Por Eduardo Freitas
Uma rota turística que cruza os estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais relembra o caminho criado por tropeiros para escoar o ouro e os diamantes que tinham como destino Portugal. A Estrada Real, como é conhecida desde o Século XVII, é uma região com mais de 80 mil quilômetros quadrados e 199 cidades, com atrativos históricos, culturais e gastronômicos, além de várias opções para turismo de aventura.
O percurso da Estrada Real tem a gestão do Instituto Estrada Real (IER), uma organização sem fins lucrativos criada em 1999 que conta com o apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e a coordenação da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), em parceria com a Secretaria Estadual do Turismo.
A Estrada Real já conta com roteiros planilhados no qual é possível descobrir a Estrada Real a pé, a cavalo, de carro ou bicicleta. As planilhas de navegação são desenvolvidas pelo IER com base em padrões internacionais, e todos os roteiros podem ser baixados para GPS ou vistos pelo Google Maps. O Caminho dos Diamantes, um dos trechos da Estrada Real, também está disponível no Wikiloc, um serviço online que permite a contribuição dos usuários. As rotas também constam no TrackSource, uma rede de mapas colaborativos para navegadores e receptores GPS.
Sitgeo
Além dos roteiros planilhados, a partir de agora turistas de todo o mundo contam com uma nova ferramenta de mapas online para desvendar a Estrada Real e planejar suas viagens. No dia 17 de abril o IER lançou o Sistema de Informação Turística Georreferenciada da Estrada Real (Sitgeo ER), um WebGIS com cálculo de rotas e mais de 9 mil pontos de interesse que incluem atrativos naturais, culturais, hotéis, pousadas e outros serviços de apoio ao turista.
O Sitgeo foi elaborado pelo IER em parceria com o Instituto Mineiro de Desenvolvimento (IMDC) e com a TerraVision Geotecnologia e Geoinformação, empresa de tecnologia e serviços de geoprocessamento.
Com a presença de Baques Vladimir Sanna, diretor geral do IER, Daniel Oliveira, consultor interno no IER, e Alan Brandt, diretor da TerraVision, o lançamento oficial do Sitgeo aconteceu durante o Salão Mineiro do Turismo, em Belo Horizonte, e a Revista InfoGEO esteve presente a convite do IER e da Fiemg.
Além da concretização do Sitgeo, Baques citou alguns projetos de sucesso do IER, como a Rede Organizada de Turismo Autossustentável (Rota) e o Embaixadores da ER, iniciativa de cursos a distância para capacitação de pessoas interessadas em promover a região. “O IER tem o objetivo de ser um centro de inteligência do turismo mineiro”, afirma.
A parceria entre o IER e a TerraVision saiu fortalecida após o lançamento do Sitgeo. Segundo Daniel Oliveira, “a TerraVision tornou-se mais do que um fornecedor, mas um verdadeiro parceiro do IER”. Daniel comentou, ainda, que há vários circuitos dentro da ER, e uma das ideias para o Sitgeo é realizar buscas por circuito, desde que dentro da área de abrangência da Estrada. Alan Brandt confirmou o sucesso da parceria e avisou que um dos próximos passos será a inclusão de conteúdo, no sistema, por empreendedores e usuários.
Levantamentos e desenvolvimento
Com mais de 1,6 mil quilômetros, a estrada histórica teve seus empreendimentos e atrativos turísticos levantados por uma equipe de geógrafos, acompanhada de perto por turismólogos e profissionais do IER e dos municípios visitados.
No Sitgeo, cada um dos atrativos turísticos é identificado com um ícone, incluindo uma foto e informações básicas, tais como referências históricas, horários de funcionamento e custos para visitação. Além desses dados, o turista pode traçar a melhor rota a seguir para chegar ao seu hotel ou ao local que deseja visitar e, ainda, ver a previsão do tempo para os dias de sua estadia.
Durante seis meses de trabalho de campo, de abril a setembro de 2009, foram levantados mais de 9 mil pontos de interesse, com 40 mil quilômetros rodados de carro, incluindo 7,5 mil em estradas que simplesmente não existem no Google Maps e Earth. Uma equipe de quatro pessoas foi a campo, em um valente automóvel Gol, para fazer o mapeamento. Quando não era mais possível passar de carro, eles apelavam para a caminhada em trilhas.
Todos os atrativos históricos e culturais foram catalogados, com as coordenadas geográficas, fotos e descrição. Segundo Brandt, para o mapeamento das estradas foi usado um carro equipado com GPS, além de receptores Juno e Etrex para a coleta de pontos de interesse.
Para o desenvolvimento do Sitgeo foi usada a plataforma Google Maps, porém com informações adicionais e classificação de feições, como estradas de terra, trilhas, etc.. Dentre as várias ferramentas utilizadas no Sitgeo, foi usada a API do Google Maps, Java, banco de dados SQL Server, além de outras APIs voltadas para o setor de turismo.
Além da consulta a pontos de interesse, com o sistema é possível escolher duas cidades e traçar uma rota entre elas. Isso também é possível no Google Maps, porém no Sitgeo pode-se escolher a rota mais rápida, a que passa pela área de influência ou pelos próprios caminhos da Estrada Real.
Mesmo após o lançamento oficial do Sitgeo, o trabalho está só começando e várias novidades ainda estão por vir. Segundo Daniel, dentre os próximos passos do sistema estão a opção de o próprio usuário incluir informações sobre os pontos turísticos. Além disso, aplicativos para dispositivos móveis e realidade aumentada também estão nos planos do IER.
Menina dos olhos
O IER foi um dos escolhidos pelo BID, em 2005, para um ambicioso projeto de turismo sustentável, com mais de 23 iniciativas desse tipo ao redor do mundo. Segundo Baques, o IER é a “menina dos olhos” do Banco, por ser um dos mais antigos e também por ser multifacetado e interdisciplinar.
No início da parceria, a Estrada Real recebia pouco mais de 1 milhão de turistas anualmente, mas agora são mais de 3 milhões de pessoas. Com o sucesso do projeto, o IER foi contratado para dar consultoria em sete outros projetos, com o objetivo de compartilhar o conhecimento adquirido com países da América Latina e Caribe.
O conhecimento adquirido ao longo dos dez anos de existência já credencia o IER a prestar serviços para outras instituições também no Brasil. Exemplo disso é a consultoria realizada para a Federação das Indústrias do Estado do Espírito Santo (Findes), na qual um caminho com vínculos históricos com a Estrada Real foi identificado: a Rota Imperial. Seguindo o exemplo mineiro, a Findes implantou, com o know how repassado pelo IER, o Instituto Rota Imperial, com atuação em municípios mineiros e capixabas.
De acordo com Baques, com o final do contrato atual com o BID estão sendo elaboradas formas de dar continuidade à parceria, como por exemplo a criação de um programa de televisão ou uma consultoria para gestão do conhecimento no setor de turismo.
Acesse www.estradareal.org.br