InfoGEO: Na sua opinião, qual é a melhor solução para mapear e atualizar mapas no Brasil?
Renato Asinelli Filho: Penso que não se possa adotar uma solução técnica única para o mapeamento de todo o nosso território. Há de se levar em consideração as características de cada região, avaliando fatores tais como o tipo de ocupação, intensidade da atividade econômica e climatologia.
Defendo fortemente a adoção da escala de 1:10.000 para os Estados da Região Sul e Sudeste, para alguns Estados do Nordeste e para algumas áreas mais densamente ocupadas na Região Centro-Oeste. Para as Regiões com baixa taxa de ocupação e pouco representativas em termos econômicos, acreditamos que as escalas de 1:50.000 e 1:25.000 sejam suficientes. Para a elaboração de produtos em escalas 1:25.000 ou maiores, as técnicas de aerolevantamentos, intrinsecamente vinculadas aos conceitos de alta precisão e resolução, são as que resultariam na melhor relação custo benefício. Para escalas menores as imagens orbitais apresentariam, em tese, maiores vantagens.

IGEO: Existe alguma estratégia, na sua empresa, para usar a capacidade ociosa de produção cartográfica?
RAF: Nossa empresa, tal como a maioria das empresas de aerolevantamentos do país, recebe demandas para elaboração de produtos em escalas cadastrais (1:500 até 1:10.000) e sempre destinados a um uso específico e imediato. Algum empreendimento em áreas urbanas, no setor de petróleo e gás; no setor energético; no setor viário; de mineração ou reflorestamento.
Assim sendo esta demanda está sempre condicionada ao ritmo de atividade econômica do país, o que por vezes gera alguma ociosidade. Na verdade não temos estratégia nenhuma a não ser a de atuar num número maior possível de segmentos, minimizando eventuais oscilações de um ou de outro.
 
IGEO: Sua empresa tem como política investir em mapeamento para depois comercializá-lo?
RAF: Ainda não. Esta é uma questão que merece ser avaliada, levando em conta a capacidade de investimento e o potencial de retorno do mesmo, aliando a isto a questão dos direitos autorais e de como evitar a pirataria.
 
IGEO: Qual sua opinião sobre o trabalho do IBGE e da CONCAR na organização da cartografia e na montagem de projetos de mapeamento em âmbito nacional?
RAF: Considero a atuação da CONCAR de fundamental importância no que se refere a suas atribuições de captar as demandas, planejar e balizar diretrizes para a cartografia nacional de forma que haja um correto encaminhamento técnico e otimização de recursos. No quesito “detectar demandas” e “planejamento” a CONCAR se desempenha bem. Ações como a consolidação da Mapoteca Nacional Digital, a instituição de INDE (Infraestrutura Nacional de Dados Espaciais) são evidências desta assertiva.
Por outro lado, penso que deveríamos avançar mais rapidamente no que se refere ao estabelecimento de especificações e a validação de serviços. Estas duas atribuições normativas são fundamentais para que se possa, num eventual programa de retomada do mapeamento sistemático, agregar as empresas da iniciativa privada como agentes executores. Acredito fortemente que tal estratégia ampliaria em muito a capacidade produtiva do parque nacional e que os produtos finais teriam um menor custo para a nação. Com isto os órgãos oficiais responsáveis pela cartografia sistemática poderiam se concentrar em bem especificar e melhor validar os produtos gerados por terceiros, sem o receio de conceder a chancela de produto oficial.

IGEO: Caso você estivesse em uma posição de tomada de decisão no governo federal, o que faria para dinamizar a cartografia no Brasil?
RAF: Caso isto ocorresse, eu procuraria, como já disse anteriormente, priorizar o estabelecimento das especificações técnicas dos produtos necessários para cada região do país, mantendo estas especificações atualizadas à medida que novas “ferramentas” produtivas surgissem. Idem para a validação dos mesmos. Eu me prepararia para a hipótese de um belo dia receber a ordem de iniciar um grande projeto e, de imediato, dar respostas efetivas possibilitando, num curto intervalo de tempo, a disponibilização de peças técnicas aos interessados. Minha estratégia para tal seria a de ampliar a capacidade produtiva instalada, contando com a atuação das empresas privadas.