Por Eduardo Freitas Oliveira

Da infraestrutura aos filmes do Homem-Aranha, passando pela manufatura, geoprocessamento e obras civis, a Autodesk marca presença com seus softwares para desenho, simulação e análise. Realizados nos dias 12 e 13 de fevereiro na cidade de San Francisco, Califórnia, os Autodesk World Press Days (AWPD) foram uma oportunidade para conhecer os novos produtos e a visão da empresa para os próximos anos.

Em torno de 150 representantes da imprensa mundial das áreas de construção civil, manufatura, geotecnologias e entretenimento estiveram presentes no evento. Eram editores, jornalistas e fotógrafos de regiões distintas como Chile, Polônia e Índia. A convite da Autodesk, a Revista InfoGEO esteve presente no AWPD.

San Francisco é uma cidade nostálgica e bucólica, com seus bondes, suas ruas super inclinadas e suas famosas pontes Golden Gate e Bay Bridge. Porém, em contraste com as construções antigas, a cidade tem um centro comercial vigoroso, simbolizado pela Pirâmide Transamérica. Devido à proximidade com o Vale do Silício, San Francisco é um pólo de empresas de alta tecnologia.

O principal conceito abordado durante praticamente todo o evento foi o de Building Information Model (BIM), que pode ser usado em diversas áreas, desde manufatura até games. Os levantamentos usando laser scanner também foram citados em palestras de diversas áreas, com o propósito de obter modelos tridimensionais.

Primeiro dia

O presidente da Autodesk, Carl Bass, abriu as apresentações afirmando que a inovação em design está no coração do que a empresa faz, e expôs alguns números sobre base de usuários e crescimento estimado da empresa. Na seqüência, mostrou quatro fatores que têm direcionado as ações da empresa, e que foram recorrentes durante o evento: vida digital, globalização, crescimento da infraestrutura e preocupações com as mudanças climáticas.

Executivos das companhias multinacionais Ford, GM e Sony Pictures mostraram como estão usando as ferramentas da Autodesk em suas empresas. Na Ford, os modelos tridimensionais são usados desde a concepção de um carro até a área de publicidade, para divulgar um veículo mesmo antes de sua fabricação, economizando assim milhões de dólares por ano. A GM tem obtido economia de 3 a 5% nos gastos usando modelos em 3D para a construção de suas instalações, que são mais de 170 em todo o mundo.

Já a palestra da Sony foi um show à parte, com a exibição de trechos de filmes que foram produzidos utilizando os softwares da Autodesk, principalmente o Autodesk Maya. A seqüência do Homem-Aranha, o mais recente filme do Superman, e o ainda não lançado Beowulf têm cenas inteiras criadas em ambiente virtual, mas que passam a impressão de serem reais.

A indústria de games é uma das que mais cresce em todo o mundo. Segundo um executivo da Autodesk, são os jogos que estão direcionando a inovação em design e também as necessidades de hardware.

O setor de Arquitetura, Engenharia e Construção (AEC) não ficou para trás, e o conceito BIM foi amplamente utilizado para mostrar como os modelos 3D de edificações são a melhor forma para projetar, analisar e construir uma obra. Segundo um executivo do setor, a estimativa é que em 2009 aproximadamente a metade dos grandes projetos estejam usando modelos tridimensionais de edificações.

Na área geoespacial, o uso de BIM também foi divulgado e incentivado, através principalmente de levantamentos com a tecnologia Lidar, que faz uma varredura do espaço e cria nuvens 3D de pontos, que são então integrados e formam modelos. Recriações de cidades inteiras, como as do projeto Metrópolis (ver box), deverão ser em um futuro próximo poderosas ferramentas para a administração pública.

Segundo dia

No início do segundo dia, os programas em educação da Autodesk foram apresentados. Atualmente, a empresa possui centros de excelência na Rússia, Índia e China, onde estudantes são incentivados a criar novos produtos e novas tecnologias a partir dos softwares da Autodesk. Quem sabe o Brasil não seja um local apropriado para um novo centro da empresa, fechando assim o grupo BRIC?

Na seqüência, workshops das áreas geoespacial, AEC, manufatura e entretenimento mostraram como executar procedimentos simples para alcançar um objetivo.

A China, com sua exuberante economia, foi representada por Li-Chih Fu, diretor de design da companhia Nanjing, que mostrou como os fatores culturais chineses foram levados em conta para o projeto de um automóvel, e como as ferramentas de design facilitaram o processo.

Metrópolis

Uma das demonstrações de nova tecnologia mais interessantes foi a do projeto Metrópolis, desenvolvido pelo setor de pesquisa&desenvolvimento Autodesk Labs, que consistia de uma imagem aérea de uma região com construções, e uma “lente” que percorria a imagem mostrando a infraestrutura. À medida em que a lente se movia, o layer selecionado era mostrado, como os dutos de água e gás no subsolo por exemplo.

Metropolis

Mas não era só isso. A ferramenta ainda permitia fazer simulações, como por exemplo fechar uma válvula de água e verificar como uma região era afetada à medida em que o líquido parava de escoar.

Ferramentas de game em primeira pessoa também foram mostradas para serem usadas pela administração pública e também por equipes móveis, como bombeiros por exemplo, que podem usar um modelo de edificações para treinamentos e também para simular a entrada em lugares desconhecidos.

Linha 2009

Durante o AWPD, a linha 2009 de produtos da Autodesk, que deverá ser lançada em breve, foi amplamente demonstrada. O AutoCAD 2009, por exemplo, oferecerá ferramentas de automação que não exigem conhecimento de programação por parte do usuário, e também novas ferramentas de navegação 3D.

As soluções da Autodesk destinadas ao mercado geoespacial incluem o AutoCAD Map (GIS), Autodesk Civil (GIS+Infraestrutura), MapGuide Open Source / Enterprise (WebGIS), AutoCAD Raster Design (transformação de raster em vector), Autodesk Utility Design (interface com SAP), Autodesk Topobase (integra MapGuide e Oracle Spatial), sem contar os outros softwares que podem ser usados para apresentações animadas na área de geo, como 3DS Max e Maya.

Revolução no design

Os problemas gerados pelas mudanças climáticas foram citados em várias apresentações. De acordo com a filosofia da Autodesk, a sustentabilidade em qualquer tipo de projeto é algo que deve ser sempre buscado. Recentemente, a empresa lançou a iniciativa Green, que incentiva o desenvolvimento sustentável. Acesse www.autodesk.com/green e saiba mais.

A Autodesk é a única empresa no mundo que está nos ramos de AEC, manufatura e entretenimento, e a mesma tecnologia de design é usada em várias áreas. Segundo a empresa, este é o momento de uma nova revolução no setor de design. É aguardar para ver.

Entrevista com Geoff Zeiss, diretor de tecnologia para as soluções geoespaciais da Autodesk

InfoGEO: O conceito de Building Information Model (BIM) foi ilustrado em várias apresentações no Autodesk World Press Days (AWPD). Como os BIMs, que são elementos 3D, podem ser usados na área geoespacial, que é baseada majoritariamente em projeções 2D?
Geoff Zeiss: Nos últimos anos, houve uma importante revolução, com a quebra das barreiras entre as ilhas tradicionais de tecnologia associadas a arquitetura, engenharia e tecnologia geoespacial. Há alguns anos, o Consórcio Espacial Aberto (OGC), que é responsável pela adoção global de padrões como WMS, WFS e GML, e a Aliança Internacional para a Interoperabilidade (IAI), que é responsável por um padrão de arquitetura chamado Industry Foundation Classes (IFC), formaram uma aliança e o resultado é que o georreferenciamento está agora tornando-se parte do padrão IFC. Isso é importante porque significa, formalmente, que arquitetos e engenheiros estão reconhecendo que geolocalizar as estruturas que eles estão projetando faz parte integral do processo de desenho. Ser capaz de simular como uma nova estrutura vai impactar visualmente um ambiente urbano é importante para o proprietário, para os cidadãos e para os governos locais.
No FOSS4G, em setembro, a Autodesk anunciou a aquisição de uma tecnologia de sistemas de coordenadas para o mundo real da empresa Mentor Software, e nossa intenção é doá-la para a comunidade open source. Empresas comerciais da área geoespacial, como Autodesk, Safe Software e outras, baseiam-se nessas bibliotecas de projeções. Na área de código aberto, essas bibliotecas estarão disponíveis para qualquer desenvolvedor, não apenas para empresas da área geoespacial, para serem incorporadas em seus produtos.

IG: A Autodesk pretende desenvolver um globo digital, como o Google Earth ou o MS Virtual Earth? Como é a interoperabilidade entre os softwares da Autodesk e estes  globos virtuais?
GZ: Nós preferimos trabalhar com os clientes geoespaciais já existentes do que introduzir um novo. Por exemplo, o MapGuide permite que você publique informação geoespacial em formato KML, o que significa que você pode visualizar dados do MapGuide Server usando o cliente Google Earth.

IG: A Autodesk tem participação em iniciativas de infraestruturas globais de dados espaciais, como GSDI e UNSDI? Qual é o papel da Autodesk nos programas de padronização do OGC e ISO?
GZ: É importante ter em mente que dados geoespaciais tradicionais são apenas uma parte do mundo dos dados espaciais. O CAD é a primeira fonte de informação do mundo dos dados vetoriais espaciais, assim qualquer iniciativa de infraestrutura de dados espaciais também envolve dados criados, capturados e mantidos pelos produtos da Autodesk.
A Autodesk foi um dos membros originais do Consórcio Geoespacial Aberto (OGC), e tem sido um dos membros principais nos últimos anos. Além disso, por apoiar o OGC, nós também apoiamos a fundação do LandXML.org, e temos estado envolvidos com a IAI no suporte do padrão IFC. Os produtos da Autodesk são compatíveis com esses padrões.

IG: Uma frase de Bill Gates diz que “25 milhões de cópias criam um padrão”. O senhor considera o dwf como um padrão? A Autodesk pretende fazer do dwf, ou de outro formato de arquivo, um padrão?
GZ: Têm havido milhões de downloads da ferramenta livre para visualizar e imprimir chamada Autodesk Design Review (ADR), e a maioria dos oito milhões de engenheiros e arquitetos, clientes da Autodesk, baseiam-se nela para apoiar suas operações comerciais diárias.
Um dos mais importantes melhoramentos do DWF, em minha opinião, é a capacidade de georreferenciamento, assim o DWF agora incorpora também sistemas de coordenadas do mundo real. O  Autodesk Design Review pode mostrar a localização em coordenadas reais, incluindo latitude/longitude e projeções, e integra suporte a receptores GPS.

IG: A Autodesk tem, ou pretende ter, um “Software como Serviço" (SaaS) na área geoespacial? Que tipo de serviços poderiam ser disponibilizados em um software como esse?
GZ: O SaaS ainda é uma inovação relativamente inédita de uma perspectiva de modelo de negócio, popularizada para a maioria das pessoas pelo SalesForce.com, mas eu penso que há consenso de que existe uma boa aceitação do modelo. Creio que o SalesForce.com ainda está focado no market share, assim como a Amazon estava nos primeiros anos. O Autodesk Buzzsaw é um exemplo que conheço de uma implementação de SaaS de sucesso. Já que eu não posso confirmar nenhuma oferta futura de SaaS da Autodesk, nós estamos atualmente explorando esse tipo de modelo de negócios e seu potencial através da fundação de uma grande rede de soluções convergentes que vai integrar engenharia, desenho para arquitetura, área geoespacial e simulação 3D.

IG: A área de Serviços Baseados em Localização (LBS) tem crescido muito e as companhias de TI estão investindo muito dinheiro nisso. Quais são as soluções da Autodesk para integrar o desenho com equipamentos móveis?
GZ: Eu penso que o importante, da pespectiva da Autodesk, é que se olharmos para como os dados de desenho de engenharia percorrem uma organização, nós vemos duas áreas com maiores problema: o as built e a força de trabalho. O problema da força de trabalho é a dificuldade que as organizações têm tido em direcionar o conhecimento e a experiência de sua equipe de operações em campo para assegurar e melhorar a qualidade de suas bases de dados. Os aparelhos móveis e as tecnologias sem-fio estão ajudando a quebrar as barreiras técnicas, fazendo com que as equipes em campo participem mais ativamente na manutenção de dados de infraestrutura crítica. A Autodesk está completamente comprometida em apoiar essas ferramentas de software. Disponibilizar ferramentas geoespaciais no DWF e no ADR são nossos primeiros passos para apoiar esse segmento crítico de mercado.

IG: O senhor vê alguma tecnologia emergente que possa, no futuro, ser tão revolucionária como o BIM?
GZ: Eu penso que a convergência entre arquitetura, engenharia, geoespacial e tecnologia de simulação 3D tem o potencial de impactar o mercado de forma mais dramática, por diversas razões:
1.É fundamentalmente visual;
2.Dissolve ilhas tradicionais de tecnologia, como CAD e GIS, que são agora vistas como um impedimento a uma visão mais holística do mundo que temos construído;
3.O que algumas vezes chamamos de “software geracional”. A geração mais velha cresceu com o 2D, está confortável com isso e freqüentemente considera ambientes 3D um pouco como “Star Wars”. Por outro lado, a geração mais jovem, que está entrando no mercado de trabalho, cresceu jogando vídeo games imersivos em 3D – e a tecnologia de visualização é realmente fora de série. Eles geralmente ficam confortáveis com ambientes simulados em 3D, e acham o 2D entediante.