Acompanhe a nova série de matérias que lista os principais cursos de geo do Brasil e saiba por onde começar ou expandir sua carreira na região Sul do País
Qual a importância de conhecer o espaço em que estamos inseridos? Em sua busca por conhecimento e expansão, o homem conquistou os mais diferentes ambientes. Surge então a necessidade de entender e representar os espaços, a fim de utilizar todo seu potencial, mas sem esquecer do caráter ambiental. Conhecer e representar em detalhes os fenômenos naturais que formam e modificam nosso planeta, a todo instante, pode ser a razão que vem atraindo cada vez mais alunos aos cursos de geo no Brasil. Porém, a demanda por profissionais devidamente preparados – que atendam às necessidades de um mercado cada vez mais exigente – cresce mais que a oferta. A cada novo evento, canteiro de obras, projeto – em prefeituras, secretarias, órgãos públicos e privados -, há possibilidades de atuação para geólogos, cartógrafos, geógrafos, tecnólogos e técnicos.
Para entender como está a relação entre mercado de trabalho e formação profissional, a revista MundoGEO está lançando uma série de matérias para mapear e destacar as oportunidades de formação profissional em geo no Brasil. Comece acompanhando as principais instituições e cursos de graduação, pós e técnicos, além de informações e depoimentos sobre o mercado de trabalho da geoinformação no Sul do País. Aproveite este guia e escolha a instituição e a área que mais se adapta às suas necessidades e desejos para construir uma carreira de sucesso em geo!
Rio Grande do Sul
O estado conta com 16 instituições de ensino superior que ofertam formação em geo, porém somente duas oferecem o curso de Engenharia Cartográfica e de Agrimensura, totalizando 60 vagas. Para o estudante que deseja ingressar no curso de Geologia, há quatro opções. Já a Geografia é a opção mais acessível e que oferece o maior número de vagas, em 14 instituições, dentre elas a Universidade de Caxias do Sul. Com as modalidades de licenciatura e bacharelado (o primeiro com possibilidade de ensino a distância), as aulas são realizadas na cidade de Bento Gonçalves. Para Rozalia Brandão Torres, coordenadora do curso e professora de disciplinas nas áreas de população, economia, política e regional, o mercado profissional para o geógrafo é amplo e está em expansão. “Por ser a Geografia uma ciência que habilita o profissional a realizar uma leitura do território, nos âmbitos natural (relevo, solo, hidrologia, clima), social (análises demográficas, culturais), político (geopolítica e territorial) e econômico, temos habilidades para compor qualquer secretaria de órgão público ou privado, conseguimos como poucos fazer uma leitura ampla dos impactos ambientais”, afirma. Para a professora, a presença do geógrafo é essencial em instituições públicas e privadas para compor a administração pública e, dentre outras atribuições, fazer o georreferenciamento das propriedades e planejamento municipal, por exemplo. “Infelizmente o número de profissionais ainda é muito inferior às necessidades do mercado, seja público ou privado. As grandes empresas sabem disto e costumam remunerar bem um geógrafo quando o encontram”, completa.
Já aos interessados em Geologia, o coordenador da Comissão de Graduação do curso de Geologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Rualdo Menegat, explica a variedade de atuação dos geólogos. Ele conta que estes profissionais podem atuar em duas áreas clássicas, a mineração e o petróleo, mas há grandes oportunidades surgindo no setor urbano, de engenharia, riscos ambientais, forense e criminal. “Desde a fundação dos cursos de Geologia, na década de 50, o mercado sofreu vários reveses, principalmente nos anos 80. Mas nunca esteve tão aquecido como agora e deverá permanecer assim pelo menos nos próximos 30 anos”, afirma Rualdo.
Profissões com habilitações distintas no Brasil, as Engenharias de Agrimensura e Cartográfica foram unidas a fim de reduzir os títulos de Engenharia no Brasil. No Rio Grande do Sul, as duas possibilidades para ingressar na Engenharia Cartográfica são a Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, e a Universidade do Vale do Rio dos Sinos, em São Leopoldo. O curso da UFRGS foi criado oficialmente em 1995. Dentro da estrutura universitária, está vinculado ao Instituto de Geociências, e é atendido por professores do departamento de Geodésia. Já a graduação da Unisinos foi criada em 2011, sendo o primeiro curso do Sul do Brasil a unir as Engenharias Cartográfica e de Agrimensura. Visa ensinar o aluno a resolver problemas relacionados com a descrição e monitoramento de espaços físicos para fins de projetos ambientais, irrigação e drenagem; e urbanos, como traçados geométricos de estradas, loteamentos, infraestrutura hidráulica, sanitária e elétrica. Outra opção no estado é o técnico em Geoprocessamento da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), ministrado junto ao Colégio Politécnico da UFSM. Antigo técnico em Geomática, o curso é de nível pós-médio e possui 40 vagas, com duração de quatro semestres letivos e estágio.
Santa Catarina
Santa Catarina é o estado com a menor quantidade de opções de cursos de geo, totalizando 10 alternativas entre bacharelados, licenciaturas e ensino a distância. Apesar disso, ainda atrai muitos profissionais de outras partes do País, demonstrando que há uma grande procura por especialistas em diferentes setores de atuação. Eles podem se dividir pelas próprias características regionais do estado, como o setor de infraestrutura, hidrelétricas e linhas de transporte no campo e serviços de consultoria que lidam com projetos rodoviários e questões ambientais na área urbana. No litoral, há oportunidades para os profissionais que atuam na regularização fundiária, legalização de terras de posses e de terrenos da Marinha.
Segundo César Rogério Cabral, coordenador do curso Técnico em Geomensura do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC), algumas questões podem ser percebidas quanto ao mercado de trabalho, como no caso dos concursos públicos. “Várias vezes acontece a nulidade do concurso, porque não há candidatos para a vaga ou há mais vagas do que candidatos. Isso seria um reflexo de uma área aquecida, onde profissionais se formam e, ao contrário de vários outros setores brasileiros, não há uma vantagem tão grande nos concursos. Algumas vezes também porque não gostariam de se mudar, pois há uma grande demanda no interior, principalmente das prefeituras, mas o desejo da maioria é permanecer nas grandes cidades”, conta Cabral.
Paraná
Na região Sul, segundo a pesquisa feita pela revista MundoGEO, o estado é o que concentra o maior número de instituições que ofertam cursos de geo. Ao todo são 18 universidades, faculdades e centros de ensino que, em sua maioria, ofertam somente o curso de Geografia. Os cursos de graduação em Geologia e em Engenharia Cartográfica são oferecidos somente pela Universidade Federal do Paraná, campus Curitiba. Seguindo a tendência de unificação dos cursos, em 2012 a graduação da Universidade Federal do Paraná (UFPR) passou a se chamar Engenharia Cartográfica e de Agrimensura, ampliando sua área de formação e também as possibilidades de atuação profissional dos alunos. O curso tem duração de cinco anos e são ofertadas 44 vagas anualmente. Com mais de 500 profissionais formados desde a sua criação, em 1977, se mantém entre os mais conceituados do país em avaliações como o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade), realizado pelo MEC.
A graduação em Geografia apresentou números expressivos nesta pesquisa. Ao todo, a região Sul contabiliza 41 cursos, apresentando 19 opções somente com a modalidade de licenciatura, uma instituição oferecendo somente o bacharelado e 21 que possuem as duas. O aluno do 3º ano da graduação em Geografia da UFPR e presidente do Centro Acadêmico, Thiago Luiz Cachatori, explica o papel do geógrafo e do licenciado no mercado: “Creio que o profissional de Geografia, por abordar diversos tipos de conhecimento em sua grade curricular, possui uma ótima qualificação e boa representatividade no mercado de trabalho. Tratando-se do geógrafo bacharel, este tem ganhado muito espaço, tanto em empresas privadas como em instituições ou em órgãos governamentais, especialmente exercendo trabalhos relacionados ao planejamento urbano, consultoria ambiental, geoprocessamento, planos diretores, entre outros. Já para quem opta por trabalhar com a licenciatura, eis uma área estável, pois a demanda por professores de geografia é altíssima, tanto em escolas públicas como em particulares”. Para Thiago, quanto maior a qualificação, maiores são as oportunidades. “Para lecionar em universidades, o mercado cobra mais do que apenas a graduação, e sim mestrado, doutorado e muita experiência acadêmica. Posso dizer que a Geografia é uma área prazerosa, pois aborda aspectos peculiares nas ciências, por exemplo, a relação sociedade-espaço que proporciona ao geógrafo uma ampla visão de mundo. Para quem deseja seguir esta carreira, dou total apoio à iniciativa, porém a graduação exige muita dedicação, bastante leitura, tempo para trabalhos de campo, capacidade de análise e de discutir conceitos”, completa.
ALTA DEMANDA, BAIXA OFERTA
É possível perceber que, apesar da alta demanda por profissionais capacitados, sobretudo com o momento atual de crescimento e com os eventos que o Brasil sediará nos próximos anos, a oferta de vagas ainda é pequena na região Sul, principalmente em relação à Engenharia Cartográfica e Geologia. Uma alternativa pode ser a capacitação através de cursos técnicos e de pós-graduação que, apesar de fornecerem uma formação mais específica, apresentam possibilidades para que profissionais e graduados, que não são exatamente da área de geo, passem a atuar neste mercado que está em nítida ascensão.
As informações contidas nesta matéria são fruto de pesquisas e entrevistas, realizadas através de informações divulgadas pelas próprias instituições e por professores e coordenadores. A próxima edição da revista MundoGEO irá abordar os cursos da região Sudeste. Se você é aluno, docente, profissional ou interessado pela área de geoinformação, nos ajude a mapear os cursos de geo no Brasil. Envie suas dúvidas, comentários e sugestões de temas, cursos e instituições para redacao@mundogeo.com ou jornalismo@mundogeo.com.