Experiências, tendências e curiosidades vividas em San Antonio, Texas, na última Conferência Anual da GITA

Inicio esta matéria ainda no avião, voltando do Texas para o Brasil. De San Antonio para São Paulo. Tenho que aproveitar os fatos, ainda recentes na memória, para relatar a vocês, leitores, os acontecimentos da semana do último Carnaval, vividos em um ambiente em que o samba e as mulatas passaram ao largo, na 26ª Conferência da GITA – Geospatial Information & Technology Association.


Centro de Convenções e Riverwalk

Frio e chuva. Muito tempero mexicano e a preservação da influência histórica espanhola, da época das Missões. Mas, sobretudo, o carisma de San Antonio pode ser resumido na atmosfera do Riverwalk, uma das mais belas jóias da cidade. Conhecer a cidade e não percorrer o Rio San Antonio a bordo de um dos barquinhos (Yanaguana Cruises) do Riverwalk é como ir para o Vaticano e não ver o Papa. São belíssimos canais que percorrem todo o centro da cidade, ao longo do qual se localizam hotéis, restaurantes, shopping malls, casas de café, teatros e o Centro de Convenções Henry B. Gonzalez, palco do evento.

Participar de um congresso dessa magnitude é, sem dúvida, uma experiência marcante. A Conferência da GITA é, com bastante propriedade, o melhor e mais representativo evento de GIS do mundo. Tanto para os tradicionais segmentos de Utilities, Telecom, Governo, quanto para, cada vez mais, segmentos crescentes de Transportes, Recursos Naturais e Inteligência de Mercado. Mais do que GIS, o congresso prima por tratar de GIT (em bom português, Tecnologia da Informação Geoespacial).


Público da Conferência GITA por mercado vertical (dados de 2002)

Preparativos
Como já é habitual, os seminários que abrem o congresso trazem o tempero e as bases para os temas que serão apresentados nos módulos técnicos e de usuários. Foram 14 seminários, divididos em 3 grupos (Business, Technology e Subject Matter). Vale destacar aqui uma preocupação crescente com a mudança de paradigma que o conceito de GIT traz para as grandes corporações. Seminários sobre Ciclo de Vida e Implementação de projetos em GIS, Business Case e Retorno de Investimentos em GIT mereceram destaque.

GITA Internacional e GITA Brasil
A criação da GITA Internacional teve seu capítulo mais importante em San Antonio. Fundada em 2002, a associação se propõe a assumir um papel de suporte em organização e intercomunicação para as diversas associações regionais afiliadas. Grande parte do sucesso se deve a Martha Gorman e ao apoio da GITA América do Norte, promotora do congresso, nas figuras de Karen Levy, presidente, e Bob Samborski, diretor executivo.

Tivemos a primeira "GITA International Advisory Board Annual Meeting 2003" no dia 2 de março, continuada por uma mesa redonda com todos os representantes internacionais no dia seguinte. A adesão mundial foi importante – estavam presentes representantes dos diversos GITAs regionais: Japão, Alemanha, Inglaterra, Hungria, China, Portugal, Costa Rica, Canadá, Estados Unidos e Índia. A GITA Brasil teve especial participação. Levamos idéias de reuniões regionais e o conceito do "The Best of GITA" para congressos nacionais (com sua "estréia" no GEOBrasil 2003). Além do papel oficial, reuniões dessa magnitude, com cara de Torre de Babel, permitem um intercâmbio de informações e experiências inigualável.


GITA International Advisory Board Annual Meeting 2003

O Congresso

Interoperabilidade? GML relay? Análises GIS em WebServices? Que diabos é isso tudo? Pois é, foram essas grandes tendências mundiais, em termos de tecnologia da geoinformação, muitas ainda incipientes na comunidade brasileira, que puderam dar o ar de sua graça no Congresso.

A palestra de abertura, fantástica, feita pela keynote speaker Amanda Gore, deu o tom de motivação, comunicação e humor ao evento. O Congresso foi dividido em 11 módulos, envolvendo Gerenciamento de Dados, E-business, Soluções Globais, Tecnologias Inovadoras, GIS Móvel, Arquitetura de Sistemas, Integração e Perspectivas Municipais. O Brasil foi muito bem representado nas palestras do Geovane Magalhães, sobre Georreferenciamento de Telefones Públicos, e do Carlos Alberto Previdelli, sobre Customização com Padronização, ambos do CPqD, e do Rodrigo Queiroga, da ESCELSA, sobre Migração de Tecnologias.

Foi difícil cobrir todo o congresso, pela ocorrência simultânea de apresentações interessantes. De qualquer forma, das 88 palestras, muitas merecem um registro especial. No que tange a Inteligência de Mercado, vale ressaltar a palestra sobre "Spatial Data Warehouse", da KEMA Consulting. Foi bastante didática e apresentou os pontos positivos e negativos da integração entre GIS e Business Intelligence. Com relação a WebServices, a palestrante Nadine Alameh, da Global Science & Technology, tratou de serviços GIS encadeados, interoperáveis e distribuídos, e suas formas de coordenação no ambiente Web – certamente, uma vertente de potencial exploração nos dias de hoje.


NTT Infranet: tecnologia sem fio para bases de dados GIS

No módulo de Soluções Globais, vale destacar a participação do português Luís Varela Pais, da MECI Geomática, tratando de políticas e desenvolvimento de GIT em Portugal, e a palestra do japonês Saiji Miyamoto, sobre sistemas geográficos de autorização de projetos em utilidade pública – cronometricamente testada e claramente apresentada, esta última soube suprir a deficiência do idioma e aproveitar o máximo do tempo disponível.

Não posso deixar de lembrar a participação do C. Eugene Talmadge, da empresa Las Virgenes Municipal Water, que apresentou "The Seven Deadly Sins of GIS Implementation" (Os Sete Pecados Capitais da Implementação GIS). O título já deu o tom e o humor da palestra. O palestrante conseguiu fazer uma analogia entre a implementação de projetos GIS em geral, em grandes corporações, com os aspectos inerentes a atitude humana e sua representação nos sete pecados capitais. Inveja, Luxúria, Avareza, Preguiça, Ira, Soberba e Gula existem, sim, em nosso dia-a-dia em Sistemas de Informação Geográfica.

Uma das melhores palestras foi, sem dúvida, a da NTT Infrastructure Network Corporation ("Telecom Infrastruture Maintenance with Dynamic Wireless Communication"). Shinichi Sugiura e mais cinco palestrantes levaram diversos equipamentos e tecnologias de comunicação sem fio, com uma espantosa performance de acesso a dados vetoriais e imagens raster, com atualização no Japão. A NTT Infranet mantém a infra-estrutura de fibras ópticas para a NTT DoCoMo. O que eles apresentaram parece deixar no chinelo qualquer tecnologia wireless de manutenção de bases de dados GIS em produção no Brasil. Vale destacar também a apresentação da DTE (Detroit Energy), sobre inspeção de postes com aplicações GIS em campo, com PocketPC, e a da GE Network Solutions, sobre VoiceXML e GIS na Internet.

As novidades da Feira
A Feira de Exposições é sempre um show à parte. Em 2003, 134 empresas estiveram presentes. Os destaques foram os grandes vendors do setor e muitas empresas em crescente expansão com soluções alternativas interessantes. Havia, também, muitas empresas de hardware presentes, além de uma grande área para GIS móvel.

A ESRI levou Jack Dangermond e apresentou a consolidação de sua arquitetura ArcGIS, com novidades como ArcSchematics e ArcGlobe. A SmallWorld (atual GE Power Systems) e a Intergraph tinham stands de igual proporção. A Autodesk pôde apresentar sua nova linha de produtos (GIS Design Server, Map Series e Envision, entre outros).

Outros destaques da feira foram as empresas KEMA Consulting, AnyGIS e Osmose, esta última com um sistema bastante interessante para empresas que trabalham com tecnologias GIS de diferentes fornecedores e precisam manter os dados em sincronismo. O stand da Dawn Corporation apresentou a tecnologia da NTT Infranet, já comentada anteriormente. A empresa 4DataLink, por sua vez, teve um stand bastante visitado, no qual sua solução em integração espaço-temporal foi a palavra de ordem.

O consórcio OpenGIS (OGC) patrocinou o "GML relay" – a troca de dados entre diversos sistemas, utilizando o padrão GML. O interessante foi a demonstração desse protocolo: muitos stands permitiam que dados GIS fossem lidos e/ou salvos em seus formatos nativos e depois transferidos, em stands de outras empresas, para outros formatos – sempre de acordo com os protocolos do OGC.

No mais, além das camisetas, mugs e brindes coletados na feira, um evento dessa relevância sempre é complementado com jantares e festas, que estreitam relações e estabelecem novos contatos, como o jantar mexicano na "Presidents Reception" e as festas de comunidades de usuários.


Eduardo, Amanda Gore e Bob Samborski

De volta ao Brasil, após a conferência e um pouco de turismo, restou a lembrança da experiência de vida fantástica que a comunidade mundial presente a esse Congresso do GITA proporcionou. Acho que valeu a pena perder o Carnaval.

Esse colaborador se despede aqui dos pacientes leitores que conseguiram chegar até esse ponto. Agradeço aos amigos Antonio Carlos Gomide, Rodrigo Queiroga, Carlos Alberto Previdelli e Geovane Magalhães, pelo convívio durante o evento, e pelas impressões coletadas, de suma importância para a conclusão desse "Diário de Bordo". Até o próximo capítulo dessa saga, em abril de 2004, em Seattle, no GITA 27!

Eduardo de Rezende Francisco é bacharel em Ciência da Computação pelo IME-USP, atua em GIS, Business Intelligence e Análise de Mercado na AES Eletropaulo. É consultor em integração Geomarketing & Data Mining e sócio-fundador da GITA Brasil erfrancisco@hotmail.com e eduardo.francisco@eletropaulo.com.br