Pressão nas ruas pode chegar ao Geo?

Foi muito marcante, durante a realização do MundoGEO#Connect 2013, ficar hospedado a uma quadra da Avenida Paulista, durante a semana do evento que aconteceu de 18 a 20 de junho. Em paralelo aos preparativos do evento, pudemos sentir o calor das discussões que estavam provocando um clamor nunca antes visto no Brasil.

Decididamente, a crise de representatividade democrática no país estava e ainda está em cheque. Por um lado, fiquei apreensivo de que os movimentos mostrados no mundo todo, em sua maioria pacíficos, pudessem afetar a presença de público no evento, o que de fato se consumou, pois nossa expectativa de 4.000 participantes ficou reduzida a 3.540 profissionais. Mesmo assim, um excelente número. Entretanto, confesso que senti, como cidadão brasileiro, uma grande oportunidade de darmos uma virada na forma como o Brasil vem sendo conduzido.

Esta mudança ora em curso nasce inspirada em movimentos apartidários (e não anti-partidários) liderados por jovens 100% conectados e que buscam um país melhor, mais justo, em que os poderes judiciário, legislativo e executivo atendam melhor os interesses públicos e tenham mais sinergia com a população brasileira através de seus vários setores. Ela cobra que as autoridades constituídas ajam com mais competência, moralidade e honestidade e com menos corporativismo e passividade. O recado foi e ainda está sendo dado. Esperamos que os destinatários da mensagem reflitam e mudem sua postura para tratar da coisa pública.

Estes movimentos vão afetar o setor de geotecnologia?

Tenho convicção que sim. Por um lado, sabe-se que muita pressão precisa ser feita junto ao governo para que mais investimentos públicos sejam realizados na plena produção, distribuição, utilização e constante atualização das informações geoespaciais. A famosa vontade política ainda precisa ser consolidada e transformada em projetos inteligentes e viáveis, que saiam do papel. Já são décadas de acertos e desencontros dos
protagonistas envolvidos.

Na minha opinião, as entidades existentes precisam ser reinventadas sob o ponto de vista de atender as demandas do Brasil. O chamado “lobby do bem” precisa ser construído a partir da união dos interessados.

A recente e frustrada – até agora – tentativa de se criar uma agência reguladora para o setor é um exemplo da necessidade das iniciativas terem mais respaldo da comunidade. Ela, embora inspirada em objetivos relevantes, acabou sendo encaminhada para votação ao legislativo de forma muito rápida, sem a devida discussão técnica e institucional que permitisse uma melhor formatação da
sua implementação.

A reinvenção das missões dos atores existentes passa por uma autoavaliação dos objetivos destas instituições em relação ao setor de Geomática, como a Associação Nacional de Empresas de Aerolevantementos (Anea), Sociedade Brasileira de Cartografia (SBC), Associação Brasileira de Engenheiros Cartógrafos (Abec), Federação Nacional de Engenheiros Agrimensores (Fenea), etc.. Cada uma à sua maneira e velocidade, está procurando se movimentar e re-conquistar seus espaços. As Universidades também precisam acompanhar este movimento, bem como entidades históricas como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Comissão Nacional de Cartografia (Concar) e Diretoria do Serviço Geográfico do Exército (DSG). Estas últimas, precisando reorganizar suas funções, muitas vezes conflitantes entre si nos aspectos de articulação governamental, produção e normatização de dados geoespaciais.

A grande novidade, sem dúvida, é o recém criado Instituto Brasileiro de Empresas de Geomática e Soluções Geoespaciais (IBG). Com 25 associadas de diversos sub-setores do geo, a entidade nasce com uma proposta alinhada com o atual momento. Com dinamismo gerencial moderno, seu plano de ação prevê: mapear o setor produtivo e as demandas junto aos usuários; representar o setor juntos aos fóruns governamentais, propondo modernização nas atuais leis que regem o setor; participar de forma ativa na elaboração de projetos de inovação tecnológica; e buscar recursos de fomento à exportação.

Emerson Zanon GranemannEmerson Zanon Granemann

Engenheiro cartógrafo, diretor e publisher do MundoGEO

emerson@mundogeo.com