por Eduardo Freitas Oliveira
O dia 18 de setembro de 2007 foi especial para o setor de Observação da Terra. Com uma diferença de apenas algumas horas, foram colocados em órbita os satélites Cbers-2B e WorldView-1.
Terceiro satélite da parceria entre Brasil e China, o Cbers-2B possui três câmeras imageadoras a bordo, CCD, WFI e HRC, esta uma pancromática com resolução espacial de 2,5 metros. A diversidade de sensores atende a múltiplas necessidades, do planejamento urbano ao monitoramento ambiental.
Já o WorldView-1, operado pela DigitalGlobe, tem uma câmera que mostra ainda mais detalhes, chegando a menos de meio metro de resolução espacial no modo pancromático. Esse grau de detalhamento abre significativamente o leque de aplicações das imagens de satélites, possibilitando, por exemplo, o uso em cadastro técnico multifinalitário urbano.
Cbers-2B
O Programa Cbers é um exemplo bem-sucedido de cooperação internacional de alta tecnologia, e é um dos pilares da parceria estratégica entre o Brasil e a China. Na área de média resolução espacial, o Cbers é hoje um dos principais programas de sensoriamento remoto em todo o mundo, ao lado do norte-americano Landsat, do francês Spot, do japonês Alos e do indiano ResourceSat.
No dia 25 de setembro, o Inpe recebeu as primeiras imagens do Cbers-2B, com parte da região Amazônica, feitas com os sensores WFI e CCD. A câmera experimental de alta resolução HRC ainda passa por testes e não teve imagens divulgadas.
Vários questionamentos da comunidade de geotecnologia pairam sobre a política de distribuição de imagens de alta resolução do Cbers-2B, já que atualmente os dados são entregues gratuitamente. Certamente haverá uma revolução na área de mapeamento caso a política de livre distribuição de dados continue com o Cbers-2B. O Inpe deve anunciar em breve como serão disponibilizadas as imagens do novo satélite.
O plano do Inpe é instalar mais seis estações ao redor do mundo, para que países da África, Sudeste Asiático e América Latina possam receber imagens do Cbers. O retorno esperado é que a tecnologia nacional de sensoriamento remoto se dissemine por esses países, e que empresas brasileiras do setor possam ganhar maior exposição internacional.
Assista ao vídeo do lançamento do Cbers-2B em www.inpe.br/CBERS2B.php
-> Imagens das câmeras WFI e CCD, de 26 de setembro de 2007
WorldView-1
O WorldView-1 faz parte do programa Nextview da Agência Nacional de Inteligência Geoespacial dos Estados Unidos (NGA, na sigla em inglês), fruto de um acordo com a DigitalGlobe. O sensor do satélite, construído pela ITT Corporation, é um sistema de imageamento pancromático com meio metro de resolução espacial, com revisita média de 1,7 dia, e capaz de coletar mais de 750 mil quilômetros quadrados diários.
Em 15 de outubro, a DigitalGlobe divulgou as primeiras imagens do WorldView-1, incluindo cenas das cidades de Houston, nos Estados Unidos, Yokohama, no Japão, e Adis Ababa, na Etiópia.
Segundo a DigitalGlobe, o WorldView-1 deverá estar completamente operacional e entregando imagens no máximo até o final do ano. Para 2008, a empresa tem programado o lançamento do WorldView-2, que terá oito bandas de dados multiespectrais.
Lançado em 18 de outubro de 2001, o QuickBird foi o primeiro satélite da constelação da DigitalGlobe com imagens comerciais de alta resolução, alcançando detalhes de até 60 centímetros.
Assista ao vídeo do lançamento do WorldView-1 em www.digitalglobe.com/worldview-1_launch.html
-> Imagem de Houston a partir do WorldView-1
DigitalGlobe
Alos
O IBGE lançou, no dia 22 de outubro, o portal de distribuição de imagens do satélite japonês Advanced Land Observing Satellite (Alos) para os órgãos do governo brasileiro, instituições de pesquisa e demais usuários não comerciais no país. No site www.ibge.gov.br/alos estão disponíveis o catálogo de imagens, descrição dos sensores e respostas às perguntas mais freqüentes dos usuários.
O satélite transporta três sensores, sendo dois ópticos (Prism e Avnir-2), e um radar imageador (Palsar). O Prism adquire imagens pancromáticas com 2,5 metros de resolução, enquanto o Avnir-2 obtém imagens multiespectrais com resolução espacial de 10 metros. Já o Palsar é capaz de adquirir cenas através de microondas durante o dia ou à noite, sob qualquer condição climática, com resolução de até 10 metros.
Veja abaixo um exemplo da fusão de imagens dos sensores Prism e Avnir-2, gerando uma imagem colorida com 2,5 metros de resolução.
O IBGE vai fornecer imagens somente para instituições públicas e de pesquisa. Para uso comercial, devem ser consultadas as empresas representantes do Alos no Brasil.
-> Fusão de imagens dos sensores Prism e Avnir
Novaterra
Spot
O primeiro satélite da série Spot foi lançado em 1986. O mais atual é o Spot 5, com resolução de até 2,5 metros. O governador de Mato Grosso, Blairo Maggi, assinou em 18 de outubro em Toulouse, na França, uma carta de intenções com a empresa estatal francesa Spot Image, com o objetivo de auxiliar nas ações desenvolvidas pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente.
A Spot Image dispõe de 32 estações de recepção de imagens de satélite ao redor do mundo, incluindo antenas operadas pelos governos federais do México e da Venezuela.
Cartosat-2
Construído pela Organização de Pesquisa Espacial Indiana (ISRO, na sigla em inglês), o Cartosat-2 foi colocado em órbita em janeiro de 2007, junto com uma plataforma de experimentos de microgravidade da Indonésia (Lapan-Tubsat) e da Argentina (Pehuensat-1).
Os dados do Cartosat-2, com resolução espacial de até um metro, podem ser usados para aplicações cartográficas nos níveis cadastral urbano e rural.
Ikonos
O Ikonos é o satélite de alta resolução operado pela GeoEye, com capacidade de coletar imagens com resolução de até 82 centímetros no modo pancromático e revisita de aproximadamente três dias.
Além do Ikonos, o catálogo da GeoEye também tem imagens do Orbview-3, com imagens que variam de um a quatro metros. O próximo satélite da empresa será o GeoEye-1, com lançamento previsto para 2008.
Resurs-DK1
Lançado em junho de 2006, o Resurs-DK1 é um satélite comercial para Observação da Terra operado pela Agência Espacial Federal Russa, conhecida por Roskosmos ou somente RKA, formada após a derrubada da União Soviética. Tem capacidade de transmitir imagens de alta resolução de até um metro e revisita de seis dias.
Próximos lançamentos
Nos próximos anos, estão previstos dezenas de lançamentos de satélites, de países diversos como Taiwan, Itália, Israel, Índia, França, Alemanha e Estados Unidos, além é claro da parceria entre Brasil e China, com o Cbers-3.
Até o final desta década, devem estar em operação nove satélites com resolução espacial de um metro ou menos, sendo dois dos EUA, cinco europeus, um israelense e um indiano. Veja na tabela acima a programação de lançamentos de satélites de alta resolução até 2009.
Acesse www.space-risks.com e conheça uma ferramenta na qual você insere os anos de início e fim e cria tabelas com os principais lançamentos do período
Radar
Além das câmeras ópticas, sensores radar também podem chegar a altas resoluções, como o alemão TerraSAR-X e o italiano Cosmo-Skymed, ambos lançados em junho deste ano, e o japonês IGS, que foi enviado ao espaço em janeiro. A principal vantagem desse tipo de equipamento é a capacidade de captar imagens em qualquer condição climática e horário.
Cadastro urbano
O Ministério das Cidades está elaborando as diretrizes nacionais para o cadastro urbano, que certamente levarão em conta as facilidades para mapeamento urbano obtidas com os satélites de alta resolução.
Além do acesso diário a imagens de alta resolução em qualquer tempo e lugar do mundo, os novos sensores permitem a Observação da Terra em vários comprimentos de onda (infra-vermelho, luz visível, microondas), diferentes polarizações e múltiplas bandas estreitas da luz visível (superespectrais, multiespectrais), com possibilidades infinitas de aplicação.
Veja na próxima edição os resultados obtidos pelos grupos de trabalho do Ministério das Cidades, e como as diretrizes do cadastro urbano vão afetar as áreas de cartografia, GNSS e GIS