As fortes chuvas e os deslizamentos de terra ocorridos na Região Serrana do Rio de Janeiro em 2011 e em outros locais do Brasil ao longo dos últimos anos são alguns dos temas discutidos no Workshop Internacional sobre Deslizamentos de Terra Causados por Chuvas Extremas, que o Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe) da Universidade Federal do Rio de Janeiro inaugurou nesta segunda (13). O evento está acontecendo na Cidade Universitária da UFRJ e termina hoje, 15 de fevereiro.
No evento, representantes do Brasil revezam o espaço com especialistas de países como Itália, Noruega, Suíça, Coreia do Sul, Estados Unidos, Espanha e Venezuela.
O secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Carlos Nobre, foi um dos palestrantes. “Este workshop está discutindo temas-chave para o Brasil e a aplicabilidade dessas ações. O MCTI está muito interessado nos resultados do encontro”, afirmou Nobre durante a abertura, onde também anunciou que pretende apresentar em março à presidente Dilma Rousseff um plano nacional no qual se pretende, entre outros objetivos, promover o treinamento de engenheiros, geólogos e geógrafos para lidar com os desastres.
Mudanças climáticas
Em sua palestra, Carlos Nobre relacionou os deslizamentos às mudanças climáticas. “Há diversas razões para que ocorram os deslizamentos ao redor do mundo e nem todas estão claras, mas é certo que o aumento desse fenômeno está ligado às mudanças climáticas”, sentenciou. Nobre pontuou a “pegada” humana nas últimas mudanças no clima terrestre, que intensificou o aumento das temperaturas e, consequentemente, influenciou na maior incidência das chuvas extremas.
No entanto, o secretário conta que ainda é impossível atribuir a causa de um particular desastre (como o ocorrido em 2011 na Região Serrana fluminense) às mudanças climáticas intensificadas pelo aquecimento antropogênico do clima. “Chuvas muito intensas já aconteceram no passado, antes mesmo das mudanças climáticas. O sinal delas não pode ser visto num evento extremo, mas sim quando a gente começa a perceber que um extremo raro passa a ocorrer constantemente. Pode ser também uma flutuação natural do clima”, pondera. Ele relacionou o incremento de desastres ao aumento da população e da densidade populacional.
Nobre apresentou alguns dados referentes aos desastres naturais no Brasil. 58% deles são causados por inundações, 11% por deslizamentos e 14% por secas. Vendavais, epidemias e aumentos de temperatura também são causadores de tragédias, com 8%, 3% e 6%, respectivamente. Relatou ainda que uma das maiores provas do aquecimento do planeta é o fato de haver menos dias chuvosos e, no entanto, quando chove, é com intensidade. “Isso é uma previsão muito clara de um planeta mais quente, mas não significa que isso ocorra em cada metro do quadrado do planeta. O que estamos vendo no Brasil é o aumento da flutuação do clima entre extremos, tanto extremos de chuvas intensas quanto de secas”, explica, dando como exemplo a estiagem no Sul do País.
Nobre destacou também a importância dos sistemas de alertas (aliado a ações como recomposição da vegetação em áreas de risco e realocação de populações). “Esses sistemas existem em todos os países desenvolvidos e são eles que salvam as vidas”, alega. E cita o Centro de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), que começou a funcionar em novembro de 2011 e é comandado pelo MCTI.
Fonte: Jornal da Ciência