Um tema recorrente na área de geoprocessamento é a garantia de acesso à informação geográfica. Isso é alcançado através de ações coordenadas, seja entre países ou organizações, com o objetivo de implementar políticas afins, padronizar e definir mecanismos efetivos para desenvolvimento, acessibilidade e interoperabilidade de tecnologias e dados geográficos
Por Eduardo Freitas Oliveira
Ao longo das últimas décadas, cientistas de dados espaciais de várias partes do mundo têm trabalhado juntos para desenvolver mecanismos de compartilhamento de informações. Mais recentemente, esforços têm sido organizados para projetar e construir Infraestruturas de Dados Espaciais (IDE) nos níveis global, regional, nacional e corporativo.
Durante os últimos anos, as IDEs têm se tornado uma importante área da ciência da geoinformação. O número crescente de clearinghouses – portais de informações geográficas – pode ser um bom indicador do desenvolvimento de Infraestruturas de Dados Espaciais.
No entanto, ainda há muitos desafios a serem cumpridos para que seja alcançado o completo funcionamento das IDEs. A organização dos esforços espalhados por todo o mundo talvez seja a principal tarefa a ser realizada nos próximos anos.
Um dos grandes desafios do intercâmbio de dados é enfrentar a diversidade de modelos conceituais dos SIGs disponíveis no mercado, o que faz com que muitas organizações produtoras de informação georreferenciada sigam regras conceituais vinculadas ao sistema por elas utilizado. O resultado disso é um ambiente heterogêneo, onde cada organização tem sua maneira de armazenar e disponibilizar a informação espacial.
O acesso à informação geográfica tem sido uma das grandes dificuldades de pesquisadores, usuários, desenvolvedores ou especialistas envolvidos em temas ligados à representação computacional. Porém, através das IDEs isso vem mudando.
Mas afinal, o que é uma IDE? Há várias definições para o que constitui uma Infraestrutura de Dados Espaciais, refletindo uma variedade de escopos, níveis de jurisdição e perspectivas temáticas. Uma das definições freqüentemente usada é a do ex-presidente norte-americano Bill Clinton, de 1994, que estabeleceu a IDE nacional nos Estados Unidos, na qual é definida como “tecnologias, políticas, padrões e recursos humanos necessários para aquisição, processamento, armazenamento, distribuição e incentivo à utilização de dados geoespaciais”.
A idéia principal das IDEs é oferecer serviços de acesso à informação geográfica, com base em grandes catálogos de acervos de informação, tornando indiferentes, aos olhos do cliente da IDE, o local, o meio e a estrutura física de armazenamento.
Iniciativas globais e regionais
Uma das principais iniciativas de IDE em nível mundial é a Global Spatial Data Infrastructure (GSDI), uma associação de organizações, agências, empresas e indivíduos de todo o mundo, com o objetivo de promover a cooperação internacional e a colaboração para apoiar o desenvolvimento de IDEs locais, nacionais e internacionais.
Desde novembro de 2007, a GSDI tem uma versão em português do seu informativo IDE-LAC, com notícias sobre iniciativas de IDE na região da América Latina e Caribe. Para assinar, acesse www.gsdi.org
Nos Estados Unidos, a National Spatial Data Infrastructure (NSDI) é uma iniciativa do Federal Geographic Data Comittee (FGDC), a mesma entidade responsável pela norma norte-americana de padronização de metadados. A NSDI estabelece as tecnologias, políticas e pessoal necessários para promover o compartilhamento de dados geoespaciais nos setores governamental, privado e individual, além da comunidade acadêmica.
Também no nível global, em outubro de 2005 foi criada a United Nations Spatial Data Infrastructure (UNSDI), para apoiar esforços coordenados no desenvolvimento e gerenciamento de informação geoespacial. Enquanto a GSDI é uma associação de instituições públicas e privadas, a UNSDI é uma iniciativa das Nações Unidas.
A União Européia (EU), através do seu jornal oficial de 14 de março de 2007, estabeleceu a Infraestrutura para Informação Espacial na Comunidade Européia – Infrastructure for Spatial Information in the European Community (Inspire). Os objetivos da Inspire são criar uma IDE européia que provenha aos usuários serviços integrados de informação espacial e que os permita identificar e acessar informação espacial ou geográfica de uma variedade de fontes, do nível local ao global.
Especificamente no Brasil, entre os anos 2003 e 2004 a Comissão Nacional de Cartografia (Concar) teve seus trabalhos reativados. Dentre seus principais objetivos está a implantação da Infraestrutura Nacional de Dados Espaciais (INDE). A homologação de especificações técnicas para a estruturação de dados geoespaciais vetoriais da Mapoteca Nacional Digital (MND), ao final do ano passado, foi um dos primeiros passos nesse sentido.
Na prática, as IDEs incluem atividades técnicas relacionadas à disseminação e integração de bases de dados, metadados e padronizações, com o objetivo de permitir a pesquisa, o acesso e a utilização desses dados geoespaciais.
Web 2.0 e mapeamento voluntário
A internet rapidamente se tornou o meio preferencial para disseminação de dados geográficos. Sua universalidade, associada a custos de acesso cada vez mais baixos, motivou o desenvolvimento de toda uma nova classe de sistemas de informação, e esse movimento se estende aos dados geográficos.
Em um artigo intitulado “Cidadãos como sensores voluntários”, o pesquisador Michael F. Goodchild analisa as IDEs no mundo da web 2.0. Para ele, há um dramático declínio na geração de informação geográfica em todo o mundo, devido principalmente à redução de financiamento para mapeamento nas últimas décadas. Com nenhuma mudança nessa política prevista para o futuro, é natural olhar para esforços de mapeamento voluntário como medidas paliativas para resolver o problema.
Um dos aspectos básicos das IDEs é a aquisição e a compilação de informação geográfica. Para Goodchild, uma opção para o mapeamento do planeta combina elementos de web 2.0, inteligência coletiva e neogeografia. Esse esforço tem sido chamado de Informação Geográfica Voluntária.
Existem vários exemplos de serviços que mesclam o conceito web 2.0 com geoinformação, como a Wikimapia (www.wikimapia.org) e o Flickr (www.flickr.com). Um projeto em especial é o OpenStreetMap (www.openstreetmap.org), que está construindo um mapa de ruas de domínio público com alcance mundial. Projetos semelhantes são o brasileiro TrackSource (www.tracksource.org.br) e o argentino MapeAr (www.proyectomapear.com.ar).
Desafio para o futuro
Esforços em todo o mundo estão sendo feitos no sentido de estabelecer Infraestruturas de Dados Espaciais nos níveis global, regional, nacional e local, para que organizações, agências, empresas e indivíduos possam facilmente pesquisar, classificar e acessar informações geográficas.
O conceito envolve um ambiente digital complexo, incluindo uma grande variedade de bases de dados espaciais, padrões, estruturas institucionais e tecnologias. Dar ordem a essa geléia geral é o desafio para os próximos anos.
GEO Summit 2008
IDE: Uma Visão Corporativa
De 15 a 17 de julho acontece, no Centro de Exposições Imigrantes em São Paulo, a nona edição do GEO Summit Latin America – Congresso e Feira Internacional de Geoinformação, com o tema “Infraestruturas de Dados Espaciais: Uma Visão Corporativa”.
O evento é uma realização da empresa Reed Alcantara Machado e tem apoio da Petrobras, Caixa Econômica Federal e Inpe, além do Portal MundoGEO e das Revistas InfoGEO, InfoGNSS Geomática e GIM International como divulgadores oficiais.
Simultaneamente ao GEO Summit Latin America serão realizados o GEOBrasil, o GEO Óleo e Gás e o GEO Cidades. Desde 2000, em sua primeira edição, o objetivo do evento é reunir, integrar e promover negócios entre os profissionais que fazem parte da cadeia produtiva dos setores de agrimensura, geoprocessamento, cartografia, sensoriamento remoto, GNSS e GIS, e os usuários corporativos desses serviços.
O público alvo esperado, tanto para visitar a feira como participar do congresso, pertence aos setores de meio ambiente, gestão pública, saneamento, telecomunicações, energia, geomarketing, mineração, petróleo, gás, cadastro técnico, agronegócios, entre outras áreas.
+ Informações
www.geobr.com.br