De passagem pelo Rio de Janeiro, onde participou do seminário de geoquímica que reuniu pesquisadores da CPRM que atuam no programa de geoquímica da instituição em todo o Brasil, o chefe do Departamento de Geologia, Reginaldo Alves dos Santos explicou como será a estratégia de integração de dados geológicos, aerogeofísicos e geoquímicos, que visa tornar os produtos de cartografia geológica mais focados na descoberta de depósitos minerais.
Além disso, segundo ele, a meta é reduzir o prazo para entrega de produtos de cartografia geológica, com a disponibilização, no prazo de um ano, de mapas intermediários (Mapas Geológicos Preliminares), e elaboração de Mapas de Integração Geofísica-Geológica, para agregar valor aos levantamentos aerogeofísicos de alta resolução recentemente executados pela CPRM em grande parte do território nacional.
O geólogo adiantou que essa estratégia já começou a ser utilizada em projetos-piloto de cartografia geológica na Bahia, Tocantins, Pará, Amazonas, Minas Gerais, Piauí e Mato Grosso do Sul. “Os primeiros estudos serão concluídos em agosto deste ano”, disse. Santos destaca que 22% do território brasileiro já está mapeado com “geologia de qualidade”, nas escalas 1:250.000 e 1:100.000, e que a integração de dados busca alavancar investimentos em pesquisa mineral, na medida em que busca delimitar áreas potencias para mineração.
Segundo o geólogo, cerca de 90% do território nacional (embasamento cristalino) já estão levantados com aerogeofísica de alta resolução (magnetometria e gamaespectrometria), com espaçamento de 500 metros entre as linhas de voo. “Acreditamos que a interpretação desses levantamentos aerogeofísicos, integrados com os dados geológicos de projetos anteriores e atuais, pode gerar produtos no curto prazo, principalmente na Amazônia”, avalia.
Confira a entrevista:
Informe: Na prática como será essa integração de dados geológicos, aerogeofísicos e geoquímicos?
Reginaldo Alves dos Santos: Essa integração vai permitir a elaboração de mapas geológicos em menos tempo, e com maior objetividade. Na média, em dois anos vamos concluir dois produtos em nossos projetos de levantamento geológico. O trabalho será feito em duas etapas: no primeiro ano do projeto será elaborado um Mapa Geológico Preliminar, essencialmente factual, onde estarão incluídos todos os dados do campo e as análises petrográficas, após integração de trabalhos anteriores com a interpretação de imagens dos diversos sensores remotos e da aerogeofísica. Assim, já teremos, após um ano, um mapa intermediário com legenda expandida, a ser disponibilizado ao público. O segundo ano do projeto inclui a parte mais interpretativa, com as análises químicas de rocha e as análises geocronológicas, concluindo-se com o mapa final e o texto explicativo.
Informe: Quando e onde começa esse trabalho?
Santos: Já iniciamos uma série de projetos- piloto em diversos estados, entre eles Tocantins, Bahia, Piauí, Pará, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul. Eles foram iniciados em agosto do ano passado, e os primeiros produtos serão concluídos em agosto deste ano, quando teremos mapas preliminares disponibilizados para consulta no Geobank.
Informe: Essa mesma metodologia será usada na Amazônia?
Santos: Sim, porém terão prioridade na Amazônia os mapas de integração geofísica-geológica, na escala 1:250.000. Nós temos hoje cerca de 90% do território nacional (embasamento cristalino) levantados com aerogeofísica de alta resolução. Então acreditamos que, para agregar valor a esses levantamentos a curto prazo, a melhor estratégia é a interpretação desses levantamentos aerogeofísicos integrados com dados de fotointerpretação e de projetos anteriores, e com atividades de campo concentradas apenas em cheques de anomalias. Os mapas resultantes serão disponibilizados no prazo máximo de um ano, e servirão para planejamento e seleção de áreas para novos projetos de cartografia geológica da CPRM. Devido às suas características, eles deverão ter boa aceitação pelos usuários da comunidade geocientífica e da indústria mineral.
Informe: Qual é a avaliação que o senhor faz do conhecimento geológico do País?
Santos: A partir de 2003, houve a retomada dos levantamentos geológicos no Brasil pelo governo, paralelamente à execução de um ambicioso programa de levantamentos aerogeofisicos. Hoje, nós temos mapas atualizados em cerca de 22% do território nacional com geologia de qualidade. As novas estratégias de integração de dados e a elaboração de novos produtos vai ajudar a disponibilização mais rápida de informações geológicas para alavancar os investimentos na área mineral. Isso é algo que queremos acelerar.
Informe: Quantos projetos de mapeamentos serão finalizados este ano?
Santos: Estamos concentrando esforços para que até o final do ano pelo menos 50 projetos estejam concluídos e disponibilizados na página da CPRM, através de seu banco de dados corporativo (Geobank). Este ano o lançamento de produtos de levantamentos geológicos deverá ser recorde.
Informe: Como estão os levantamentos geoquímicos?
Santos: Finalizamos recentemente importantes estudos geoquímicos regionais no Quadrilátero Ferrífero, em Minas Gerais, e no Rio Grande do Sul. Nosso programa de geoquímica está selecionando áreas para desenvolvimento de estudos nas principais províncias minerais brasileiras. A nossa meta é coletar cerca de 100 mil amostras de sedimentos de corrente e de concentrados de bateia, principalmente na Província da Borborema, nordeste do Brasil, e também em Tocantins, no norte da Bahia, no oeste de Minas Gerais e na região amazônica.
Informe: Como a CPRM está preparando os geólogos da empresa para enfrentar esse desafio?
Santos: Reativamos o Centro Integrado de Estudos Geológicos (CIEG) de Morro do Chapéu, na Bahia, para reciclar e capacitar nossos profissionais. Os geólogos que já estão na empresa estão passando por uma reciclagem de conhecimentos, inicialmente focados em cartografia geológica. Quanto aos novos geólogos que vão chegar com o novo concurso público – 100 novos geólogos vão ser contratados para atuar no mapeamento e na pesquisa mineral -, todos irão passar por um treinamento básico. Em abril começa o segundo curso de reciclagem em mapeamento geológico no CIEG para 16 geólogos de diversas partes do Brasil, e no próximo semestre estão previstos mais dois cursos.
Informe: Que balanço o senhor faz desse seminário de geoquímica?
Santos: Esse seminário faz uma análise crítica dos procedimentos operacionais que vêm sendo utilizados neste tema, e propõe ajustes para otimização desses procedimentos. As discussões destacam a necessidade de maior integração da prospecção geoquímica com os dados de levantamentos aerogeofísicos, para agregar valor aos mapeamentos geológicos e aos estudos metalogenéticos e, consequentemente, levar à delimitação de áreas para pesquisa mineral, nossa missão principal.
Informe: Então, como vocês estão definindo as estratégias?
Santos: A estratégia principal visa o melhor tratamento de dados multidisciplinares desde o início dos projetos, para tornar mais rápidos e objetivos nossos mapeamentos geológicos, sempre com o foco na identificação e delimitação de áreas potenciais para descoberta de novos depósitos minerais. Paralelamente, formaremos grupos especializados em análise metalogenética, que atuarão especificamente na integração dos dados geológicos, geofísicos e geoquímicos em todos os projetos.
Informe: Essa integração também inclui a área de pesquisa mineral da CPRM?
Santos: Sem dúvida. Envolve principalmente uma integração entre os departamentos de Geologia e de Recursos Minerais. Mas, para que essa integração aconteça de fato, vamos unir forças para que essa relação seja consolidada desde o nível de departamento até a conscientização e motivação das equipes executoras dos projetos. Vamos trabalhar juntos e os treinamentos vão acontecer também na área de pesquisa mineral.
Fonte: CPRM
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