Por Eduardo Freitas Oliveira
Você sabia que o Google recebe mais de dez mil sugestões por hora de usuários para correção dos mapas online? Este dado, apresentado por Francisco Gioielli, responsável técnico do Google Enterprise, causou grande repercussão no Seminário GEOWEB & GPS, que aconteceu no dia 15 de abril em São Paulo. Realizado pelas revistas InfoGEO e InfoGPS, o evento foi uma oportunidade para discussão de tendências e apontou novas oportunidades de negócios. Além disso, inaugurou uma nova forma de debate na área, em um auditório com formato de arena e debatedores respondendo às perguntas do moderador e dos participantes.
>172 participantes se reuniram em uma séria de 8 debates
Um dos desafios da GeoWeb é indexar todo o conteúdo que está na internet através de sua localização. Por outro lado, as aplicações mais corporativas bebem na fonte da internet para otimizar suas ferramentas. Para Iara Musse, diretora da Santiago e Cintra Consultoria, “hoje, o WebGIS busca os conceitos de arquitetura orientada a serviços e interoperabilidade da GeoWeb, que já traz isso de uma forma espontânea”. A internet geográfica ainda está praticamente no início, com várias novidades no horizonte. Segundo Marcus Silva, diretor da Gisplan, “existe uma quantidade enorme de conteúdo produzido por profissionais de WebGIS que ainda não foram tornados públicos. Nós teremos, em um futuro próximo, uma web repleta de conteúdos geograficamente referenciados”.
Francisco Gioielli afirmou que, no passado, quem estava no comando da tecnologia eram as empresas, mas agora quem manda é o consumidor. A divisão Enterprise do Google, por exemplo, leva soluções que já estão consagradas no mercado consumidor, como o Google Earth, para o mercado corporativo. Abordando o mesmo assunto, o diretor de Marketing da Multispectral, Wagner Pacífico, apresentou uma palestra na qual informou que 80% das informações dentro das empresas têm componente geográfica e podem ser trabalhadas espacialmente.
Os mashups, a neogeografia e o mapeamento colaborativo foram temas de um dos debates mais polêmicos, com questões sobre a produção de geoinformação pelos próprios usuários e a invasão de privacidade. Para Rafael Siqueira, CTO do Apontador|MapLink, não há invasão de privacidade, pois os sites usam somente o perfil do usuário. Já para Silvana Camboin, diretora da Geoplus, sites que usam informações em tempo real, como o Twitter, trazem preocupação quanto à privacidade de dados. A inclusão de aplicativos em redes sociais, como orkut e MySpace, foi abordada por Guilherme Pacheco, diretor do buscador de viagens Mundi. Segundo ele, esses aplicativos são de fácil desenvolvimento e levam tráfego qualificado para sites e portais, pois os usuários já demonstram o interesse em determinado assunto antes de clicarem em um link.
As imagens de satélites e fotos aéreas ainda têm muitos mitos para o público em geral. Para debater o que é verdade e o que ainda é tabu foram convidados representantes de empresas de aerolevantamentos e de imagens orbitais. Segundo Helder Carvalhais, diretor de desenvolvimento de negócios da Threetek, “quando houve a chegada das imagens orbitais de alta resolução, comentava-se que as imagens aéreas estariam com os dias contados, porém dez anos depois pode-se ver que isso não aconteceu”. Com o amadurecimento do mercado, os mitos e as verdades sobre as imagens já não têm uma conotação de especulação ou de confronto, mas sim de complementaridade. Para Renato Azinelli, diretor da Engefoto, “hoje o usuário tem a felicidade de poder escolher entre várias opções, mas não pode se iludir. Ou seja, já que há alternativas, ele tem que escolher qual delas se encaixa melhor na sua necessidade”. Para o gerente de vendas regionais da DigitalGlobe, Giandri Machado, “apesar do grande acervo de imagens de alta resolução das empresas de satélites, ainda não se chegou à resolução de 15 ou 20 centímetros dos sensores aerotransportados. Por outro lado, existe uma demanda por mapeamentos de grandes áreas, possíveis somente com imagens orbitais”.
Dentre os principais desafios das empresas que produzem mapas digitais está a precisão da cartografia, antes mesmo do conteúdo adicional. Para Helder Azevedo, diretor da Navteq, a cobertura é outro fator a levar em conta, sendo que é difícil equilibrar as prioridades entre essas características. Segundo Alexandre Derani, diretor da Digibase, até alguns anos atrás o desafio das empresas era técnico, enquanto hoje as preocupações recaem sobre questões como propriedade intelectual e padronização de produtos. Já para Adriano Martins Junqueira, diretor da ProMaps, “falta hoje um organismo que centralize e dissemine informações cartográficas no Brasil, por isso surgem empresas que suprem essas necessidades”.
O GPS em celulares tem se popularizado cada vez mais, devido aos ganhos de escala. Hoje, o baixo preço e a facilidade de uso têm feito com que dispositivos móveis com funcionalidade de localização sejam acessíveis ao cidadão comum. Segundo Wlamir Molinari, gerente de projetos e aplicações especiais da Vivo, as áreas de comunidades sociais e localização de pessoas eram um desafio há alguns anos, mas hoje estão se tornando um padrão. Já para Fiore Mangone Junior, diretor de vendas de serviços da Nokia, o grande benefício de usar o celular como interface com o consumidor é que ele está sempre no bolso. A Nextel, por outro lado, é mais voltada para o setor corporativo. Segundo Tiago Galli, gerente de produtos e serviços da empresa, o mercado corporativo é sempre o primeiro a adotar novas tecnologias, mas também é um setor mais exigente, pelo uso intenso da tecnologia.
A Garmin é muito forte no setor de aviação, no Brasil, mas na área de navegação veicular está no início. De acordo com Eduardo Cortez, gerente de vendas internacionais da Garmin, a partir de 2008 a empresa decidiu expandir para o segmento de navegação pessoal e veicular. Com presença no mundo todo, mas com grande concentração na Europa, a TomTom é focada em navegadores. Segundo Emanuele Farini, diretor da E-Motion, no continente europeu o termo TomTom é usado como sinônimo de navegador. “Na Europa, os usuários chegam a utilizar o termo ‘o TomTom da Garmin’”. Carlos Roberto Borges, diretor de operações da Movix, mostrou o lado dos desenvolvedores de serviços para navegadores. Além de representar a marca de navegadores Mio, Carlos falou sobre o lançamento do produto Indica, que fornece conteúdo dinâmico para todos os grandes fabricantes de navegadores GPS, como por exemplo a inclusão de informações de trânsito.
O gerente geral da Pointer, Hugo Fleury, moderou um debate que abordou, entre outros assuntos, a obrigatoriedade da inclusão de rastreadores na frota de automóveis novos a partir de 2009, o que elevaria esse mercado para sete milhões de módulos. De acordo com Eduardo Casagrande, diretor executivo da Cinterion Wireless, há 10 anos havia uma previsão de que em 2010 seriam sete celulares para cada habitante do planeta. Este número parece irreal, mas hoje um caminhoneiro possui o seu telefone pessoal e outro corporativo, a carreta tem um rastreador, o cavalo outro e a carga mais um, chegando próximo desse número. A frota mundial de veículos atingiu, no ano passado, o número de um bilhão de unidades. Segundo José Melo, vice-presidente comercial da Zatix, somente no Brasil são 35 milhões de carros e 10 milhões de motocicletas. Com a obrigatoriedade da instalação de rastreadores de fábrica, países de todo o mundo vão ficar de olho na experiência do mercado brasileiro. O rastreamento de presidiários é outro assunto polêmico, mas já está sendo realizado em algumas instituições penais. O diretor da empresa Findme, Theodoros Megalomatidis, apresentou durante o debate uma tornozeleira com módulo de rastreamento embutido, que entrará em funcionamento em Pernambuco e São Paulo.
“Este seminário marcou uma mudança de paradigma em eventos de geomática e serviços de localização, pois seu formato permitiu uma ampla interatividade dos presentes. Foi um momento raro de reunir, num mesmo local, produtores de conteúdo e usuários da geoinformação dos mais diferentes tipos, discutindo temas em comum”, comemora Emerson Zanon Granemann, diretor da editora MundoGEO. Estiveram presentes, como participantes do evento, representantes da Caixa Econômica Federal, O Boticário, Bradesco, IBGE, Fiat, C&A, Porto Seguro e Nestlé, entre outras empresas.
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Acesse o podcast do evento em www.mundogeo.com/seminarios/GG