantes são fortes em todas as direções. Nesse caso, a maioria dos sinais que retornam da superfície alcançam o instrumento. Mas quando partes de um objeto têm uma superfície especular, o reflexo é desviado e pouco ou nenhum sinal retorna ao instrumento. Portanto, espelhos, metais brilhantes e suportes de luzes neon devem ser removidos da cena ou cobertos. Um sinal forte, registrado em adição com o tempo de vôo do feixe do laser, fornece ao operador uma boa forma de detectar lapsos no reflexo durante o processo das nuvens de pontos.

Feixes de laser podem ser transmitidos através de janelas, e isso pode acontecer, por exemplo, com edifícios, e resultam em registros dos objetos do outro lado do vidro. Para evitar problemas para reconstruir a cena final, as janelas têm que ser cobertas, ou deve-se ter uma atenção especial no processamento da nuvem de pontos.

A polícia rodoviária, quando utiliza scanners para registrar a cena de um acidente, acrescenta um pó especial nas janelas dos carros para evitar que o scanner “olhe” através delas. Além disso, vivemos em um mundo dinâmico, repleto de pessoas em constante movimento. Então, pedestres tendem a atravessar a cena durante a captura, assim como animais, carros e bicicletas.

O cartógrafo deve fechar a área da cena para todo tipo de tráfego antes de iniciar a captura. Isso parece ser evidente, mas quão comum são pontos de controle invisíveis no solo em escaneamentos aéreos porque estão embaixo de árvores ou a alguns metros de um edifício de 30 andares? E na prática, fechar a cena para qualquer tipo de movimentação normalmente é muito mais problemático do que parece.

Além de cobrir os objetos e evitar que “coisas” atravessem a cena, o cartógrafo também tem que posicionar e identificar os objetos anteriormente. Objetos podem ser marcadores, como pregos, ou pontos existentes, como cantos nítidos, utilizados como pontos de controle, necessários para a conversão dos dados de alcance para as coordenadas X, Y, Z em um sistema de referência local ou nacional.

A localização dos pontos tem que ser selecionada com cuidado e sem ambiguidade indicada para evitar erros. Normalmente, quatro pontos de controle são usados nas áreas do escaneamento, apesar que três são suficientes para georreferenciamento, sendo o quarto usado como reserva e para checagem. Objetos grandes requerem escaneamento de várias posições, e cenas adjacentes têm que se sobrepor adequadamente. Uma vez que o ponto de controle seja identificado em um escaneamento, a identificação na sobreposição pode ser feita semi-automaticamente.

Os produtos gerados a partir de uma nuvem de pontos de um scanner Lidar são usados por uma infinidade de profissionais, como arquitetos, engenheiros químicos, civis e mecânicos. Toda profissão tem seu jargão, e uma confusão de línguas pode causar o surgimento de discrepâncias entre o produto oferecido pelo cartógrafo e o desejo de seu cliente. Por exemplo, “seção transversal” é um termo utilizado por todos os profissionais supracitados, mas cada um representa isso de uma forma completamente diferente. Um cartógrafo precisa falar todas as línguas.

Agradecimentos: Leica Geosystems e Ron Rozema, agrimensor Lidar com a Fugro.

Por Henk Key e Mathias Lemmens,
GIM International
mathias.lemens@reedbusiness.nl