Secretário Geral do Instituto Panamericano de Geografia e História (IPGH), órgão especializado da Organização dos Estados Americanos (OEA)

Revista MundoGEO: Entrevista com Santiago Borreo MutisSantiago Borrero Mutis nasceu em Bogotá, Colômbia. Graduou-se na Universidade de Los Andes (Colômbia) e no Instituto Tecnológico de Massachussets, MIT (USA). Conta com mais de 30 anos de experiência em desenvolvimento econômico e social, na última década com foco na relação existente entre informação geográfica, desenvolvimento e sociedade.

Na Colômbia, foi diretor geral do Instituto Geográfico Agustín Codazzi, gerente geral da empresa de Água e Esgoto de Bogotá e do Fundo Nacional de Projetos de Desenvolvimento (Fonade), Diretor da Associação de Engenheiros Consultores Colombianos (Aico) e Secretário Técnico do Comitê para a Racionalização da Administração Pública.

A nível internacional, foi presidente da Associação para a Infraestrutura Global de Dados Espaciais (GSDI); Comissão de Cartografia do IPGH; presidente inaugural do Comitê Permanente para o Desenvolvimento da Infraestrutura de Dados Espaciais das Américas (CP-Idea) e membro do Comitê Diretivo Internacional para a Cartografia Global (ISCGM).

Autor de várias publicações e conferencista internacional em mais de 30 países, também tanto em nível nacional como internacional, tem sido também membro da Junta Diretiva de múltiplas organizações públicas e privadas. Desde 2003, é Secretário Geral do IPGH.

MundoGEO: Quais as principais mudanças que as instituições de cartografia e geografia têm que fazer para estarem mais atualizadas com as necessidades dos usuários na América Latina?

Santiago Borrero: A pergunta é muito pertinente. Todos sabemos, em nossa comunidade, que muitas coisas têm mudado. E se muitas coisas têm mudado, provavelmente as instituições – para corresponder melhor aos seus usuários – também têm que fazer mudanças. E não se trata somente de que se capacite ou se dê um melhor treinamento aos cartógrafos, geógrafos e especialistas, para que processem de melhor maneira e com melhor tecnologia a informação, mas tem que haver ao mesmo tempo câmbios institucionais, de tal maneira que se produza uma situação na qual os técnicos tenham o melhor ambiente, o mais propício para abordar o desenvolvimento da informação espacial em seus países. Em última instância, o que é fundamental é, não tanto a mudança nas instituições, mas sim o que verdadeiramente estamos fazendo, tudo isso para ter um efeito sobre o progresso, sobre o desenvolvimento. É como a relação entre informação e desenvolvimento. Então, nossas instituições, as que produzem, as que estimulam o uso da informação geográfica na região, algumas – não todas – para sobreviver terão que fazer mudanças fundamentais.

MGEO: A maioria dos países tem instituições que gerenciam e produzem a cartografia, enquanto outro instituto cuida da estatística e pesquisas para o Censo. México e Brasil, por exemplo, têm situações diferentes, onde somente uma organização gerencia a cartografia e a estatística. Na sua opinião, qual o melhor caminho?

SB: A situação atual, dos institutos e organizações responsáveis pelos dados espaciais, ao longo da América Latina, nos indica que, basicamente, temos três modelos na região. O primeiro modelo é o de organizações civis, que são os institutos geográficos tradicionais, que produzem dados espaciais e estimulam análises geográficas, e fornecem a distintos tipos de usuários uma concepção civil da informação, e um caso típico de organização civil é o Instituto Geográfido Agustin Codazzi, da Colômbia, ou, hoje em dia, por exemplo, também podemos citar o Instituto Geográfico Militar da Argentina, apesar de ser denominado de “militar”. O segundo tipo de organização dos institutos geográficos são precisamente os militares, e nós temos no Equador, no Peru, no Chile, institutos geográficos militares tradicionais, e esta é outra forma de abordagem. Então temos o caso civil, o caso militar e temos um terceiro caso, que eu diria que é típico da América Central, onde no Panamá, Honduras, El Salvador, Nicarágua, Guatemala, os institutos geográficos hoje em dia fazem parte do sistema nacional de registro da propriedade, onde a informação geográfica tem como prioridade produzir os dados do tipo econômico e espacial que se requerem para estimular o progresso e as mudanças. Então, no caso do Panamá, o Instituto Geográfico Nacional Tommy Guardia faz parte da Autoridade Nacional de Terras, e em El Salvador, o Instituto Geográfico faz parte do Centro Nacional de Registro da Propriedade. Este é outro modelo. Eu penso que cada país é soberano. O importante é que, independentemente de qual o modelo que se tem, o que se requer claramente é que haja uma verdadeira e autêntica autoridade nacional de informação espacial. Qualquer que seja o modelo, alguém tem que ser o responsável por produzir, manter, armazenar, preservar, estimular a informação espacial. Isto deve ser claro para todos os produtores da informação básica, os produtoes da informação temática, os usuários e o público em geral.

MGEO: Como você avalia o desenvolvimento das IDE na América Latina e Caribe, com relação a outras regiões do mundo?

SB: Por razões óbvias, como é a existência da União Europeia, o Inspire marca a pauta e corresponde à iniciativa regional mais avançada, tanto em termos normativos, orçamento, tecnologia aplicada, como no marco legal. As outras regiões têm um denominador comum e apresentam resultados desiguais. Na Ásia/Pacífico, seguramente a parte cadastral e de administração da Terra marcha mais rápido, mas são notórias as desigualdades. Nas Américas, os resultados são mais o produto que realizam os atores locais do que o que mostram as iniciativas regionais, sendo o GeoSUR um exemplo que se sobressai. A interoperabilidade dos dados, de uma maneira realmente efetiva, segue sendo uma tarefa pendente. A África tem melhores dados, a nível continental, mas está distante de ter um perfil para os dados e as carências em matéria de dados fundamentais, especialmente em algumas sub-regiões, são importantes. Em síntese, devemos avançar de acordo a nossas características, mas tomando tudo o que é bom do trabalho já realizado na Europa para o Inspire, para evitar reinventar a roda.

MGEO: Como é a estrutura do IPGH e quais são as ações do Instituto para promover a IDE na América Latina e Caribe?

SB: O IPGH tem estado estreitamente relacionado com o tema desde que, como presidente da Comissão de Cartografia, vinculei o tema à agenda do IPGH com o apoio de um grupo de especialistas interessados no tema. Desde o ano 2000, o IPGH realiza ao menos uma atividade internacional para a promoção das IDE a nível regional e em cada um dos Estados membros. O número de projetos aprovados como parte do Programa de Assistência Técnica do IPGH cresce, o orçamento reservado é significativo e é dedicado a múltiplos aspectos das IDE. Além disso, os vínculos com os projetos sinalizadores a nível regional são estreitos: Sirgas, CP-Idea e GeoSUR. O Caribe, por suas características, vem um tanto atrás, mas o que lá existe em matéria de SIG já é importante.

MGEO: Qual é a importância do informativo Infraestrutura de Dados Espaciais – América Latina e Caribe (IDE-LAC) para o desenvolvimento das IDE na região?

SB: Já são 148 os números do Boletim IDE-LAC editados pelo IPGH para a GSDI, desde 2005. Levando em conta os princípios de oportunidade e qualidade, se tem informado à comunidade em espanhol e em inglês. Agora, com um grupo muito entusiasta do Brasil, se edita também em português, o que é importante para toda a região. O boletim tem sido fonte de primícias importantes em matéria de IDE, tem servido para organizar as iniciativas e os temas e é fonte de informação para múltiplas publicações que, a cada mês, se baseiam na informação e tomam dali notícias relevantes sobre o desempenho dos atores principais no setor da infraestrutura de dados espaciais. A editora, Nancy Aguirre, tem feito um trabalho muito bom.